Enquanto eu tentava dormir, no andar de baixo, minha tia Adriana e meu pai tinham uma conversa séria. O silêncio da casa estava carregado de tensão, interrompido apenas pelo murmúrio das vozes abaixo."Márcio, você tem que contar para a Mayla sobre sua doença. Ela não é mais uma criança," insistiu Adriana, sua voz carregada de preocupação e um leve tremor. A luz da sala projetava sombras longas nas paredes, criando um ambiente sombrio e carregado de emoção.
"Adriana, ela já está passando por um momento muito difícil com a separação minha e da mãe dela. Esse não é o momento certo de contar," respondeu Márcio, a exaustão clara em seu tom. O peso de suas palavras parecia ecoar pela sala.
"Entendo, Márcio, mas você poderia pedir ajuda ao Ricardo para a cirurgia. Ele sempre foi seu melhor amigo," Adriana continuou, a frustração começando a transparecer. Seu tom era firme, mas havia uma nota de desespero em sua voz.
"Adriana, eu não me sinto bem com isso. Não quero pedir ajuda a ninguém," Márcio murmurou, tentando manter a calma, mas com uma nota de desespero. Ele apertou os olhos, como se quisesse apagar a realidade de sua mente.
"Deixa de ser orgulhoso, Márcio. Você precisa dessa cirurgia," Adriana falou, com um tom misto de urgência e carinho, como se a verdade não pudesse ser mais adiada. Ela fez uma pausa, os dedos entrelaçados em um gesto de frustração.
"Eu vou arrumar um jeito de conseguir esse dinheiro. Vou conseguir fazer meu tratamento. Por favor, esqueça isso," Márcio respondeu, a exaustão visível em cada palavra. Ele se encostou na cadeira, como se a carga do mundo estivesse sobre seus ombros.
"Olha, eu vou ficar aqui uns dias ajudando a cuidar de você. Sei que não está bem. Acho muito egoísmo você não contar para ninguém, nem para sua ex-esposa, com quem foi casado por anos."
"Eu não quero que ninguém sofra," Márcio respondeu, a dor e a preocupação evidentes em sua voz. Ele cobriu o rosto com as mãos por um momento, como se tentar esconder a tristeza.
"Você é muito infantil, Márcio. Mas fiz uma coisa: procurei o Ricardo e disse que você se mudou para cá. E ele, adivinha?" Adriana contou empolgada, um brilho de esperança nos olhos. "Vai te convidar para ir à casa dele em um evento que vai fazer."
"Nossa, Adriana, você não se cansa de se meter na minha vida?" Márcio respondeu, visivelmente irritado e cansado. Ele se levantou, sua expressão fechada e os ombros tensos.
"Eu só quero o seu bem, Márcio," Adriana insistiu, tentando suavizar o tom, mas sua frustração era palpável.
"Você se separou por mero capricho. Tenho certeza de que ela iria cuidar de tudo," disse Adriana, referindo-se à ex-esposa de Márcio.
"Eu me separei porque não quero ser um fardo para ninguém," Márcio respondeu, a voz trêmula de emoção contida.
"Márcio, você tem que parar de ser orgulhoso." Adriana falou, com um tom de exasperação.
"Chega, Adriana!" Márcio exclamou, a frustração evidente em sua voz. "Vou me deitar. É muita perturbação."
Ele se retirou para o quarto, deixando a conversa em um silêncio pesado, e Adriana ficou ali, com um olhar de preocupação.
Na manhã seguinte, acordei com uma sensação de inquietação. O silêncio da casa parecia carregar um peso que eu não conseguia identificar. Meu pai estava mais cansado do que o normal, e minha tia, com seu perfume sofisticado e uma aura de protetora, estava constantemente ao seu lado. Algo estava definitivamente acontecendo, mas ninguém queria me contar. Tentei afastar esses pensamentos e me concentrar no meu segundo dia de aula, que eu esperava ser menos desastroso que o primeiro.
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Entre Funk e Espinhas
RomantizmMayla acaba de se mudar para Belo Horizonte após a separação dos pais, e a nova vida na escola é um desafio. Ela nunca imaginou que a música funk, que sempre desprezou, pudesse mudar sua perspectiva. Mas quando conhece Diego, um cantor de funk com u...