(4) Um jantar com revelações

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Cheguei em casa e, logo de cara, meu pai estava com aquele olhar curioso e ansioso para saber como foi meu primeiro dia na escola. Antes que ele pudesse perguntar, já fui dizendo:

"Ah, pai, melhor esquecer. Sou um ser de outro planeta, não vou me adaptar nessa escola."

Ele sorriu, tentando me animar. "Ah, meu dragãozinho, não diga isso. O primeiro dia de aula é sempre difícil."

"Pai, difícil para uma pessoa normal. Para mim, é impossível."

"Filha, sua tia Adriana vai vir visitar a gente hoje. Vamos fazer um belo jantar em família."

A casa era uma herança da minha avó, um lugar grande e antigo, com um charme que só construções mais velhas têm. As paredes estavam cheias de memórias e história, algo que sempre me deu um sentimento de aconchego. O cheiro de madeira antiga e os quadros de família nas paredes criavam um ambiente acolhedor.

Minha tia Adriana é a irmã mais nova do meu pai. Uma mulher morena, de pele clara, com aquele jeito de madame, sempre perfumada e decidida. Eu nunca entendi como ela pode ser minha tia, já que sou totalmente o contrário. Meu pai era um coroa bonito, inteligente e cozinha muito bem, um homem de família. Ele usa óculos, tem a pele clara e olhos castanhos, sempre com uma aparência formal e impecável. Às vezes eu fico pensando como o casamento dos meus pais acabou. Minha mãe é uma mulher bonita, elegante e independente, mas sempre foi desligada devido à vida corrida. Uma coisa eu tenho certeza: eles ainda se amam, isso eu vejo no olhar deles, apesar de eu ainda não conhecer o amor.

Conversando com meu pai sobre vários assuntos, ajudei ele com o jantar. Decidimos fazer uma massa que era receita da família. Enquanto picava os alhos, perguntei:

"Pai, por que você e a mãe se separaram?"

Ele suspirou, visivelmente desconfortável. "Filha, não tenho uma resposta para lhe dizer, nem eu mesmo sei o que aconteceu."

"Pai, a decisão foi sua?"

"Filha, vamos conversar sobre isso outra hora, estou um pouco ocupado com os meus próximos projetos."

Ele desconversou, e eu o conheço bem. Mesmo que eu insista, vai ser impossível ele me contar. "Filha, pode deixar que eu termino com os afazeres. Vai para o quarto estudar."

Fui para o meu quarto pensar sobre tudo.

Quando a noite chegou e a hora do jantar se aproximou, minha tia Adriana chegou animada, com um perfume sofisticado que encheu a casa. Ela me cumprimentou com um abraço caloroso e me entregou um presente: um cropped cheio de lantejoulas. Nem por decreto eu vestiria aquilo, mas agradeci e guardei no meu quarto.

"Como você cresceu, Mayla! Alta e magra, você poderia ser modelo," ela disse com um brilho nos olhos.

"Tia, muito obrigada, mas eu não combino muito com essa profissão," respondi, tentando sorrir.

"Bobagem, minha linda. Com esse rostinho e esse corpo, você ganharia o mundo."

Meu pai, percebendo que eu estava incomodada, interrompeu a conversa. "E como está a vida, Adriana?"

Minha tia, com seu estilo madame e seu jeito de exibir-se, começou a falar sobre suas viagens, sua nova formação, seu namorado rico e outras coisas que achava importantes.

"Márcio," - sim, esse é o nome do meu pai - "como está aquele seu amigo milionário, o Ricardo?"

"Adriana, conversamos de vez em quando, mas ele anda meio sumido."

"Ele mora em um condomínio aqui perto, certo?"

"Sim, Adriana, mora."

"Você tem que manter contato. Quem sabe ele te ajuda com aquele problema," disse ela, dando uma piscadinha, com um olhar de quem sabe mais do que deixa transparecer.

Percebi que meu pai ficou incomodado. Sei que ele está escondendo algo de mim, e odeio quando ele me trata como criança.

"Filha, sirva o jantar, por favor," disse meu pai, tentando mudar de assunto.

"Papai, que problema é esse?" perguntei, a curiosidade me consumindo.

"Filha, não é nada demais, são apenas coisas da sua tia," respondeu ele, tentando desviar o assunto.

Um climão se instalou no ar. Após o jantar, meu pai me mandou ir dormir e ficou conversando com minha tia na sala. Fui para o meu quarto, mas a curiosidade não me deixava em paz. O que será que meu pai estava escondendo? E quem era esse tal Ricardo?

Deitada na minha cama, o quarto silencioso parecia ecoar meus pensamentos. Olhei para o teto, tentando não pensar nos olhares do pessoal da escola, nos grupos e naquele desastre do bebedouro. Minha mente vagava entre os mistérios da família e as dificuldades de ser a novata. Talvez, apenas talvez, o próximo dia fosse um pouco melhor.

Entre Funk e EspinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora