No dia seguinte, Rebecca mostrou seu projeto para a mais velha e Freen achou tudo incrível.
Sentindo-se encorajada, a jovem de 22 anos comentou que pensava em sair das asas do pai em breve. E se seu projeto tivesse um bom resultado, já poderia ter seu apartamento sem precisar do dinheiro do embaixador.
A morena concordou que era o natural a fazer. Então seu semblante ficou triste.
__ O que foi, Freen? Por que essa cara tão deprimida?
Coçando a nuca, a jovem mulher forçou um sorriso.
__ Ah, eu nem me dei conta de que baixei a guarda tanto assim. Não é nada não.
__ Ai, deixa disso. Por favor, me fala o que te deixou mal de repente?__ A garota de cabelo castanho insistiu.
Chankimha mordeu o canto do lábio e brincou com as mãos para lidar com sua agonia.
__ É que lembrei do meu pai. Sei que cada um vive uma experiência mas... hoje eu daria tudo para ter ele por perto. Mesmo que ele atrapalhasse minha liberdade. To sozinha no mundo faz tempo, Rebecca. O eco de um apartamento vazio é ensurdecedor. E para piorar... __ A voz da morena ficou embargada.
A designer se aproximou e acariciou o joelho da mais velha com ternura.
Havia preocupação genuína na expressão facial da mais baixa.
__ Desculpe ter insistido. Se é algo tão doloroso, não tem que me contar. Eu deveria ter me dado conta.
Freen respirou fundo e umedeceu os lábios.
__ Tá tudo bem. Acho que preciso me abrir. Faz tanto tempo que ignoro essa dor no meu peito… É que minha mãe me abandonou quando eu era criança, sabe? Largou meu pai e nem quis me levar junto. Nada pode ser mais doloroso do que ser rejeitada pela mãe.
Surpresa pela revelação, a filha do embaixador puxou delicadamente a mais velha para um abraço.
__ Sinto muito, querida. Queria poder apagar essa dor do seu peito.
Sem ter recebido afeto feminino por quase toda a vida, Freen desabou.
A única mulher mais próxima de dar algum conforto era Nam. Mas de algum modo, Rebecca a fez se sentir protegida e isso a deixou mais fragilizada pela ausência da mãe.
__ Olha, entendo que certas frases são clichês. Mas eu meio que sei como você se sente. Ao menos no sentido de crescer sem a figura materna. A minha mãe morreu quando eu era criança.
Freen piscou e algumas lágrimas se desprenderam de seus longos cílios.
A ex policial engoliu em seco e respondeu:
__ Também sinto muito, Rebecca. Mãe faz falta a todos. Acho que é pior para meninas. Eu não tive um modelo a seguir. Fui criada como um dos caras. Tudo bem que gosto de quem eu sou. Mas teria sido legal ouvir uma mãe me explicar sobre menstruação, puberdade, e tal. E olha que ela só esteve por perto até meus 6 anos. Quanta coisa eu perdi...
Rebecca levantou o queixo da mais velha delicadamente e olhou em seus olhos.
__ Quanta coisa ela perdeu, Freen! Infelizmente nem todo mundo nasceu para ser pai ou mãe. Você é uma mulher incrível! Talvez ela fosse te deixar cheia de traumas ao ficar.
__ É, talvez. Obrigada, por me dizer essas coisas, Rebecca.__ A guarda-costas fez um esforço para controlar as emoções.
A mais baixa se aproximou ainda mais e beijou a morena.
Andrew veio da varanda e não conseguiu pisar leve o bastante para refazer o caminho sem ser notado.
Chankimha se afastou da filha do chefe com embaraço. Entretanto, a bela garota sorriu sem se incomodar e falou com o rapaz:
__ Está tudo bem, Andrew. Eu confio em você. Não precisa sair de fininho toda vez que eu a beijar. Até porque pretendo fazer isso o fim de semana inteiro.
__ Rebecca!__ Freen a repreendeu.
O guarda-costas sorriu, se inclinou para fazer um cumprimento respeitoso e declarou:
__ Só queria um pouco d'água. Ficarei fazendo guarda do lado de fora sempre que possível.
Depois que ele foi para a cozinha, a morena deu um tapa na perna da mais jovem, que soltou um risinho travesso.
Mais tarde, as duas saíram para uma caminhada na praia e a jovem de 22 anos empurrou a guarda-costas no mar.
Freen a perseguiu e se vingou. Porém, ela se jogou na água junto da designer e ambas deram boas risadas.
O casal passou a tarde de chamego e Andrew precisou fazer muito esforço para não sorrir e denunciar sua empolgação por tal relacionamento.
À noite, os três jantaram juntos e a filha do embaixador se mostrou curiosa sobre o anglo-tailandês.
A mais velha observou a bela garota de cabelos castanhos interrogando o outro guarda-costas de modo animado.
Chankimha sorriu ao pensar que Heng gostaria de uma parceira de trabalho falastrona igual a Rebecca. Mas também odiaria o seu lado inquisitivo.
O trio se separou antes das dez e a ex policial disse ao rapaz que ele descansasse bem.
