Doce encontro

2- Zephyr

O grande salão estava em euforia. Uns falavam sobre os outros, não ouvindo realmente nada do que era dito. Eu entendi que as notícias eram preocupantes, por isso reuni todos com a ajuda do Supremo Cosmocrata, que assim que recebeu meu relatório concordou que era necessário realizar essa reunião urgentemente. Novos dados do laboratório universal haviam chegado naquela semana.

Como uma espécie em constante risco de extinção nós mantínhamos atualizados nossos números populacionais na Aliança de proteção intergaláctica. Meu planeta era protegido pela API assim como muitos outros, alguns por serem primitivos, que basicamente significava que ainda não faziam viagens intergalácticas em velocidade de dobra ou não tiveram contato com espécies de fora do próprio planeta, ou como era o caso do meu: um planeta que abrigava uma espécie senciente avançada, porém em extinção.

Os Zeta, minha espécie, foram criados há alguns milhares de anos, por outras espécies que hoje já estão extintas, por isso somos considerada uma espécie nova em relação há outras que existem há bilhões de anos. Naquela época estava acontecendo um grande evento bélico, várias galáxias continham espécies que lutavam umas contra as outras. Na galáxia de onde vieram as espécies que formaram meu povo por exemplo, houveram disputas que chegaram a fragmentar planetas e até um sistema solar parcialmente.

Alguns exemplares se uniram para formar o Tratado Universal de Interação interespécies, ou só tratado. Esse grupo uniu esforços para acabar primariamente com os conflitos violentos, em seguida cuidando para não haver usurpações, abduções, contrabando de espécies entre outros crimes que resultavam em incidentes diplomáticos. Esses esforços infelizmente levaram uma centena de anos para surtirem efeito, e foi preciso criarem uma espécie de vanguarda, para serem como super soldados, que fizessem as espécies parar de se matarem. Nesse interim, quando a paz foi relativamente estabelecida, a aliança começou o extenso trabalho de recuperação de espécies, e sugeriram então que já que a espécie de vanguarda tinha dado tão certo, que criassem subespécies como banco genético para não se perder de todo as espécies com risco de extinção.

Três espécies em específico que não compunham de indivíduos suficientes para se reerguerem disponibilizaram seus materiais genéticos e cientistas de vários planetas começaram extensos estudos e testes para conseguirem criar espécies com combinações aceitáveis das doadoras. Não foi o período mais glorioso da história, muitas abominações aconteceram nesse período e quando já quase não haviam esperanças, os primeiros Zeta foram criados.

Minha espécie é de base carbono, e soma três espécies em nosso mapa genético: Carbozianos, Gallatrons e Stell. Os carbozianos segundo os registros eram uma espécie de ave, deles herdamos os traços esguios, a cor e as penas nos ombros e pescoço. Dos Gallatrons herdamos as habilidades científicas e facilidade para sentir as emoções de outros além de as manipular. Dos Stell vieram nossas marcas na pele que lembram escarificações, nosso porte atlético e sistema digestório capaz de consumir alimentos que para outros seriam extremamente duros ou até ficar em jejum por longos períodos caso necessário.

As três espécies extintas criaram um consenso de quais traquejos sociais, regras de convivência e cultura deveríamos ter, e foram ensinando nossos primeiros exemplares. Uma das características mais notáveis que eles imprimiram em nosso código genético foi a possibilidade de pareamento com qualquer ser de base carbono, e capacidade regenerativa quando houvessem combinações de DNA entre espécies que não fossem compatíveis com a nossa. Então nossa espécie é vivípara, nossas fêmeas levam os filhotes dentro delas até o fim da gestação e dão à luz filhotes vivos, e completamente prontos. Nossos bebes, andam poucos meses após o nascimento e obtém a primeira dentição apenas algumas semanas depois de nascidos. Possuem muita força em suas mandíbulas para poderem se alimentar corretamente do alimento previamente digerido pelos pais (outra herança carboziana).