Atordoada, completamente desolada e sem conhecimento algum de meu passado. Cheguei àquele lugar completamente assustada, sem me recordar até mesmo de meu próprio nome quando cheguei. Estava rodeada de garotos, garotos que eu não queria confiar, mas...
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Eu não esperava nada disso. Já tinha notado o colar que enfeitava seu pescoço, era meio impossível não notar depois que a vi completamente nua com apenas ele em seu pescoço. Mas em nenhum desses momentos eu senti o mesmo que estou sentindo agora, uma sensação estranha, não desconhecida, mas estranha. Intercalei meu olhar entre a metade do pescoço dela e a metade em minha mão, e por um breve momento tive um vislumbre estranho.
Era o mesmo colar, mas um pouco mais claro, como se o tempo não tivesse o alcançado. E ele estava inteiro, enfeitando o pescoço de alguém com a pele branca, e algumas mechas de cabelo preto caiam sobre os ombros dessa pessoa. Que eu sabia ser uma garota, era meio óbvio que era. Mas o que isso significa? Apertei a metade do colar em minha não.
— Seu silêncio está me deixando nervosa — Ponderou dando uma risadinha baixa, que mais parecera nervosa, então estalou a língua, colocando a pedra do próprio pingente sobre a palma de sua mão — Essa pedra, um quartzo azul, simboliza a união entre dois corpos, como uma promessa de vida passada. Também ajuda com o medo. Pode parecer estranho, mas sempre que aperto ela contra meu peito, sinto um alívio percorrer meu corpo. É quase instantâneo. Talvez possa ser útil para você.
Uma promessa de vida passada.
A explicação dela ecoou na minha cabeça, e por algum motivo, eu sabia exatamente o que ela iria falar, como se eu conhecesse exatamente o que a pedra significava.
— Eu só tive uma sensação estranha — Ergo as sobrancelhas, olhando pra ela. Um leve sorriso se formou em meus lábios e eu respirei fundo, tentando não prestar atenção no sentimento estranho que continuava a me invadir. Essa é a sensação de ter um dejavú? Talvez sim. — O quartzo azul combina com você — Murmuro baixo e finalmente coloco o colar sobre o meu pescoço, a sensação angustiante se esvaindo levemente. — E não fique nervosa, fedelha. Eu gostei, só não esperando ganhar um presente, acho que é o primeiro que me lembro de ganhar. Obrigado.
— Como eu disse, não é nada demais — Sua expressão se fechara rapidamente e ela estreitou os olhos na direção da porta, parecia inquieta com alguma coisa a qual eu não tinha ideia do que se tratava —, mas eu espero que... Se sinta melhor. Vou fazer o almoço, até mais.
Atropelou as próprias palavras ao proferí-las tão rapidamente e seguiu na direção da porta, saindo rapidamente. Eu sequer tive tempo de questionar o porquê ela estava saindo, ou o porquê ela parecia tão desconfortável. Franzi o cenho e fiquei lá sentado com cara de idiota olhando pra porta. Fechei os olhos e um suspiro pesado escapou dos meus lábios.
Passei a mão pelos meus cabelos e segurei o pingente do colar com a outra mão, tentando compreender o que tinha acontecido. Tenho a sensação de já ter visto esse colar antes, em algum lugar, a muito, muito tempo. Respiro fundo, tentando buscar qualquer coisa em minhas memórias falhas mas parece inútil. Completamente inútil. Porra. Coloco a mão sobre a minha perna e aperto os olhos com força, sentindo a dor aguda que me incomodava de vez em quando, já estava quase ficando mal acostumado, a dor tem me dado uma longa trégua nos últimos dias.
