um buraco para guardar seu tormento

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— Pois eu não vou aceitar esse tipo de provocação daquele idiota! Você viu como ele te olhou? - Jeonghan ralhou, apontando para o mais alto que apenas permaneceu quieto, observando todo aquele "showzinho" sem motivos. — Ele parecia que queria te comer com os olhos e arrancar minha alma.

— Ei, relaxa. Ele não é louco de encostar um dedo em mim, muito menos em você. Eu te defendo. - Sorriu de forma sincera, apoiando suas mãos sobre os braços do mais velho, tentando transmitir calma ao outro. Tentativa essa que falhou miseravelmente.

— Me defender, como? Da última vez que te encontrei, você tava com a boca toda rasgada. - Rosnou, abaixando os ombros. O sentimento de derrota estampado em seu olhar cansado. — Isso virou uma guerra, Mingyu. Tenho medo do que pode vir depois.

— O que está rolando aqui? Briga de casal logo de manhã? - Seokmin questionou com pura diversão em seu semblante, rindo ao se aproximar dos dois estudantes.

— É o Jisoo. Novamente. - Yoon respondeu com seu tom de voz meramente triste, apoiando suas mãos na cintura e negando com a cabeça algo que nem ele mesmo sabia ao certo.

— O que ele fez dessa vez? Eu juro que arranco aqueles cabelos lindos dele e arrasto aquele rostinho perfeito dele no asfalto! - Lee continuou, ainda tentando tirar algum entretenimento daquela conversa corriqueira.

— Você só fala besteira, Seok. - O moreno respondeu entre risos, cutucando Jeonghan para rir junto, mas este apenas lambeu os lábios e se afastou dos amigos. Kim percebeu que seu hyung estava preocupado com a volta e as provocações de Jisoo, mas nada podia ser feito para impedi-lo, a não ser um afastamento. Assim, talvez Jisoo desistiria de ser tão irritante.

Ou não.

— O que houve com ele? - Lee apontou para a silhueta alheia que acabara de se afastar.

— Seokmin, você sabe colocar veneno na comida de alguém? - Kim indagou, ignorando a pergunta do outro, com seus olhos semicerrados e uma expressão tão normal como a de um sociopata.

— Você quer envenenar o Jisoo? Mas ele é tão lindo. - Abaixou o olhar, e um biquinho tímido desenhou seus lábios cor-de-cereja.

— Pois namore com ele, então. - Respondeu em tom sério, dando de ombros e caminhando em direção a sala de aula.

— Você está, literalmente, me pedindo para eu cometer um crime! - Seokmin continuou o assunto ao se dar conta do que Mingyu acabara de pedir, correndo atrás do mais velho enquanto o julgava. — Por que se tornou assim de uma hora pra outra? Já não basta ter feito aquela simpatia pra conquistar o Wonwoo, e agora quer envenenar teu ex?

Kim parou de súbito, revirando os olhos e trincando o maxilar. Virou seu corpo para Seokmin, que ofegava de uma maneira irritante, com seus olhos arregalados e a boca entreaberta.

— O Jisoo atrapalha meus planos e minha vida. Se não fosse por ele, eu estaria namorando o Wonwoo agorinha mesmo.

Lee riu ironicamente.

— Se não fosse por você ter deixado o Jeonghan te beijar, não é? Porque, caso não saiba, o Wonwoo estava prontinho para te pedir em namoro naquele mesmo dia, mas não, seu instinto de galinha deixou com que um outro alguém, que no caso não é o Jisoo, atrapalhasse seu futuro namoro com o homem que você ama! - Rebateu em tom grosso, deixando o mais velho com o semblante frustrado, mas no fundo – bem no fundo, mesmo –, Kim sabia que seu amigo estava certo, só faltava admitir que vacilou.

Ah, mas aquilo não era fácil. Admitir os próprios erros é algo que se aprende com o tempo, e poucas pessoas conseguem desenvolver mais esse ensinamento de vida rapidamente. Kim Mingyu nunca foi um cara de admitir erros, sempre achava estar certo em todas as situações. Se Mingyu matasse alguém sem mais nem menos, inventaria uma lista enorme de motivos para ter cometido tal ato.

— Eu não preciso de outro Hansol para me dar lição de moral. - Levantou seu dedo indicador, o apontando na altura do rosto de Seokmin, este que ignorou totalmente seu gesto isento de qualquer resquício de educação. — E eu quero que se foda esses motivos pela qual você defende tanto o seu Joshua, mas não quero que desconte isso em mim.

