e pode matar

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Era o início de um doloroso fim, este que mal teve um começo duradouro. Depois de tantos olhares sufocantes se julgando e se querendo ao mesmo tempo, ainda sim Kim Mingyu processava aquela enxurrada de informações sentado sobre o estofado, agora não tão confortável, de seu sofá. Enquanto isso, Jeonghan tentava explicar aquela situação e dizer que tudo era mentira, mas Mingyu mal o escutava, e também nem queria mais. Por qual motivo Hansol mentiria para um de seus melhores amigos? E por que infernos Jeonghan falaria a verdade, sendo que, na mente de Kim, ele ainda era um desconhecido - ou ao menos se tornou naquele exato momento? Pensou no quão burro foi por ter imaginado que sua relação passada esfriou justamente por conta de Jisoo, e não porque talvez pudesse haver uma terceira pessoa manipulando tudo de longe.

— O Hansol é doido, Gyu! Ele tava bêbado, pelo amor de Deus! - Bateu as mãos em suas coxas, o desespero tomava todo seu corpo e ele não sabia mais inventar alguma outra mentira, já deu o que tinha que dar.

— Preciso ligar pro Jisoo... - Ignorando totalmente a fala aflita de Yoon, o rapaz puxou seu celular de cima da mesinha, tentando puxar de sua memória algum momento em que apagou o número de seu ex-namorado. — Ele deve estar arrasado agora. Cristo! - Levantou em pura adrenalina, dando pequenas voltas de uma extremidade para outra do sofá, o celular em sua destra e a canhota sobre sua cabeça, esta que começara a doer no mesmo momento em que ouviu o grito esbaforido de seu amigo do outro lado da linha.

Jeonghan sabia que seu cerco havia fechado, e que provavelmente os amigos de Mingyu viriam para se vingar de anos de tormenta. Queria correr dali, ou pular da janela talvez fosse melhor do que encarar olhares raivosos e magoados, lotados de ódio e vingança. Enquanto Yoon pensava em maneiras de se livrar da confusão que ele mesmo causou, Kim corria para a fora de casa, na intenção de encontrar com o seu ex-namorado. Pegou seu celular e as chaves de casa, largando o loiro bonito, e de olhos agora tristes, no corredor.

Seus dedos ágeis digitaram rapidamente o número de Hansol para realizar a chamada: — Oi! Onde você 'tá? - Questionou Mingyu, arfando por ter de correr - e pelo seu corpo ainda não ter se recuperado dos momentos com Jeonghan.

Tô no bar ainda, o Jisoo já foi embora faz tempo. Não sei onde ele tá morando, Gyu. - Uma breve pausa se fez presente e pôde-se ouvir a respiração profunda antes de concluir: — Mas a gente pode procurar. Vem pra cá.

Já era tarde da noite e Mingyu não sabia o porquê daquele bar ainda estar aberto, já que provavelmente todos os bêbados foram embora para suas casas e respectivas famílias.
Ao adentrar a porta do bar avistou Hansol bebendo uma cerveja no canto da mesa, seu ombro direito apoiado no vidro da janela que dava para uma vista cinza e monótona daquela cidade. Por sua postura calma, Kim constatou que o amigo estava menos embriagado que no momento da ligação. Não quis admitir para si mesmo, mas sentiu uma pontada no seu estômago de puro receio, com medo de que seu amigo pudesse estar brincando ou bêbado demais para inventar histórias por aí.

— Oi. - Disse Mingyu.

— E aí. - Respondeu o outro, no mesmo tom. — Já senta aí, que o papo vai ser bem sério agora. - Mingyu obedeceu ao amigo, queria disfarçar suas mãos tremendo e o gaguejar de suas palavras. — Não sei se dá tempo de ir procurar o Jisoo agora, já são - Olhou rapidamente o horário pela tela do seu celular posicionado sobre a mesa de madeira. — meia-noite e quarenta, e por essas horas ele já deve estar dormindo por algum canto.

— Eu tô perdido. - Kim desabou sem enrolações. Obviamente precisava de ajuda, mas não sabia a quem, nem em como ou quando pedir. Queria estalar os dedos e voltar ao passado, onde era muito feliz com seu primeiro e grande amor, onde sua vida fazia sentido.

E por que diabos tudo perdeu o sentido no meio do caminho?

Queria saber o porquê de tudo ter desandado e sua vida ter se tornado algo tão raso, tão superficial, sem graça, igual aos outros. Mingyu queria ser diferente, mas se perdeu em conversas tortas, em olhares quentes, em convites inegáveis. Se perdeu em cheiros inebriantes, palavras bonitas, sensações viciantes. Se perdeu em falsas promessas. Promessas essas que ele mesmo havia criado em sua cabeça, só não sabia que seria tão difícil cumpri-las da maneira correta, sem trapaças consigo mesmo - ou com terceiros. E, no fim, ele trapaceou, mas nada vem de graça, não é mesmo? "Quando a esmola é demais, até o Santo desconfia."
E, talvez, seu real "sentido" pudesse ser um lindo americano, de 1,77 de altura, que se orgulhava de seu porte atlético e inteligência acima da média. Talvez seu "sentido" pudesse ser Hong Jisoo.

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