(7) Uma Noite de Revelações

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O dia passou depressa, e logo chegou a hora de me arrumar para ir à casa do amigo do meu pai. Fiquei super preocupada sobre que roupa vestir.

No meu quarto, olhando para o meu closet antigo, ainda estava desorganizado devido a mudança. As caixas e sacolas ainda estavam espalhadas, misturadas com algumas peças de roupa que ainda não tinha guardado. Escutei barulhos de madeira rangendo e vi minha tia Adriana aparecer, acompanhada de um brilho de determinação nos olhos. A decisão de pedir a ajuda dela agora parecia ser um erro.

"Menina, você tem que ir linda, né? Pensa em um lugar maravilhoso que vamos," disse ela, sua voz cheia de entusiasmo, enquanto puxava várias roupas do meu closet.

"Tia, eu quero ir o mais discreta possível. Meu jeito é esse," respondi, já sentindo a tensão aumentar. O calor do quarto parecia amplificar o desconforto que eu sentia em relação ao meu visual.

"Não, eu insisto que você coloque pelo menos um vestido," insistiu Adriana, com uma expressão que não deixava margem para discussão.

Ai, tia, não combino com vestido!

Tia Adriana insistiu e eu acabei cedendo, mas nada de salto. Minha tia escolheu um vestido preto, com um decote em V sutil, que ela mesma tinha me dado e estava escondido no fundo do meu armário. Eu o coloquei com uma sandália de salto baixo. Adriana fez uma maquiagem em mim, com um toque sutil de brilho nos olhos e um batom suave. Me senti elegante e bonita, mas ainda um pouco deslocada com toda a produção.

Estava me sentindo como uma palhaça; não estou acostumada a sair tão maquiada assim. O espelho refletia uma imagem que parecia estranha para mim, mas minha tia estava claramente satisfeita.

"Vou me arrumar, princesa, aguarde-me na sala para irmos," disse minha tia, enquanto ela se dirigia para o quarto dela.

Depois de uma demora considerável, avistei minha tia, que estava deslumbrante em um vestido colado, elegante e com um salto alto que acentuava ainda mais sua postura confiante. Meu pai também estava impecável em seu terno formal, com um olhar de determinação que ocultava o cansaço que eu percebia em seu rosto.

Saímos de casa e, para minha surpresa, minha tia decidiu ir dirigindo. Meu pai parecia aliviado por não ter que enfrentar o trânsito. A estrada estava iluminada pela luz suave do entardecer, e a cidade parecia ganhar uma nova vida com as luzes que piscavam ao longe.

"Bom, tia, acredito que onde nós vamos não vai muito com o meu estilo," comentei, tentando esconder meu nervosismo.

Todos riram, e o som de nossas risadas misturou-se ao ritmo do rádio, tocando uma música animada.

Chegamos no local e eu fiquei impressionada. A mansão à nossa frente era uma obra de arte arquitetônica. As paredes externas eram de um tom bege elegante, com janelas amplas e um jardim meticulosamente cuidado, onde as flores coloridas e os arbustos podados formavam um cenário deslumbrante. O portão de ferro forjado se abria para um caminho de pedras que levava até a entrada principal, iluminado por lanternas de design sofisticado que criavam um jogo de luzes e sombras ao longo da trilha.

Minha tia desceu do carro deslumbrada, tirando um monte de fotos enquanto meu pai e eu permanecíamos mais reservados. De longe, avistamos um homem de cerca de 45 anos, com cabelos grisalhos discretos e um sorriso acolhedor. Era Ricardo, e seu charme e simpatia eram evidentes em sua saudação calorosa.

"Olha só para você, Marcio! Não envelheceu nada, o mesmo homem sério e sistemático de sempre. Essa moça linda deve ser sua filha, e você, Adriana, cada dia mais linda. Entrem, fiquem à vontade," disse Ricardo, gesticulando para nos acompanhar para dentro da casa.

Entramos e ficamos deslumbrados com o interior. O hall de entrada tinha um piso de mármore polido, com tapetes persas luxuosos que adicionavam um toque de aconchego ao ambiente. Lustres de cristal pendiam do teto, lançando uma luz suave e brilhante que refletia nas paredes de tom creme. O ambiente estava decorado com móveis elegantes, obras de arte emolduradas e arranjos de flores frescas que preenchiam a sala com um aroma agradável.

Ricardo nos conduziu para uma sala de jantar impressionante, com uma mesa gigante de madeira rústica que parecia ter sido feita sob medida para o ambiente. O espaço estava envolto em um clima de sofisticação descontraída, com cadeiras confortáveis e uma lareira acesa que emitia um calor acolhedor.

Conversamos bastante, meu pai relembrando os velhos tempos de escola, e todos nós nos sentimos à vontade. Ricardo se revelou ser um anfitrião extremamente agradável e simpático, e a conversa fluía com naturalidade.

"Olha, Mayla, eu vou roubar seu pai e sua tia um pouquinho para uma conversa particular no meu escritório," disse Ricardo, com um tom de voz amigável, enquanto os conduzia para um cômodo reservado.

Sentindo a vontade de ser mais inclusiva e ouvir sobre o que estavam conversando, decidi segui-los e ouvir atrás da porta. Havia uma fresta pela qual eu consegui ver e ouvi-los muito bem.

O ambiente do escritório estava repleto de livros encadernados em couro e uma grande mesa de mogno, que parecia ser o centro de muitas conversas e negociações. A decoração do escritório era sóbria e elegante, com estantes de madeira escura e uma poltrona de couro confortável ao lado da mesa.

"Marcio, você está doente, né? Adriana me contou. Você deveria ter me contado," disse Ricardo, preocupado.

"Ricardo, eu não queria te incomodar com os meus problemas pessoais," respondeu Marcio, a voz cheia de hesitação.

"Me diga, Marcio, quanto você precisa para fazer seu tratamento?"

Adriana interrompeu, dizendo, "Ele é muito teimoso. Ele precisa de 10 mil reais. Os remédios são muito caros, e o plano de saúde não cobre tudo; ele precisa passar por uma cirurgia."

"Claro, vou lhe fazer a transferência," Ricardo respondeu, com um gesto de prontidão.

Marcio tentou protestar, "Eu vou lhe pagar tudo, Ricardo."

"Como você quiser, Marcio, mas não precisa se preocupar, isso é um presente, pela nossa amizade."

Então era isso, por isso meu pai estava tão estranho ultimamente. Esse era o segredo. Senti uma lágrima descer do meu olho. A revelação era como um peso em meu coração, e eu precisava sair daquele ambiente. Corri em busca de um lugar seguro para chorar.

Um empregado me parou, com uma expressão de preocupação genuína. "Está tudo bem?"

"Sim, só preciso de um pouco de ar," respondi, tentando recuperar a compostura.

Sai correndo para fora da mansão. O jardim estava iluminado por luzes suaves que criavam um ambiente encantador, mas eu estava tão angustiada que não consegui apreciar a beleza ao meu redor. De repente, quando sinto um impacto... pá! Tudo se escureceu.

Entre Funk e EspinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora