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Era a grande corrida de Mônaco, e eu não estava com um bom pressentimento.

Apesar de toda a brincadeira da "maldição de Mônaco", meus nervos sempre ficavam a flor da pele nesse circuito.
Eu não deixei de acompanhar as corridas, muito menos Charles. A distância afetou tudo o que podia, exceto o meu antigo hábito de torcer por ele em tudo.

E ele estava indo bem, muito bem... Coisa que eu sempre quis, e isso me fez pensar que eu tinha feito a coisa certa. Ele estava no caminho certo, no futuro certo, fazendo o que ele sempre quis fazer.

Mas no fundo, eu sabia que não tinha feito tão certo assim.

Caminho pelo paddock com Jenna, minha melhor amiga de anos, que comentava sobre as fofocas que rolavam ali com animação. Eu ainda estava chocada demais para comentar sobre qualquer coisa, depois que ela me contou o caso que estava tendo com Carlos Sainz.

— Carlos, Jenna, é sério isso? — Eu perguntei.

— Sim, ué. Qual o problema? — Ela rebatou.

— Nenhum, é que ele não é exatamente um cara de compromisso. — Respondi.

— É, eu sei disso. Mas não é nada sério.

Dou de ombros, a vida amorosa de Jenna é tão imprescindível quanto a minha, se é que eu tenho alguma.

Escutei Jenna tagarelar tão atentamente, que mal reparei que agora estavamos em frente a garagem dos pilotos da Ferrari. Um calafrio percorreu a minha espinha quando Jenna correu na direção de Carlos, e lá estava ele do lado.

— Jen! — Eu gritei para impedir que ela chamasse tanta atenção, mas ela já estava longe demais.

E foi nesse momento em que ele me viu, ao olhar na direção de onde Jenna correu. Todos ali perto prestavam atenção neles, Jenna abraçando Carlos enquanto ele acariciava a parte de trás da sua cabeça. Prestavam atenção na demonstração de afeto nada usual de Carlos com uma garota que ninguém desconfiava.

Todos os olhos estavam neles, mas eu sentia um olhar em específico a queimar sobre a minha pele. O dele. Não sabia dizer o que ele tinha: se era surpresa ou decepção, ou talvez algo a mais.

Mas era como se aquele tumulto na garagem não estivesse acontecendo, era apenas eu e ele, numa troca de olhares que parecia não acabar.

Eu fui a primeira a enfraquecer quando as memórias tomaram conta dos meus pensamentos, senti vergonha e quis me esconder. E foi quando os flashs saíram de Jenna e Carlos e migraram para mim. Era óbvio, eu tinha sumido por meses da mídia, e deveria ter imaginado como reagiriam com a queridinha atual de Paris. A sequência de luzes irritou os meus olhos e me fez sentir o pânico subir pela garganta, uma série de sensações de desconforto desde o olhar penetrante.

Eu fingi costume, sorri levemente, e pedi licença para sair dali. E foi quando eu tomei uma das decisões mais idiotas do dia.

Eu entrei na garagem a procura da primeira sala vazia que encontrasse, com o pânico enviesado em cada parte do meu ser naquele momento. Obviamente, não tinha sala vazia e a maioria estavam trancadas. E ali estava eu, presa em um corredor e sem maneiras de sair a não ser pelo lugar onde eu entrei.

Passo a mão pelos cabelos e prendo a respiração quando escuto passos. Não posso chorar, mas o desespero martela no peito a cada segundo que passa, e sinto que vou desabar no momento em que ouvir sua voz. Me recuso a olhar para o início do corredor.

— Por que você veio? — Como eu temia, era ele, com o tom de petulância que eu bem conhecia.

— Porque sim. — Respondi, soltando o ar e me virando para ele.

✦ 𝐏𝐑𝐄𝐃𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐀𝐃𝐎𝐒. - Charles Leclerc. Onde histórias criam vida. Descubra agora