Diego
Quando atropelei Mayla, meu mundo virou de cabeça para baixo. As meninas normalmente me cercam pedindo autógrafos ou fotos, mas ela me tratou com uma naturalidade rara. Seu olhar desafiador e seu cabelo preto balançando suavemente me atraíram de um jeito inesperado. A ideia de me envolver com alguém fora desse mundo é assustadora, e eu sabia que não deveria me deixar levar. Ela parecia enxergar um lado meu que raramente aparece.
Tentei conversar com meu pai sobre meus sentimentos por Mayla, mas sempre parecia que ele estava ocupado demais para me ouvir.
- Pai, preciso falar com você sobre a Mayla - comecei, mas antes que eu pudesse terminar a frase, ele saiu da sala falando ao telefone e foi para o escritório.
Quando cheguei ao escritório, a atmosfera estava tensa. O som da conversa do meu pai com alguém da produtora se misturava ao som abafado da televisão ligada no fundo. Meu pai estava de costas para a porta, falando com gestos amplos e uma expressão de concentração. No canto da sala, a luz do dia filtrava-se através das cortinas pesadas, lançando um brilho suave que contrastava com o ar pesado de tensão. Meu pai estava sentado atrás de uma grande mesa de mogno, coberta com papéis e pastas. A foto da minha mãe, em um porta-retratos de prata, estava posicionada ao lado do computador, como uma lembrança constante de suas expectativas.
Foi quando percebi o que realmente havia acontecido. Meu pai, com seu olhar sempre imperturbável, havia falado para Mayla sobre a MC Drika. A ideia de um namoro falso, que meu pai idealizou para promover minha imagem, era uma manipulação cruel. Saí da sala, furioso e envergonhado por não ter defendido Mayla.
Mais tarde, quando meu pai chegou em casa, eu sabia que precisava confrontá-lo.
Nos encontramos na sala de estar, um espaço amplo e bem iluminado com grandes janelas de vidro que davam para o jardim. O ambiente estava calmo, mas a tensão entre nós era palpável. O tapete persa no centro da sala parecia uma mera formalidade diante da gravidade da conversa. Meu pai estava relaxado no sofá de couro escuro, seus pés repousando sobre uma mesa de centro carregada de revistas e jornais. As cortinas estavam parcialmente abertas, permitindo que a luz da tarde envolvesse a sala em um tom dourado.
- Pai, por que você fez isso com a Mayla? - perguntei, tentando manter a voz firme. A luz suave da tarde criava sombras sutis no rosto dele, realçando a rigidez da sua expressão.
Meu pai levantou uma sobrancelha, desafiador, e olhou para mim com um olhar frio e desinteressado.
- Quem? A auxiliar administrativa? Não estou entendendo sua preocupação, Diego - respondeu ele, com um tom desdenhoso. A sua postura era de total indiferença, como se a situação fosse trivial.
- Pai, estou desenvolvendo sentimentos por ela - minha voz estava carregada de frustração e desespero.
Ele soltou um suspiro frustrado, sua postura se tornando mais rígida enquanto seus olhos se estreitavam com ceticismo.
- Diego, você é adulto o suficiente para saber que isso é só uma paixonite. Isso passa - disse ele, com um tom de desdém que me fazia sentir como se meus sentimentos fossem irrelevantes.
- Pai, pare de desmerecer meus sentimentos! - A raiva na minha voz era inconfundível. O calor da discussão contrastava com a luz suave da sala, criando um ambiente ainda mais carregado de tensão.
Meu pai se levantou, a expressão endurecida, e caminhou até a janela, olhando para o jardim como se estivesse buscando alguma clareza lá fora.
- Filho, você realmente quer arriscar tudo por causa de uma garota comum? Temos um legado a seguir, um sonho que sua mãe tinha para você. Olhe tudo o que conquistamos até agora - sua voz era mais dura, e a referência ao sonho da minha mãe era um golpe direto.
Quando ele mencionou minha mãe, senti a raiva se transformar em desamparo. Era uma tática que ele usava frequentemente para me manipular, e sempre funcionava. A frustração tomou conta de mim, e eu não consegui suportar mais.
- Diego, faço isso para seu bem. Pare de pensar com o coração e comece a agir com a razão - disse ele, enquanto eu já estava indo para o meu quarto. O som da porta se fechando com força ecoou pela casa, uma resposta final à nossa conversa.
Aquelas palavras ecoaram em minha mente, aumentando a sensação de frustração e confusão. O ambiente ao redor parecia sufocante, como se cada objeto na sala estivesse testemunhando meu desespero.
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Entre Funk e Espinhas
RomanceMayla acaba de se mudar para Belo Horizonte após a separação dos pais, e a nova vida na escola é um desafio. Ela nunca imaginou que a música funk, que sempre desprezou, pudesse mudar sua perspectiva. Mas quando conhece Diego, um cantor de funk com u...