— Oh, me desculpe por "dar uma de Hansol" - Fez aspas com os dedos, dando ênfase na frase, — e querer o melhor pra você, mas eu te garanto que matar alguém covardemente não vai te trazer nenhum benefício. - Apoiou as mãos em sua cintura, arqueando as sobrancelhas. — Ao menos que você considere passar seus próximos quatorze anos na prisão como algo bom.

— Prefiro a cadeia, do que ter que suportar seu novo crush. - Kim já estava sem argumentos.

— Pois então vá em frente. Mas não me peça para te levar bebidas e cigarros na cadeia. Pare de ser idiota, qualquer provocação do Jisoo, você já considera como o fim do mundo. - Riu soprado. — Não sabe o que realmente é o fim do mundo, Mingyu.

Antes mesmo de prolongar aquela conversa sem fundamentos e acabar quebrando os dentes de seu melhor amigo, Mingyu deu as costas para Lee e tornou a caminhar para sua devida sala de aula. No caminho, passou pelo corredor lotado de pessoas e deu uma pausa em seu trajeto para perder parte de seu tempo no banheiro. Ao chegar lá, pôde ouvir balbucios logo na porta, e entrou devagar a fim de desviar a atenção de quem quer que estivesse chorando ou fazendo sei lá o quê dentro de uma das cabines. Seus passos eram cautelosos, mas repletos por curiosidade de saber quem chorava lá dentro, até pensou ser Jeonghan, mas a voz de quem derramava lágrimas era mais grave, porém tão melodiosa quanto, pensou até mesmo em Seokmin, mas ele não chegaria antes de si no banheiro.

Foi quando Kim respirou fundo, fechou e abriu seus olhos rapidamente, apoiou suas mãos sobre a pia e inclinou seu corpo para a frente, podendo, mesmo assim, ver o reflexo das cabines metálicas atrás de si através do espelho. Os murmúrios já tinham cessado, e o tranco da porta de uma das cabines se destravou, revelando um semelhante indefeso que Mingyu desconhecia naquele momento. O homem enxugou suas lágrimas pela manga de seu suéter e encarou a perplexidade de Kim.

— O que foi? Veio zoar de mim? - Riu ironicamente.

— Não sou como você. E eu sei que não deveria estar perguntando isso, - Virou seu corpo para encarar o outro frente a frente. — mas por que você estava chorando?

— É, você realmente não deveria estar perguntando isso. - Revirou os olhos e deu meia volta, caminhando até a porta de saída.

Mingyu não segurou seus impulsos e sua vontade de descobrir de uma vez por todas o que estava acontecendo e como podia resolver aquilo. Ver a imagem do homem que ele mais amou, mas que mais desgraçou sua vida era doloroso e confuso, por pura ironia do destino. Mingyu aproximou-se de súbito do corpo trêmulo do outro e segurou seu braço, o puxando para perto de si e o impedindo de sair por aquela porta.

— Me deixa em paz! - Tentou se desvencilhar daquela mão envolta em seu braço, o puxando e praticamente se debatendo, mas suas forças pareciam falhar.

— O que está acontecendo, Jisoo? - Encarou seus olhos castanhos e desconcertados. E se Hong Jisoo tentasse mentir, Mingyu saberia.

— Por que quer saber, hein? Vai viver sua vida, cara. Você tá todo feliz com o Jeonghan, eu tô feliz com o Wonwoo e já era. Não se mete na minha vida, você não faz mais parte dela.

— Mas como você consegue ser tão dissimulado assim, hein? - Sua voz soava como um sussurro por tamanha incredulidade. — Você mesmo disse que estava usando o Wonwoo, agora vêm com papinho de que está feliz com ele? Eu te conheço o suficiente pra saber que tá mentindo.

— Vá se foder! - Hong semicerrou os olhos e usou sua mão livre para dar um empurrão forte no peito mais novo, conseguindo sair daquela pressão que o fazia sentir falta de ar e culpa. Correu em passos rápidos para qualquer lugar, sabe-se lá onde iria parar, apenas queria sair dali e manter seu pequeno segredo ainda intacto consigo.

E se dependesse dele, morreria guardando aquilo que tanto o corroía pouco a pouco, até que não aguentasse mais e teria de se submeter a desmoronar.

Hong Jisoo guardava uma Caixa de Pandora dentro do peito.

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