Capítulo 16- A Escultora de Reinos

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Nos encontramos novamente, minha cara. Eu me pergunto se você se lembra de mim. Claro que se lembra! Como poderia esquecer tudo o que passamos juntas? Todos os prazeres, as alegrias! Todo o sofrimento que você sentiu e todo o sofrimento que merecia ter sentido!

Não, você não esqueceu, e nem eu. Talvez eu deva cobrar o que ficou para trás...

Depois. Agora estou concentrada em outra coisa.

Os dois se viraram para encarar a mulher que se encontrava de pé atrás de si. Era alta e imponente, com cabelos negros como os da filha. Trajava um vestido púrpura longo e elegante, com duas bainhas ricamente adornadas posicionadas em lados opostos no quadril , uma carregava um pequeno martelo e a outra, um formão.

Ao seu lado, estavam dois dos homens embanquecidos gigantescos, iguais àqueles que guardavam os portões da cidade.

"E quem seria você, menino?", perguntou ela, séria. Apesar da compostura, sentia profunda repulsa por aquele mendigo sujo ao lado de sua filha.

Ele começou a gaguejar, nervoso pela presença imperial diante de si. Felizmente teve o bom senso de curvar-se em uma reverência.

"Ó Vossa Maj... Impera...tri...cência...!", disse ele, arrependendo-se de todas suas escolhas de vida. "Eu, meu nome é Errante e, e estou honrado por estar em por sua presença!"

A soberana levantou uma sobrancelha e a Pintora enterrou seu rosto nas mãos.

"Queiram me acompanhar, por favor", solicitou, retornando ao alçapão que dava ao andar inferior. No entanto, os dois guardas se aproximaram dos dois jovens, explicitando se tratar de uma ordem a fala da Imperatriz.

Relutantes, os três desceram as escadas.

"Eu ouvi falar de você, Errante. Minha conselheira me contou muito sobre você, e sobre sua associação a um certo criminoso. Guardas, levem-no à masmorra."

Imediatamente os dois gigantes suspenderam o menino pelos braços, a despeito dos protestos enraivecidos da princesa. Entretanto, um gesto de sua mestra subitamente os interrompeu.

Ela olhava com surpresa o quadro da Pintora que retratava a redoma e a cortina constelada, estando não mais oculto pelo pano.

"Mas que ilustração interessante, filha. O que é?", perguntou.

A menina olhou para o menino imobilizado pelos guardas, que retribuiu o olhar. Ambos não faziam ideia do quê responder.

Não conseguindo inventar uma mentira convincente o bastante, ela optou pela pior das escolhas: a verdade.

"É... um sonho que eu tive", respondeu com ar de derrota.

"Eu acordei lá sem memória. Não sabemos o que é", disse o Errante, reunindo coragem. Soltou esta informação na esperança de que a colaboração o livraria da masmorra.

Após alguns segundos pensando sobre a situação, a mulher fez sua decisão. "Ora, não devemos nos preocupar com sonhos bobos. Porém, devo dizer que estou decepcionada, não passou pela sua cabeça falar com sua mãe sobre isso?".

Não houve resposta, a menina apenas abaixou a cabeça.

"Entendo. Bem, devo dizer que intepretei errado o que aconteceu aqui, e nada mais justo que eu admitir meus erros. Sinto que você, menino, e minha filha compartilham uma certa amizade, e se é amigo de minha filha é amigo meu.", disse ela, e ordenou aos guardas que pousassem o garoto no chão. "A partir de agora considere-se meu convidado de honra. Esta estátua irá lhe mostrar seus aposentos. O jantar será servido em breve."

Não se importanto nem um pouco com a recente importância atribuída ao jovem, uma das estátuas rudemente o empurrou em direção ao corredor, para longe das duas mulheres.

A mais jovem estava completamente espantada. Jamais teria concebido tal desfecho para o encontro, certamente fora uma mudança.

Entretanto, a natureza benéfica ou maléfica desta mudança ainda permanecia incerta, suscitando dúvidas na mente daquela menina, que agora cruzava olhares com sua mãe, uma tentando desvendar o plano da outra.

Sem dizer mais nada, a Escultora virou-se e desapareceu no corredor.

O Ateliê de RascunhosOnde histórias criam vida. Descubra agora