Sobriedade

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Olá, você ligou para a Maria, eu sei que sempre fico com o celular na mão, mas se eu não atendi é porque eu estou realmente ocupada, então deixe seu recado e eu te ligo de volta, ou te mando mensagem, quem faz ligação hoje em dia?

Mesmo que eu tenha lotado a sua caixa de mensagens eu ainda ligo para ela todos os dias, toda hora, só para ouvir a voz dela, a risadinha que ela dá no final da mensagem, eu simplesmente não aguento mais isso.

Tomo um banho, visto roupas limpas, estou a não sei quantos dias bebendo e sem ir ao bar, mesmo não me sentindo bem pela quantidade de álcool que eu ingeri e pela falta do mesmo, vou novamente até a delegacia, ia até lá mesmo bêbado, e hoje estou mais ou menos sóbrio então aqui estou eu.

— 7 semanas. — digo quando chego na mesa dele.

— Você não está fedendo a bebida desta vez. — responde ele.

— Alguma novidade, Bloomgate? — pergunto e ele respira fundo.

— Não posso discutir assuntos policiais e de investigação com civis.

— O quê?

— Se nos der licença, Phil, temos trabalho a fazer.

— Alan.

— Phil, saia. Por favor. — ele pede e eu me viro saindo da delegacia.

Todos os dias que eu vim aqui, Alan sempre me disse exatamente a mesma coisa "Phil, estamos fazendo o possível para encontrá-la", ele nunca disse nada diferente disso. Por isso já brigamos inúmeras vezes, perdia a cabeça, ele me ameaçava dizendo que ia me prender até eu me acalmar, mas hoje ele disse isso. Muito estranho.

Vou até o hotel falar com o hacker, mas ele não está, bato na porta e ele não abre, a senhora Walter disse que ele saiu hoje bem cedo. O que está acontecendo?

Então decidi ir até o Rainbow Café falar com a minha irmã. Não demoro muito para chegar, vejo as mesas ao lado de fora e alguns pessoas ali, entro e vou até o balcão.

— Um café preto sem açúcar, por favor? — peço e Jessy se vira e sorri surpresa em me ver.

— Phil! — ela me abraça por cima do balcão. — Que bom te ver aqui!

— Oi, maninha.

— Você parece bem.

— Obrigado, eu acho. — dou risada e me sento na banqueta enquanto Jessy prepara meu café.

— Como você está?

— Vazio. — respondo.

— Phil...

— Jessy...

— Também sinto falta dela. Ela se tornou minha melhor amiga, e me sinto mal todos os dias por acordar e viver minha vida enquanto ela está desaparecida. — diz ela deixando uma xícara bem quente de café na minha frente.

— Ela foi levada. Eu estava lá e não fiz nada.

— Não foi culpa sua, você levou um tiro. — responde ela fungando e apontando para meu braço.

— Então porque eu não consigo parar de me sentir culpado?

— Também me sinto culpada. Ela precisava de ajuda e eu não estava por perto, eu nem sabia o que estava acontecendo, Phil e ela morava comigo.

— Mora. Ela ainda mora com você, só não neste momento.

— Sim, ela mora comigo.

— Sabe de alguma coisa? O hacker não estava no hotel hoje, a polícia estava estranha, o Alan sempre dá uma desculpa quando vou lá, mas hoje ele só — dou de ombros mesmo doendo — Eu não sei...

— Eu não estou sabendo de nada, Phil. Lamento. Você acha que ela está bem?

— Eu espero que sim, tento pensar que sim. A primeira garota por sinto alguma coisa, por quem me apaixono, precisava de mim e eu não fiz nada...

— Phil, não se sinta assim, por favor, você fez o que podia. Se pudéssemos fazer mais, faríamos.

— Eu só não quero que ela pense que eu desisti dela, quando ela voltar.

— Ela não vai pensar isso. — Jessy segura minha mão e sorri mesmo que seus olhos estejam cheios de lágrimas.

Depois de tomar meu café e conversa um pouco com minha irmã, vou para o bar, mesmo eu não vindo mais aqui, confiei nos meus funcionários para continuarem e sei que está tudo certo, o Aurora está limpo, com as cadeiras para cima. Eu abaixo uma e me sento em uma mesa olhando para fora vendo algumas pessoas passar.

Não sei quanto tempo fico nessa posição, apenas observando, tentando não pensar em nada, até que a porta dos fundos se abre e Nathan entra por ela.

— Fala aí, chefe! — diz ele animado. — Que bom te ver aqui. — ele abaixa a cadeira da frente e se senta.

— Oi, Nate.

— Você está sóbrio?

— Por enquanto sim.

— Vai ficar por aqui hoje?

— Eu não sei ainda.

— No que está pensando?

— No que você acha? — pergunto e Nathan cruza as mãos em cima da mesa e abaixa a cabeça comprimindo os lábios.

— Eu sei em quem, mas fale em voz alta, talvez isso ajude em alguma coisa. — ele dá de ombros.

— Não consigo para de pensar que a cada dia que passa ela está mais tempo longe do que o tempo que passamos juntos, e eu me arrependo todo santo dia de não ter ficado com ela desde o dia em que ela pisou neste bar. Se tivesse dedicado mais tempo a ela, ela não teria sido pega, ninguém ia tirar ela de mim.

— Phil, não foi culpa sua...

— Não diga isso — dou um soco na mesa e aponto com o dedo indicador pra ele — Não se atreva a dizer isso, eu estou de saco cheio de todos dizendo isso pra mim, porra — grito e me levanto pegando a cadeira e jogando através do balcão, batendo em uma prateleira cheia de bebidas que quebram, o líquido e os cacos de vidro caindo no chão.

— Desculpe — diz Nathan em pé olhando da merda que eu fiz pra mim.

— Me desculpe, Nate... — digo pressionando meu ombro que começou a doer por bater na mesa e por jogar a cadeira com força. — Eu só...

— Não precisa se justificar. — Nate sai e vai até a porta lateral pegando o balde e alguns panos para limpar a bagunça.

Vou para meu escritório e começo a ver as finanças com a porta fechada, tentando pensar em outras coisas e não destruir mais nada. Não sinto mais tanta empolgação em relação a abrir um Aurora em outro lugar, na verdade, não sinto vontade de fazer mais nada e minha cabeça começa a doer por querer beber. Mas não faço isso e apenas me concentro no trabalho.

Quebrados - (versão do Phil) Onde histórias criam vida. Descubra agora