Entre Funk e Espinhas

(6) MC Diego e um convite inesperado

A casa estava silenciosa, exceto pelo som suave da cozinha. Fui até lá e encontrei tia Adriana preparando ovos mexidos. Fiquei surpresa; nunca soubera que ela sabia cozinhar.

"Bom dia, Mayla," ela disse com um sorriso acolhedor. "Espero que goste. Quis fazer algo especial para começar o dia."

"Bom dia, tia Adriana," respondi, tentando disfarçar a surpresa. "A comida da mamãe sempre foi especial para mim, mas seus ovos mexidos parecem ótimos."

Ela se aproximou e colocou uma porção generosa no meu prato, com um toque de carinho no jeito que arrumou a mesa. "Seu pai está um pouco abatido hoje. Imagino que a separação esteja pesando sobre ele. Quero que saiba que estou aqui para ajudar."

"Eu sei, tia," respondi, com um tom de gratidão. "Acho que todos nós estamos lidando com isso da melhor forma possível."

Depois de me despedir de tia Adriana e do meu pai, que estava visivelmente cansado, fui para a escola, tentando não pensar muito nos problemas em casa.

Chegando à escola, notei que as pessoas ainda me olhavam, mas o burburinho sobre o meu primeiro dia parecia ter diminuído. Na aula de história, sentei ao lado de uma garota chamada Mariana. Ela parecia simpática, apesar de ser bem esquisita, com suas sardas e aparelho, e seu cabelo ruivo. Mariana era baixinha e gordinha, e nossa conversa sobre ciência e outras coisas da vida foi um refresco. No entanto, o que dominava a conversa entre os alunos era um tal de MC Diego.

"MC Diego está vindo para BH," Mariana explicou com um brilho de excitação nos olhos. "Dizem que ele vai escolher uma escola e, dentro dessa escola, uma garota para ser a protagonista do seu próximo videoclipe. Todas as meninas estão loucas para conhecê-lo."

"Eu não entendo o motivo de tanto alvoroço," comentei, um pouco cética. "Não que a escola seja ruim, mas tenho certeza de que existem lugares melhores em BH."

"É normal ficar empolgada com uma chance assim," Mariana disse. "E, para ser honesta, as chances de ele escolher nossa escola são pequenas, mas a esperança faz com que todos fiquem animados."

No recreio, Mariana me acompanhou até o bebedouro. Decidi tentar novamente, desta vez sem incidentes. Enquanto bebia água, ouvi uma música vindo de um dos corredores. Era um funk alto e cheio de batidas pesadas. Fui atraída pelo som e, ao dar uma olhada, encontrei Carolina descendo até o chão com uma dança que achei vulgar. A visão me deu ânsia de vômito, e eu me perguntei como alguém poderia idolatrar tanto esse MC Diego.

"Desculpe pela sinceridade, Mariana, mas não consigo entender como as pessoas podem idolatrar tanto alguém," falei com um tom de frustração.

"Ah, Mayla, é normal. O MC Diego é considerado perfeito. Ouvi dizer que ele vai se instalar em um condomínio próximo daqui," Mariana explicou, tentando justificar a adoração ao artista.

"Fala sério, Mariana. Você é tão inteligente para idolatrar alguém assim? É como se vivessem no mundo da lua. Até parece que alguém famoso realmente viria para essa escola," respondi, um pouco irritada.

"Sobre isso você tem razão, Mayla," Mariana concordou. "As chances de ele escolher nossa escola são realmente mínimas."

Voltamos para a aula, que passou rapidamente. Quando cheguei em casa, tia Adriana ainda estava lá, como havia prometido.

"Tia, você ainda está aqui?" perguntei, surpresa. "Achei que iria embora hoje pela manhã."

"Ah, minha princesa," ela respondeu com um sorriso carinhoso. "Seu pai insistiu tanto que eu decidisse ficar mais um tempo para cuidar de vocês. Ele realmente precisa de apoio extra."

Ouvi meu pai murmurando algo na cozinha, mas não consegui distinguir as palavras. Acredito que tia Adriana estava aqui para nos ajudar a passar pelo processo de separação dos meus pais, que realmente estava sendo difícil. Principalmente para o meu pai, que nunca revela o que sente.

Tia Adriana deu uma risadinha e comentou: "Mayla, eu e seu pai costumávamos nos divertir muito nessa casa. Ele tinha um amigo chamado Ricardo que nos visitava frequentemente quando éramos crianças."

"Ah, sim, tia," respondi. "Ouvi vocês falando sobre ele no jantar ontem."

"Sim, Ricardo é um homem poderoso e milionário agora, mas nunca esqueceu de nós. Sempre nos telefona," Adriana explicou. "E hoje à noite vamos a um evento na casa dele."

Meu pai entrou na sala e, com um tom resignado, disse: "Vamos à casa dele porque sua tia é intrometida."

Eu e minha tia trocamos um olhar e rimos da situação.

"Bom, tia, será um prazer acompanhar vocês. Acredito que ver o seu amigo vai fazer bem ao papai. Ele anda bem ranzinza ultimamente," comentei, tentando animar o ambiente.

Minha tia sorriu e deu uma piscadinha.
"Tia, tenho certeza de que nem tenho roupa adequada para esse evento. O que vou fazer?" perguntei, preocupada.

"Não se preocupe, eu te ajudo. Vamos escolher algo que fique perfeito para a ocasião," ela respondeu, com um sorriso confiável.