Freen fez questão de supervisionar os alarmes e trancas de toda a casa para que Andrew não precisasse continuar trabalhando de modo exaustivo.
Rebecca a seguiu até a cozinha e a convidou para subir.
As duas jovens de vidas opostas não conseguiam mais manter distância.
Fizeram amor por umas duas horas e dormiram agarradinhas como se seus corpos fossem colados.__ x __
Rebecca e Freen não conseguiam mais conter a paixão e tiveram que continuar a se encontrar em hotéis e nas casas das amigas da designer nos próximos dois meses porque o embaixador foi contra a ideia da filha de se mudar.
Por mais que fosse rebelde, a jovem não queria estragar a recente boa relação com o pai.
Tudo parecia bem para elas tanto no quesito pessoal quanto no professional.
A mais velha admitiu para si e para a amiga Nam que caíra de amor e que a anglo-tailandesa amadurecera bastante.
A bela jovem de 22 anos se sentia tão conectada com a ex policial que tinha dificuldade em prestar atenção em alguém além da morena quando ocupavam a mesma área.
O mundo de Rebecca caiu no dia em que o embaixador lhe pediu que o acompanhasse numa província por motivo de trabalho.
A filha foi no carro do pai junto de três homens do parlamento.
Freen seguiu no carro de trás com quatro membros do time de segurança da embaixada enquanto um terceiro carro levava os guarda-costas dos políticos.
O grupo enfrentou um longo engarrafamento e precisaram parar num posto de gasolina para averiguar o motor de um dos veículos.
Naquele calor pavoroso, todos saíram de seus carros e compraram água ou foram ao lavabo.
A jovem de 26 anos não tirava os olhos de sua garota.
Rebecca conversava com um dos parlamentares em frente ao posto quando um caminhão desgovernado bateu num carro, que foi jogado na direção dela.
Chankimha correu desvairadamente, empurrou a designer para o lado gramado e recebeu o impacto do veículo nas coxas, sendo derrubada a sete metros de distância.
O senhor Armstrong chamou uma ambulância e ordenou que seus homens não deixassem ninguém mexer na tailandesa.
Rebecca ficou paralisada num canto.
Ela não tinha coragem de averiguar se a mais velha estava consciente.
O socorro chegou em 2 minutos e seu pai a arrastou para o carro enquanto dava ordens a todo o grupo.
A garota de dupla nacionalidade não ouvia uma palavra do que diziam ao seu redor.
Seus ouvidos continuavam presos no som do baque do carro no corpo da mais velha.
Senhor Armstrong se sentou ao lado da filha única e disse frases de estímulo e conforto.
Uma vez mais, a designer não ouviu uma palavra sequer.
Aproveitando sua influência, o britânico conseguiu conversar com a equipe médica.
Quando o pai lhe assegurou de que a ex policial ia ficar bem, Rebecca declarou:
__ Quero que você a demita, daddy.
__ Huh? Enlouqueceu, Becca? Freen já salvou sua vida duas vezes.
Com um olhar decidido e o queixo levantado, a garota de cabelos castanhos replicou:
__ Não quero ninguém morrendo para salvar minha vida.
O embaixador argumentou:
__ Mas ela é a melhor! E esse é o trabalho dela.
Sacudindo a cabeça, a anglo-tailandesa quase implorou:
__ Freen não tem limites. Vive o trabalho sem medir as consequências. Por favor, papai. Arrume outro trabalho para ela longe da embaixada. Que seja em uma de suas empresas. Ou com algum de seus amigos. Pode até ser como chefe de segurança. Mas longe dos grandes perigos.
Surpreso, Senhor Armstrong afirmou:
__ Você se apaixonou por ela. Rebecca, isso tudo é para proteger a mulher que ama, não é mesmo?
Sem energia para negar, a jovem de 22 anos encarou o pai com olhos melancólicos.
__ Sim, eu amo a Freen. E não posso viver se ela se matar para me proteger.
O homem de meia-idade segurou nos ombros da herdeira e murmurou:
__ Mesmo que eu minta, ela saberá que você interferiu na carreira dela pela segunda vez. Tem certeza?
Rebecca suspirou e disse:
__ Prefiro que ela viva e me odeie do que morra me amando.
Mais uma vez, o embaixador ficou de boca aberta.
__ Quem começou isso?__ Ele perguntou após um tempo em silêncio.
Com um sorriso sarcástico, a garota respondeu:
__ Até parece que não conhece a filha que tem, Robin Armstrong.
Forçando um sorriso, o homem mais velho afirmou:
__ Apesar de não ser da sua geração, minha mente está aberta. Apenas não previ que vocês duas pudessem se apaixonar. São tão opostas... Talvez seja o fogo que consome a personalidade de ambas.
A designer riu enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.
__ Também não previ, daddy. Eu teria fugido desse sentimento se me desse conta.
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Chave the cadeia
FanfictionFreen é uma policial com uma carreira medíocre. Rebecca é a filha encrenqueira de um homem influente. Quando se conhecem, a mais jovem causa a demissão da outra. A herdeira só não imagina que seu karma virá bem rápido. Elas são como água e óleo e a...