(13) Entre a Alegria e o Desespero

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Acordei com um barulho de som muito alto, meio atordoada por causa do som e dos últimos acontecimentos. Fui à sala da minha casa verificar o que estava acontecendo, e lá estava minha tia dançando em frente à televisão. A sala estava iluminada pela luz suave do amanhecer que entrava pelas grandes janelas. O cheiro de café fresco pairava no ar, misturado com o perfume floral e doce da tia Adriana. Ela dançava com um sorriso radiante no rosto, os olhos brilhando com entusiasmo, como se nada pudesse abalar sua alegria.

— Bom dia, dragãozinho! Já fiz seu café da manhã — disse ela, enquanto tentava fazer movimentos de dança na sala, rodopiando de maneira desajeitada mas encantadora.

Meu pai também acordou sem entender nada, mas mesmo com um semblante cansado, soltou uma gargalhada ao ver tia Adriana. Ele passou a mão pelos cabelos bagunçados e esfregou os olhos.

— Vamos, filha, tomar café na cozinha, isso deve ser contagioso — disse ele, com um sorriso no rosto.

Minha tia olhou para ele e fez uma careta divertida, franzindo o nariz de maneira exagerada.

— Lá vem o velho ranzinza — disse, rindo e tentando um passo de dança ainda mais ousado.

Começamos a rir e fomos para a cozinha. Meu pai e eu nos despedimos com um beijo, e fui para a escola, mas meus pensamentos estavam com meu pai. A preocupação se instalou no fundo da minha mente como uma nuvem pesada.

Na escola, tentei me concentrar, mas as salas de aula pareciam mais opressivas do que de costume. O som dos colegas de classe conversando era como um zumbido distante. Mariana percebeu que eu estava distante e veio falar comigo durante o intervalo.

— Parece que alguém não está bem hoje.

— Oi, Mari. Estou com a cabeça em outro lugar.

Ela franziu a testa, preocupada, enquanto caminhávamos pelo pátio movimentado, onde o som das risadas e conversas dos outros alunos parecia abafado pela minha ansiedade.

— Posso te ajudar em algo? — perguntou, tocando meu braço suavemente.

— Na verdade, é meu pai... Ele está doente. Não sei o que fazer — confessei, sentindo um nó se formar na minha garganta e minha voz falhar.

— Vai dar tudo certo. Eu estou aqui para você — disse ela, me puxando para um abraço apertado. A gentileza dela era um alívio bem-vindo.

Mais tarde, Caio me chamou para sair. Ele se aproximou de mim no corredor, mexendo nervosamente no zíper da mochila.

— Ei, Mayla. Quer sair comigo no final de semana? Podemos ir ao cinema ou tomar um sorvete.

Olhei para ele, hesitante.

— Vou pensar, Caio. Obrigada pelo convite.

Mesmo sem interesse, eu gostava da companhia dele. Ele me fazia sentir bem, sempre atencioso e educado. Mas meu pensamento estava em Diego e na confusão que ele trouxe para minha vida.

O dia passou rápido, com as aulas e as provocações habituais de Carolina, que hoje nem me irritaram. Fui para o trabalho na produtora e, ao chegar, fui informada por Carmem que o pai de Diego, Rodrigo, estaria lá. Assim que Carmem fechou a boca, Rodrigo entrou na sala com passos firmes.

— Mayla, você está fazendo um bom trabalho. Carmem não está tão sobrecarregada. MC Diego é um artista que eu criei para ser famoso e bem-sucedido. Logo você vai entender — disse ele, com um tom calculado e um olhar frio que me deixava arrepiada.

— Obrigada, Sr. Rodrigo. Faço o que posso.

Me ignorando e olhando para Carmem, ele mencionou uma grande live no dia do lançamento do clipe, algo que me deixou curiosa e nervosa.

— Rodrigo, acho que não há necessidade dessa live. Diego ainda não decidiu se vai fazer — tentou argumentar Carmem, cruzando os braços de forma defensiva.

— Ele vai fazer a live. E vai dizer o quanto está apaixonado — insistiu Rodrigo, com firmeza. — Isso vai dar audiência. E vai nos render muitos shows e muito lucro. Quem não ama um cantor apaixonado?

Meu coração disparou. Será que ele estava falando apaixonado por mim? Antes que eu pudesse me iludir, Rodrigo continuou.

— Ele vai contar sobre seu namoro com a MC Drika.

Meu mundo desabou. Senti como se o chão estivesse desaparecendo sob meus pés. Eu fui uma completa idiota ao me iludir. Tentei disfarçar minha decepção quando Diego entrou na sala, visivelmente desconfortável.

— Então, filho, estou contando para as meninas sobre a live. Aquela que conversamos ontem.

— Pai, não sei se quero fazer essa live ou esse teatro.

— Você anda bem diferente, Diego. Não sei bem o que está acontecendo com você. Está esquecendo de onde veio? Quer voltar para lá?

Diego ficou vermelho e respondeu:

— Pai, vamos conversar em outra hora.

Rodrigo olhou para mim com um olhar frio e disse:

— Então, menina, não acho adequado você ir à nossa casa como fez ontem — retrucou ele, com um tom definitivo.

Carmem interveio, dizendo que havia sido ela quem me mandou levar os documentos. Diego saiu da sala irritado. Rodrigo, antes de sair, falou que ele faz isso por cuidado com a imagem do Diego.

— Sr. Rodrigo, estou aqui apenas pelo trabalho e cumpro as ordens. Não quero confusões ou desentendimentos.

— Certo, Mayla. Então mantenha distância do Diego. Ele é seu chefe, e as pessoas vão entender de outra forma.

— Eu sou apenas uma funcionária. Você está confundindo as coisas.

— Não estou confundindo as coisas, menina. Sou um homem vivido e não me engano. Sei que é uma garota esperta e agarrou a chance. Então, se quer se manter nesse emprego, mantenha distância do Diego.

— Sr. Rodrigo, estou aqui apenas pelo emprego. Se acha que meu serviço não é bem-vindo, fique à vontade para me dispensar e me respeite porque está julgando como se eu fosse interesseira.

— Devido aos seus resultados, não vou te dispensar. Passar bem.

Rodrigo saiu da sala. Carmem tentou me consolar.

— Não dê ouvidos a ele, Mayla. Rodrigo é uma pessoa amargurada. Você está fazendo um ótimo trabalho.

Mesmo com suas palavras de apoio, fui para casa com uma sensação de derrota. Será que eu estava no lugar certo? Será que valia a pena continuar nesse emprego, com tantas emoções conflitantes e complicações? Deitei na cama, perdida em pensamentos, esperando que o próximo dia trouxesse alguma clareza.

Entre Funk e EspinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora