Mensagens de voz

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Acordo no chão da sala, já se passaram mais quatro dias e ainda estou aqui bebendo, não fui mais para o Aurora desde aquele dia em que fiquei bebado e garanti permanecer neste estado para não pensar, não sentir.

Uma memória de dois dias atrás me vem a mente quando Nathan veio aqui e me fez tentar parar de beber e eu joguei a garrafa no meio da tv a quebrando, olho para cima e ainda está lá quebrada.

Mesmo bebado e sem ir trabalhar ainda vou na delegacia todos os dias verificar o andamento, eles me olham com pena, parece até que já desistiram dela e nem aquele maldito hacker consegue achá-la.

Organizaram um tipo de vigília, com velas, flores, fotos da Maria, como se ela já estivesse morta, disseram que era possível que o sequestrador aparecesse por ela, mas é óbvio que ele não apareceu, e se ele veio, ninguém viu.

Me sento no sofá a garrafa ao lado já não está mais cheio do líquido marrom que desde queimando pela minha garganta, está vazia. Começo a pensar em Maria, já que o álcool está deixando meu corpo e estou ficando sóbrio de novo.

O último dia que eu a vi, ela estava tão linda, os cabelos longos castanho escuro estava ondulado, ela saiu usando minha camiseta, daria qualquer coisa pra vê-la de novo. Alcanço meu celular que está próximo da garrafa, sei que ela não vai atender mas disco o número dela.

Olá, você ligou para a Maria, eu sei que sempre fico com o celular na mão, mas se eu não atendi é porque eu estou realmente ocupada, então deixe seu recado e eu te ligo de volta, ou te mando mensagem, quem faz ligação hoje em dia?

Desligo e começo a chorar, saudade é uma das piores sensações que existem, o fato dela ter sido levada é uma sensação angustiante, desesperadora, e depois que ela entrou na minha vida o vazio que ela deixou não será preenchido por absolutamente nada.

Dói não saber onde ela está, dói essa incerteza, ela está morta? Está viva? O que aquele filho de uma puta está fazendo com ela? Onde ela está caralho? Ligo de novo e de novo para ouvir sua voz animada do outro lado, ouço sua respiração, sua risada, seu tom de humor. Repito a mensagem não sei quantas vezes...

Olá, você ligou para a Maria, eu sei que sempre fico com o celular na mão, mas se eu não atendi é porque eu estou realmente ocupada, então deixe seu recado e eu te ligo de volta, ou te mando mensagem, quem faz ligação hoje em dia?

— Oi, amor. Sou eu o Phil. Sei que você não está ouvindo isso, mas eu só queria dizer que estou com saudade. No momento, você está desaparecida a mais tempo do que estamos juntos. E eu não estou bem, provavelmente você deve estar pior do que eu, mas percebi que não consigo mais viver sem você. Engraçado, não é? Poucas semanas atrás eu nem sabia que você existia e agora eu não consigo nem respirar direito sem você. Seja lá onde estiver, espero que esteja bem. E eu vou estar aqui te esperando quando voltar.

Desligo o celular, me levanto, tomo banho me troco mas não saio, ao invés disso vou até o armário de bebidas pegando outra, abro e começo a tomar.

Quando já está escurecendo de novo, ainda não estou bêbado suficiente, então pego o celular e de novo ligo para ela caindo direto na caixa postal, ouvir a voz dela, lembrar dela, dói.

Você é uma mulher incrível, sabia disso, né? Você me tirou da cadeia, você achou a Hannah, descobriu o que aconteceu com a filha do Hanson, enquanto eu estou aqui bebendo, não consigo fazer nem um porcento do que você fez pra te ajudar. Eu não sei o que fazer, Maria... me sinto um merda, se eu tivesse sumido tenho certeza de que você me encontraria. Só que você não sumiu, alguém te levou, alguém te levou de mim, eu queria ter feito algo, eu tentei me levantar, mas a dor do tiro estava forte demais, Maria, eu sinto muito, eu sinto muito mesmo.

— Oi, sou eu de novo, estava aqui pensando na primeira vez que trocamos mensagens, eu flertei um pouco e você retribuiu, eu fui sincero sobre a Hannah e isso não fez você se afastar. Depois quando te vi pela primeira vez arrumando confusão no meu bar, ah probleminha como sinto sua falta...

— Phil, aqui, de novo, onde você está?

— Seja lá onde estiver, não desista, lute, sei que você é forte pra caralho, não desista, probleminha, você vai voltar.

— Eu saí correndo na floresta hoje igual um idiota, eu não sei o que fazer, na minha cabeça fazia sentido você estar lá, mas provavelmente não está, eu não sei onde você está...

— Porra como você pode ter algum interesse em mim eu sou um merda, não consigo deixar de estar bêbado.

— Desculpa pelas mensagens onde pareço ter pena de mim mesmo, eu juro que não sou assim.

— Eu sonhei com você esta noite, no sonho estávamos na minha cama de novo, você usando minha camiseta que fica larga em você e uma samba-canção, eu tinha dito alguma coisa que te fez rir e sua gargalhada me fez rir também e eu senti naquele momento que eu era verdadeiramente feliz, queria morar dentro daquele sonho.

— Jessy veio aqui hoje, ela não trouxe as bebidas que pedi pra ela trazer do bar, pelo contrário, ela me deu um sermão e disse que além da casa eu também estou fedendo e me mandou tomar banho e parar de beber, mas só fiz uma dessas coisas então se acha que estou bebado agora, está certa! Ela chorou bastante e eu tentei a consolar, mas em certo momento perdi a paciência e nós brigamos e ela foi embora. Não se preocupe, vamos fazer as pazes.

— Hoje foi dia de Nate vir aqui, e diferente de Jessy, ele sim é meu amigo, ele trouxe o whisky que eu pedi, mas também me deu uma bronca e então eu mandei ele ir embora, joguei a garrafa nele, mas errei e se quebrou ao lado da porta e agora está cheio de cacos de vidro no chão.

— Eu cortei minha mão limpando os cacos de vidro, mas estou bem, o meu ombro quase não dói mais, nem estou usando aquela porcaria de tipoia.

— Eu não sei o que fazer... me diga o que fazer, por favor? Como você conseguiu fazer isso? Eu não faço ideia nem por onde começar...

— Maria...

— No dia em que você saiu daqui com minha roupa, você deixou sua camiseta aqui, eu encontrei ela e tem o seu cheiro... a saudade de você me dá dores físicas no corpo todo, eu nem sabia que isso era possível...

— Você não sabe disso, mas eu sei desenhar, desenho muito bem, desenhei vários dos desenhos que tenho tatuado, e desenhei você hoje, seus olhos marcantes e sei lá, talvez eu tatue em alguma parte do meu corpo, é só uma ideia...

— Eu queria que estivesse aqui agora.

— Volte pra mim, probleminha, por favor...

— Estou sóbrio, depois de não sei quanto tempo, estou totalmente sóbrio, todo o meu corpo dói, amor, por sentir sua falta, por culpa de você ter sido levada, por não conseguir fazer nada a não ser esperar. E não importa quanto tempo vai passar, eu vou esperar você, Maria.

— Maria... probleminha... eu amo você...

Tento ligar de novo, mas uma mensagem automática diz que a caixa postal já está lotada, então decido beber de novo.

Quebrados - (versão do Phil) Onde histórias criam vida. Descubra agora