Em realidade ele não tivera muitas opções, visto que a redoma estava vazia, salvo pela grama e pelas cortinas fronteiriças. No seu pulo, ele viu a esperança de respostas, as quais deduziu que jamais encontraria naquela minúscula ilha. Talvez haja algo mais em seu raciocínio, talvez não, não direi, mas é fato que não hesitara ante à queda.
Assim que pulou, a escuridão absoluta e um vento feroz o abraçaram como um amante faminto, ansioso para devorá-lo durante a queda. Tão intensos foram os uivos eólicos...
Pensando melhor, não creio que "queda" seja um termo adequado para o que ocorreu, tendo em vista que uma queda é quando saltamos de um lugar alto e caimos para baixo, mas é uma queda se não existe a concepção de alto e baixo? É uma queda se em todos os lados a escuridão se vê igualmente infindável? É uma queda se a gravidade perde o sentido e seu cérebro prototípico se torna incapaz de determinar onde está?
Certamente que não.
Ao invés disso, direi que o seu "voo caótico" consistiu nas correntes de vento que permeiam o vazio o carregando loucamente a um ponto ainda indiscernível por seus olhos. Vale ressaltar que qualquer conhecedor dos caminhos do vácuo saberia que as corredeiras são imprevisíveis, que a única certeza relacionada a elas é que ao cavalgá-las você estaria se perdendo. É impossível alcançar algum lugar útil em uma carona descontrolada.
Bem, não dessa vez. Um pequeno empurrãozinho do destino o faria chegar em segurança ao Deserto, onde daria prosseguimento à sua jornada, a qual muito anseio em testemunhar.
Entretanto, como o rapaz logo percebeu, tal vigília não fora realizada apenas por mim, pois o ronco profundo de uma das criaturas que vagam entre mundos lhe sussurrou um tremor gélido na espinha, ao que o menino respondeu com sábio silêncio.
Longe de quaisquer fontes de luz, o único que foi possível vislumbrar da coisa foi sua voz e sua presença, sendo esta felizmente passageira. No momento em que a grave reverberação cessou, tornara-se visível uma prévia do destino aonde o levavam as corredeiras: um ponto de brilho fraco, que aumentava gradativamente, como uma luz no fim do túnel que, como eu, ria de sua metafórica morte quando pulara daquela redoma.
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O Ateliê de Rascunhos
Mystery / ThrillerCentral ao nada, onde a noite cerra, Fica o eterno Ateliê de Rascunhos, Alheio ao tempo, alheio à terra. Lá jaz Ela e, de seu próprio punho, Pinta a arte, pinta os mundos, e pinta a guerra. _____________________________________ Um menino acorda sem...