irreal

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O Sol se pondo entregava que estava perto de escurecer para, enfim, a Lua se mostrar mais brilhante - já que era noite de Lua Cheia, as árvores balançavam de longe, trazendo consigo a brisa gostosa do fim de tarde. As cortinas cinzas da sala branca se moviam levemente, e o pouco de Sol que ainda entrava pela fresta da janela deixava o espaço mais aconchegante. O aparelho celular jogado em algum lugar da espaçosa sala ainda vibrava e morria aos poucos com a bateria quase zerada. Na televisão grande exibia Jogos Mortais X, o filme corria já para a metade e ninguém fazia questão de prestar atenção em todo aquele gore em demasia, e apesar de toda a violência, era algo quase insignificante para quem ocupava aquela sala imensa. No chão, sobre o carpete, algumas latas de cerveja se misturavam com latas de refrigerante barato e pipocas que completariam dois dias no mesmo lugar.

Estirado sobre o sofá branco, Hong Jisoo cochilava deixando seu braço para fora do móvel, fazendo com que mais uma latinha de cerveja caísse de sua mão relaxada e espalhasse o líquido já quente sobre o carpete - mais uma vez. Ele abriu os olhos, atônito, receando ter de ver aquele boneco ridículo do filme em sua frente, no fundo sentia bastante medo de pagar pelos seus pecados em uma daquelas armadilhas tenebrosas criadas por John Kramer. Hong se levantou ainda embriagado, seus olhos doíam mais que sua cabeça, os cabelos embaraçados constatavam que não eram penteados há dias ou até semanas, o corpo suado e a cara amassada. Tateou o sofá, na procura do controle da TV para tirar logo daquela nojeira toda, e para seu maldito azar, seus olhos fitaram o filme bem na hora em que uma das personagens arrancava a própria perna fora - literalmente.

— Mas que droga! - Ele desviou as orbes castanhas da tela ainda na procura do controle, e o que achou foi seu celular quase enfiado em um dos cantos do estofado. Ligou o aparelho, vendo que havia mais de dez chamadas de um número desconhecido - ou nem tanto assim. Ele franziu as sobrancelhas, pensou se deveria ou não ligar de volta, mas deu de ombros e jogou o celular no sofá, a trilha sonora eletrizante e medonha do filme tomava todo o ambiente e era bem assustador. — Talvez hoje eu não durma mais. Quem colocou essa merda? - Sua voz praticamente ecoava por entre os cômodos, mal lembrava ele que escolhera algo para assistir enquanto se entupia de álcool.

As meias de cano alto pareciam grudar no chão de madeira do quarto, de tão sujas e pegajosas que estavam, afinal, o homem não tomava um bom banho há dois dias. Correu para seu refúgio de livros enquanto tentava se esquivar das cenas asquerosas de Jogos Mortais X já que nem podia desligar a televisão, passou o dedo indicador por seus livros favoritos, dentre eles um bem específico escrito por Arnold Schwarzenegger o fez lembrar que seu último treino foi há uma semana atrás. Ele murchou instantaneamente. Catabolisar era sem dúvidas o último de seus planos, queria apenas sua vida de volta, queria tudo o que arrancaram de si: Felicidade e vontade de viver. Não sabia ao certo se estava na fase depressiva, mas tinha plena convicção de que sua fase era pra lá de péssima. O que faria? Perdeu Mingyu, perdeu Wonwoo, perdia seus pais aos poucos, com certeza perdeu a vontade de tomar banho e já não tinha mais seus 42cm de braço. Fodidamente catabolisado e sozinho.

Olhou ao redor, procurando por alguém ou algo que lhe servisse de conforto naquele momento, e o que ouvia era o silêncio sendo cortado pela maldita trilha sonora vindo do fundo da sala.

— Droga.

* * *

Enquanto Seungkwan preparava sua melhor torta de blueberries, Seokmin e Hansol tentavam à todo o custo transformar aquela papa de amido de milho, leite e achocolatado em chocolate quente. No relógio marcava sete e vinte da noite, os amigos se reuniram para alegrar um pouco aquele clima ruim que se instaurou quando perceberam que Jeonghan não era nenhum Santo.

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