(10) Novos Começos

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Acordei com uma sensação estranha de otimismo. Talvez fossem as novas roupas, ou talvez todas as coisas malucas que tinham acontecido ultimamente. De qualquer forma, me sentia pronta para encarar mais um dia no colégio. Sai da cama e segui para o quarto da tia Adriana, batendo na porta com um pouco de hesitação pelo horário.

— Bom dia, raio de luz! — ela exclamou com um sorriso radiante, já vestida com seu habitual conjunto colorido que parecia refletir sua energia vibrante.

Meio constrangida, pedi para ela me maquiar. Adriana, animada com minha mudança de atitude, começou a me arrumar. Cortou minha franja de maneira que escondesse os pontos na testa e aplicou uma maquiagem leve que realçava meus traços sem exageros. Mostrou-me o espelho com orgulho.

— Eu sou uma artista, e você, uma obra de arte! — disse ela, piscando e girando para me mostrar a transformação.

Aproveitei sua animação e perguntei sobre a doença do meu pai.

— Mayla, eu realmente não sei, mas prometo descobrir e te contar — desviou do assunto com um sorriso enigmático. — Agora, vá e arrase corações!

Agradeci e fui até meu pai para me despedir. Ele estava visivelmente abatido, mas me deu um beijo e disse que me amava. Queria saber qual doença ele tinha e como poderia ajudar, mas em casa me tratavam como criança e não me diziam nada.

Quando cheguei à escola, percebi que estava atraindo olhares. Meu novo corte de cabelo com franja fez sucesso. Alguns meninos até começaram a puxar conversa comigo, inclusive o Caio. Carolina, claro, estava morrendo de inveja. No intervalo, fui convidada para sentar com várias meninas que antes nem notavam minha existência. Eu, a garota que sempre passou despercebida, estava me tornando popular. Ver a cara de ciúmes da Carolina foi a cereja do bolo.

Mariana também me elogiou muito e ficamos rindo das caras e bocas da Carolina.

Depois da aula, me preparei para o meu primeiro dia de trabalho. Escolhi um jeans, uma blusa branca e uma jaqueta preta. Nada muito chamativo, afinal, queria manter um ar profissional. Ao chegar na empresa, fui recebida por Carlos, ou melhor, Cacá, o coreógrafo.

Cacá estava todo animado, com um sorriso largo e uma energia contagiante. Usava uma camiseta estampada e um boné virado para trás, dando-lhe um ar descolado.

— Oi, você deve ser a Mayla! — exclamou ele com um tom brincalhão. — Se você fosse uma das dançarinas, eu pediria uma coreografia só para a entrada triunfal. Mas não se preocupe, a vida aqui já tem sua própria coreografia maluca.

Ele fez uma pausa e riu, depois continuou:

— Então, temos um lema aqui: "Se a vida te der limões, faça uma coreografia com eles!" — Cacá fez uma imitação exagerada de um passo de dança, e eu não pude evitar rir.

— Adorei a filosofia! — respondi, tentando manter a seriedade.

Cacá me levou até a Carmem, uma mulher baixinha, ruiva e de óculos, com um jeito organizado e eficiente.

— Oi, você deve ser a Mayla. Vou te mostrar suas tarefas. Você vai me ajudar com as compras, pagamentos e outras coisas administrativas — disse Carmem, enquanto me mostrava o escritório.

No meio da explicação, MC Diego apareceu cercado de gente. Ele passou por mim sem dar muita atenção, mas quando seus olhos finalmente encontraram os meus, ele sorriu. Entregou uma lista de exigências para Carmem, cheia de pedidos absurdos para o clipe: mulheres de biquíni, carros de luxo, helicópteros.

— Você cairia bem no meu clipe. Você é bem bonitinha — disse Diego.

— Funk não é minha praia — respondi, firme, tentando não demonstrar minha surpresa com a sua atenção.

Diego parecia surpreso, mas logo voltou a dar ordens para Carmem sobre as extravagâncias que queria no clipe. Carmem me mostrou o resto do escritório, que era moderno e bem iluminado, com paredes decoradas com fotos de bastidores e prêmios.

Enquanto ela explicava minhas funções, fiquei um pouco nervosa, mas determinada a fazer um bom trabalho. Quando terminei meu turno, fui para casa exausta, mas com uma sensação de realização.

Minha tia Adriana me esperava, ansiosa para saber como foi meu dia. Contei a ela sobre tudo — desde os olhares na escola até o encontro com MC Diego. Ela ficou animada e orgulhosa, principalmente por eu ter sido firme e mantido minha personalidade.

— Você está se saindo muito bem, Mayla. Tenho certeza de que vai conseguir lidar com tudo isso — disse ela, me dando um abraço acolhedor.

Fui dormir naquela noite com uma sensação de conquista. Sabia que muitos desafios ainda viriam, mas estava pronta para enfrentá-los de frente. E, quem sabe, talvez até descobrir algo novo sobre mim mesma nesse processo.

Entre Funk e EspinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora