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17 de julho, 2015.

Adeline fechou os olhos com força, sentindo o aperto em seu peito capaz de dilacerar cada parte de si.

Charles estava em seu quarto, com o rosto em completo choque, em estado de realização.

Jules havia falecido, e não havia outro pensamento capaz de bloquear a terrível notícia.

O amigo mais velho estava em coma há nove meses, e tudo o que os garotos mais tinham era a esperança de que ele fosse ficar bem.

Addie puxa Charles para um abraço, ambos destruídos, mas Addie sabia quem Jules era para ele.

Charles chora em silêncio, agarrado à ela, como se fosse quebrar em mil pedaços.

Mas eles tinham que enfrentar isso juntos.

A semana conturbada depois do seu velório na França foi uma carga quase impossível de suportar. Destruía Adeline ver Charles daquele jeito, encarando o túmulo do amigo de volta em Mônaco.

Eles se sentam no chão, e espalham as flores brancas ao longo do gramado úmido.

— Ele vai estar com a gente. — Addie sussurra, tentando convencer a si mesma disso.

Charles assente, deitando a cabeça no ombro da amiga, e tentando ser forte pelos dois.

Ele tinha ela, e isso tornava tudo mais fácil de se suportar, mesmo isso sendo a última coisa que ele gostaria de ter que enfrentar agora.

Leclerc's pov.

Eu vago o olhar pelo quarto, com nervosismo, sem encontrá-la do meu lado na cama. O abajur laranja é tudo o que ilumina o grande espaço, eu continuo procurando por ela.

— Charles? — A voz dela soa, e ela coloca o rosto para fora do banheiro.

As ondas do seu cabelo vermelho balançam, e os seus olhos verdes ficam brilhando na luz laranja.

Meu coração começa a se acalmar.

Ela se aproxima, vestindo a minha camisa, grande demais nela. Sentando-se do meu lado na cama, ela acaricia o meu rosto, notando a minha inquietação.

— Pensei que não estava mais aqui. — Falo.

Os olhos dela ficam tristes, e ela me empurra de volta para a cama, deitando do meu lado.

— Não vou embora, Charles. Não se preocupe. — Ela fala.

Pelo jeito que ela disse o meu nome, percebo o quão desapontada ela está. Não comigo, mas consigo mesma.

É assim que eu sei que sua intenção não era me magoar.

Nada do que ela fez foi com a intenção de me deixar triste, e agora nós dois estamos pagando o preço por isso.

Ela por ter ido embora, e eu por ter deixado.

Eu sabia que poderia ir atrás dela. Addie cederia, e eu tinha certeza que sim. Mas eu fui covarde, eu a deixei ir sem saber o real motivo.

Eu a deixei ir sabendo que ela estaria vulnerável. E eu nem imaginava que ela estava vulnerável meses antes.

Agora eu não tenho certeza de nada, mas sei que não posso ficar mais do que um segundo sem ela.

A aperto em meus braços, sentindo cada parte de mim arder por ela. Esse era o conforto de tê-la, mas ainda sim o desejo de possuí-la.

Addie estava em todo lugar e em lugar nenhum ao mesmo tempo. Era como se estivesse sempre comigo, mas ainda sim arrumava um jeito de ocupar mais espaços no meu coração.

É tudo dela para fazer o que quiser, como quiser.

Ela beija o meu rosto carinhosamente, com o seu mar de cabelos vermelhos espalhados sobre mim.

— Vai precisar de muito pra que eu vá outra vez, ouviu? — Ela me assegura.

É sempre uma surpresa ver ela assim: decidida, certeira.

Ela nunca costumava falar demais sobre o que faria, mas era pessoa que sempre cumpria com o que falava. E agora eu podia ter mais certeza sobre tudo isso.

É tudo o que eu preciso ouvir para poder pensar em tudo o que planejei para nós.

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— Passamos para dar um oi? — Addie me pergunta, assim que pisamos em Mônaco.

— Eu realmente gostaria de ver a minha mãe agora, mas acho que preciso descansar com você um pouco. — Eu abraço a cintura dela, esperando as nossas malas perto do carro.

— Tudo bem, mas você sabe que amanhã teremos que enfrentar um almoço. — Ela adverte, como se os almoços fossem uma punição.

De vez em quando, realmente eram. Pascale e Celine tinham as perguntas mais específicas e constrangedoras possíveis, e descobriam tudo o que precisavam antes mesmo de uma resposta.

Foi assim que descobriram do nosso primeiro beijo: no fundo do quintal da casa de Celine, dois dias depois do aniversário de Addie, enquanto comíamos escondidos os doces que sobraram da festa.

A lembrança me faz dar uma risada.

— Os temidos almoços. — Resmungo, beijando sua bochecha.

Ela sorri e se apoia no carro enquanto eu coloco as malas, apenas esperando que eu abra a porta para ela.

Prima le signore. — Falo, abrindo a porta do carro para ela.

— Un gentiluomo. — Ela responde com um sorrisinho.

Estou completamente apaixonado por Addie, é insano.

Ela passa o caminho inteiro sonolenta, conversando baixinho e tentando se manter acordada, e faz poucas apresentações quando chegamos em sua casa, me levando para o quarto e dormindo pesadamente sobre o meu braço.

Acaricio os seus cabelos, vermelhos como fogo, e adormeço do seu lado.

Essas foram as noites mais bem dormidas em toda a minha vida. E eu precisava garantir que todas as noites fossem assim apartir de agora.

✦ 𝐏𝐑𝐄𝐃𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐀𝐃𝐎𝐒. - Charles Leclerc. Onde histórias criam vida. Descubra agora