A verdadeira face

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Boa leitura!

* ~ * ~ *

Quando chegou segunda feira tive que ir trabalhar. Logo cedo, tomamos um café e nos despedimos, e você voltou para sua casa, precisava arrumar algumas coisas. Aliás, arrumar tudo, limpar a bagunça que tinha ficado para trás.

Já eu, segui para o escritório um pouco curioso para saber como Luka estaria por aquela manhã, apesar de já ter uma ideia.

E não muito diferente do que eu havia imaginado, o Coiffaine adentrou ao departamento com café em uma das mãos, sorrindo e fazendo piadinhas com os demais como sempre.

Bom, naquela ocasião, ele parecia estar muito mais solto e muito mais infame.

Como você mesma havia dito, não restava ali nenhum pingo de remorço ou gratidão. A separação de você dois aparentava não ter sido nada para ele e você estava mais do que certa, de ter se livrado dessa merda toda.

Sentado na frente do meu computador, respirei fundo, voltando ao meu trabalho habitual enquanto que ignorava o papo daquela gente.

Risadas, conversas, ele indo para sala da Chloé e voltando com a roupa amarrotada, era uma festa disfarçada de trabalho.

Claro que, nunca me julgaria superior do que ninguém ali, mas não entendia como esse povo conseguia se manter concentrado ao mesmo tempo que não davam a mínima.

Por fim, chegou um momento que eu precisava relaxar um pouco, lavar o rosto e pegar mais café preto. Era o que me mantinha com a cabeça no lugar.

Segui direto para o banheiro, abri a torneira e lavei as mãos quando Luka saiu de uma das cabines.

Ele caminhou em silêncio ficando duas pias distante de mim, eu não mantive contato visual. Lavei meu rosto, sequei as mãos, só que no momento que estava prestes a sair, o ouvi me chamando.

Me virei para encara-lo com a mesma feição séria que mantinha todos os dias. Principalmente para aquele bastardo.

- Tenho uma parada pra falar contigo.

- E o que seria?

- Quero apenas confirmar uma coisa da minha cabeça.  - ele me olhava firme, com cara de poucos amigos, eu estava na mesma. - Eu me separei da Marinette nesse final de semana.

- É mesmo? E o que eu tenho haver com isso?

Na verdade, eu tinha tudo a haver. Aquele puto só não sabia o quanto. Mas pela cara que estava me fazendo, acho que começava a suspeitar de alguma coisa. Tarde demais, idiota.

- Pois é Agreste. Você não tem nada haver com isso ou não deveria ter, só que eu fiquei pensando que desde a festa do aniversário da Chloé, a Marinette tava estranha. Ela acabou sabendo que eu, bem...estava meio que pulando a cerca.

A última frase saiu como se fosse um deboche. Era um teste para a minha paciência. Ele estava pedindo para que eu fosse enérgico. E quem sabe, eu seria mesmo.

- E qual é o seu ponto?

- Eu tenho quase certeza de que ela viu alguma coisa ou você mesmo contou, pode ter confirmado também, já que ficou conversando com ela não é? Até recebeu uma grana por isso.

É mesmo. A gente conversou, se beijou e quase fodemos naquela porra de festa. Só não tivemos estômago para transar ali no meio daquela lama, porque a gente era muito melhor do que uma trepada num lugar qualquer.

Agora eu também não deixaria que ficasse pensando nessa bosta, não poderia suspeitar o que tinha acontecido com nós dois, o que estava acontecendo exatamente. Então eu me aproximei, assim como ele o fez.

Tive que me segurar muito para não virar a cara daquele filho da puta no soco,  eu não poderia por tudo a perder. Brigar com ele bem ali, seria a comprovação perfeita do que ele mesmo estava sugerindo.

- Se você acha que eu falei alguma coisa, prova, mas pode ter certeza que não. Até porque seus problemas pessoais não me interessam num um pouco. Assim como a Marinette, e nem ninguém desse lugar. Eu tô pouco me fodendo pra todos vocês.

Ele me encarou por mais um momento, até soltar uma risada baixa.

- Ta certo Agreste, não tenho mesmo como provar nada. Tudo bem.

O vi caminhar até o espelho ajeitando a gravata e os cabelos. Podia sentir meu sangue ferver. Era só mais uma palavra errada, que eu iria cometer uma loucura.

- E se quer saber de uma coisa? Foi bom ela ter descoberto de uma vez. Eu já não aguentava mais ficar casado com uma mulher que dependia cem por cento de mim. É por isso que eu acho que você contou, porque a Marinette sendo a boba que eu conheço, não descobriu sozinha.

Meus olhos se fecharam por um instante.

Eu não queria só dar uma porrada nesse cuzão, eu queria acabar com a raça dele, queria quebrar aquela cabeça na porra da pia.

O meu corpo inteiro enrijeceu. Eu iria fazer aquele cara te respeitar nem que eu tivesse que perder meu emprego, a minha dignidade.

Soltei o ar pela boca, já estava no meu limite, mas em meio ao transtorno da minha mente tive um momento lúcido.

Bater naquele desgraçado não iria resolver nada. Ele ainda por cima, sairia como certo e eu poderia colocar muita coisa a perder.

Eu não iria sujar as minhas mãos. Existiam outras formas muito melhores de detonar com o otário.

- Eu tenho que te agradecer por ter contato à ela, caso tenha feito. Me livrou de uma sangue suga que só sabia gastar o meu dinheiro. - ele se aproximou de mim, sorrindo. Eu o olhei pelo canto dos olhos, dando por fim um sorriso cheio de desprezo. Estava apenas controlando o resto de sanidade que ainda existia dentro de mim.

- Que se foda. Eu não ligo a mínima.

Saí do banheiro, sabendo que ele estava rindo, achando muito engraçado tudo aquilo. E poderia também achar que tinha saído por cima, mas não estava nem perto disso.

Eu quem deveria agradecer por ter me entregue de bandeja uma mulher que ele não voltaria a encontrar nunca mais naquela vida de merda.

Agora já era mais do que pessoal, já havia se tornado uma verdade. O meu ego necessitava esfregar na cara desse babaca o quanto estávamos numa situação melhor. Ele não iria rir por último.

Tava tão puto que não iria conseguir voltar ao trabalho, não antes de extravasar. Caminhei com o semblante fechado dentre as pessoas, ouvindo algumas me chamando. Não iria parar para ninguém até que abri a porta do acesso às escadas de emergência, caminhando dois passos lentamente, antes de dar um soco na parede.

Senti minha pele arder e os ossos dos meus dedos travarem. Uma dor que não me fazia cócegas. Eu não iria ter clemência.

Esse infeliz iria se foder na minha mão.

Sonho ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora