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O ar do sul fede a sangue.
Foi o primeiro pensamento de Rhaenyra ao pousar em uma área afastada com Syrax. Acalmando a majestosa rainha dourada, retirou suas luvas e avançou com passos firmes em direção à fronteira daquele sombrio local. Ao longo de uma corda, um corpo sem vida balançava, a carne invadida por vermes e corvos, membros dilacerados, coberto com o brasão da casa Targaryen. Parecia ser de uma criança, não mais de dez anos. Nyra sentiu seu coração apertar e uma angústia se formar em sua garganta, mas forçou-se a engolir seco e seguir adiante. Vestia um manto negro, sem adornos, os cabelos protegidos por uma touca, e não carregava joias, apenas uma espada, presente de Sor Harrold.
Caminhou por alguns instantes, adentrando a cidade que parecia gemer de dor. Moradores comercializavam frutas, verduras e carne em uma pequena praça, enquanto outros bebiam e comentavam alto sobre a rebelião em curso, como se nada mais importasse. Homens riam, mulheres sentavam-se em seus colos e serviam bebidas e comidas, tudo à vista de todos. O estômago de Nyra se revirou, e ela acabou esbarrando em uma criança, um menino de cabelos negros e olhos exaustos.
"Mil perdões, senhorita. Não fiz por mal," murmurou ele, olhos baixos. A jovem se ajoelhou e tocou suavemente seus cabelos, assustando o garoto.
"Está tudo bem. Como se chama?" perguntou, curiosa. O menino hesitou, olhando para a frente, até que seus olhos brilharam, apavorado.
"Precisamos nos esconder, vai começar," disse ele, olhos arregalados, puxando com força a mão de Nyra, que se viu obrigada a segui-lo. Ele a guiou até uma área elevada, entre dois becos imundos e marcados pela guerra. A herdeira recuperou o fôlego, mas antes que pudesse perguntar o motivo da fuga, ouviu os sinos tocarem, altos e estridentes, animando alguns cidadãos.
Segundos após, um grupo de mercenários de vestes escarlates adentrou o recinto por onde a nobre princesa Rhaenyra havia passado. Suas faces exalavam altivez e sorrisos malévolos, enquanto o populacho clamava em júbilo desenfreado. Atrás deles, crianças de cabelos dourados e ruivos, bem como mulheres de semelhantes madeixas, eram arrastadas com brutalidade, atadas por cordas e lançadas ao chão com desdém. Outros, com expressões de crueldade, traziam consigo um macabro amontoado de cabeças, que a princesa, com o coração acelerado, temeu serem dos espiões de sua família.
"Povo do Sul!" gritou o líder dos mercenários. "Hoje se inicia mais um dia do que chamamos de libertação. Libertação dos nossos senhores que nos enganaram por tanto tempo!" A multidão rugiu de raiva. "Hoje, entregamos aos céus aquilo que nos foi roubado, aquilo que é nosso por direito!"
"O que está acontecendo?" Rhaenyra perguntou ao menino, que parecia ansioso. Ele mordeu os lábios e a encarou com olhos chorosos.
"O ritual de libertação," murmurou ele.
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A chama do dragão
FanfictionUM CONTO HOUSE OF DRAGONS Após sua trágica morte nas mãos de seu meio-irmão, Aegon II, Rhaenyra Targaryen encontra-se inesperadamente transportada de volta ao passado. Despertando em um tempo onde sua vida ainda está por ser escrita, Rhaenyra se v...