Acordou, finalmente.Deitado, ele abriu os olhos para o céu escuro e estrelado que o encarava, indecifrável, e se lamentou de ainda nao estar mais perto de saber o que eram aquelas luzes.
O período de inconsciência não durou muito. Sentado, espanou a areia de seu manto e olhou em volta. Ao redor, intermináveis dunas até onde a vista alcançava, iluminadas pela luz azulada do céu pincelado. Entretanto, pôde avistar um morro de areia que despontava dos arredores. Pensou que se subisse lá teria uma visão melhor do deserto mas, ao tentar se levantar, uma dor lascinante na perna direita o fez parar. Talvez não tão inteiro, afinal.
Desesperado, ponderou suas poucas opções. Não sabia onde estava, não sabia para onde ir, mas sabia que se permanecesse ali no meio do nada iria eventualmente morrer de sede.
Tentou se levantar e dar um passo, e novamente a mordida elétrica da dor o derrubou.
"Talvez seja o fim", pensou. "Não deveria ter pulado daquele lugar bizarro".
Ele, é claro, estava errado. A inércia na redoma levaria ao mesmo destino que no deserto: uma morte lenta por desidratação.
Além disso, também não era o fim.
Entretanto, em sua mente, uma nova voz se aliou ao instinto de autopreservação para superar as dúvidas fatalistas: a curiosidade.
O que era aquele lugar? Por que estava ali? Nada fazia sentido. Queria respostas, e esta minúscula faísca de esperança o fez rastejar um passo doloroso, mantendo a perna direita o mais inerte possível, agarrando a areia com as mãos e empurrando com o pé.
Agarra, empurra, agarra, dor.
Agarra, empurra, agarra, dor.
Agarra, empurra, agarra, dor.
Agarra, empurra, agarra, DOR.
Agarra, empurra, agarra, AAAAAHHH
Sem fôlego, desabou de bruços na crista da alta duna, exausto. Não sabia se seria capaz de repetir outra travessia tão excruciante, porém iria se obrigar a fazê-lo, pois a subida o presenteou com uma visão: uma torre, ao longe, com uma luz muito forte brilhando do topo.
Iria, se não houvesse sido encontrado.
"Quem está aí?!", Chamou uma voz grave. "Quem é você?"
Olhou o estranho, e após alguns segundos de hesitação, o menino respondeu com triste sinceridade: "Não sei"
Naquele momento, vieram 2 surpresas para o menino:
A primeira foi sua própria voz, pois não a reconhecera. Aquela fora a primeira vez que se ouviu falando, e o som que deveria ser familiar lhe soou desconhecido, tão desconhecido quanto tudo em volta.
A segunda, a aparência do homem. Era alto, forte, musculoso e com mãos fortes como ferro, marcado de cicatrizes e possuía uma barba rala. Além disso, vestia roupas simples sem extravagância alguma e carregava um grande saco nos vultuosos ombros.
Naquele instante, pensamentos começaram a invadir a cabeça do menino, pensamentos ansiosos, delatores de perigos que talvez não existissem. Pensava o que deveria fazer caso o estranho não fosse confiável.
Correr? Com a perna como estava?
Gritar? Para quem?
Lutar? Contra mãos como aquelas?
"Você está ferido", disse o desconhecido.
"Você também", respondeu o rapaz, olhando para as mãos do homem.
Com uma certa tristeza, baixou os olhos para os ferros retorcidos que estavam na extremidade de seus membros, no lugar que deveriam estar mãos.
"Eu não estou ferido se não posso ser curado", retrucou. "Mas não importa, você pode. Deixe-me dar um trato nessa perna".
O rapaz não sabia se deveria confiar no estranho. Afinal, poderia muito bem ser morto por aqueles ganchos nos braços se o homem assim o desejasse, mas resolveu arriscar a sorte, pois a perna dolorida e o desejo por respostas falavam mais alto que o medo. Assentiu.
Em seguida, tomando muito cuidado para não machucar o menino, o homem levantou a barra da calça de forma a revelar uma mancha arroxeada na região do joelho.
"Consegue mover o pé?", perguntou, enquanto examinava atentamente o local da lesão. Após observar os dedos se moverem, determinou que não houvera fratura, apenas deslocamento da articulação. "Isso vai doer", alertou.
Um movimento rápido. Um alto grito. Adrenalina e respiração acelerada.
Mas passou.
Estando o paciente mais calmo, o gentil desconhecido ofereceu levá-lo para uma caverna próxima, onde armara acampamento, para que pudesse repousar. Após receber resposta positiva, o homem o levantou com apenas um gancho, o posicionou com a maior gentileza possível no outro ombro, e partiram a caminhar pelo deserto.
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O Ateliê de Rascunhos
Mystery / ThrillerCentral ao nada, onde a noite cerra, Fica o eterno Ateliê de Rascunhos, Alheio ao tempo, alheio à terra. Lá jaz Ela e, de seu próprio punho, Pinta a arte, pinta os mundos, e pinta a guerra. _____________________________________ Um menino acorda sem...