Capítulo 16 - Família.

52 7 0
                                    

CAPÍTULO 16

Trêmula eu encarava o carro. Estava ofegante, com o coração acelerado enquanto Benjamin parecia calmo. Como se nada tivesse acontecido. Ele estava se divertindo com a minha reação.

- Chego em vinte minutos. Alguém é alérgico a cachorro? - perguntou no meio da rua, bem inclinado no banco do motorista, com a mão apoiada no banco do passageiro. -

Balancei a cabeça em negação.

- Mas, minha tia tem gatos. Eles são tranquilos mas, não pode deixar o Rocco irrita-los.

Benjamin fez continência.

- Vou tomar cuidado, agora entre.

Apertei minhas mãos e me virei, entrando no jardim da minha tia. Ao chegar em frente a porta fiz o famigerado toque secreto e logo a porta se abriu me dando a visão de uma asiática com o nariz e bochechas vermelhas. Seus braços rodearam meu pescoço imediatamente e assim que pude, ouvi o carro de Benjamin se distanciar.

- O que está fazendo aqui? Não foi seguida? - perguntou me empurrando para dentro, enquanto analisava a rua. - Deus, eu entrei em desespero quando vi as fotos. Deus, Stela! Como ele conseguiu? Como ele sabe que é você?

Com as mãos nos meus ombros ela me levou até o sofá. Natasha me deixou na sala e correu em direção a cozinha, de lá trouxe uma bandeja com suco e alguns biscoitos.

- Mamãe sempre dizia que eu parecia com ele. - afirmei dando de ombros. - Acho que isso foi o que ajudou ele a me descobrir.

Minha tia me encarou com os olhos marejados.

- O que nós vamos fazer, minha filha?

- Vou fugir.

- Não dá pra fugir para sempre, Stela! Me sinto angustiada apenas de cogitar te ver escondida por aí, sempre com medo desse desgraçado! - ela negou. - Nem sua mãe aceitaria isso.

Engoli em seco e Suspirei.

- Benjamin quer que eu vá para New York.

A mão da minha tia puxou meu rosto em sua direção.

- Benjamin? Que Benjamin? Você está namorando? Por que não me contou?!

Me engasguei com as palavras e arregalei meus olhos.

- O-o que?! Não! C-claro que não, tia! Ele é um amigo! Ele me ajudou muito.

Natasha me encarou desconfiada e bebeu seu suco, cruzando as pernas com pura desconfiança.

- É o que estava no carro? Por que ele não entrou?

- Ele foi buscar o cachorro dele. - afirmei.

- Sei. - respondeu com falsa afirmação, típico dela. -

Tia Nat em segundos esqueceu completamente do assunto que conversávamos a minutos atrás. Sua mente perversa estava focada agora em descobrir quem era o tão secreto Benjamin.

- Tia?

- Como ele é? É bonito? Alto? Moreno? Ou é branquinho? - me bombardeou de perguntas em um segundo. -

- Tia!

- O que? -respondeu irritada. -

- Tem alguém na porta.. - apontei para a porta de entrada que estava prestes a ser derrubada.

Tia Nat se levantou irritada e foi abrir a porta. Nós duas sabíamos bem quem era que estava esmurrando a porta daquele jeito. Não tinha como ser outra pessoa menos delicada.

- Onde está sua chave, Olivier?

- Eu esqueci em casa, Omma..

Assim que ela entrou pude ver a mochila nas costas, havia acabado de sair da faculdade. Me levantei do sofá e apertei minhas mãos. Olivier não sabia de tudo que a tia Nat sabia. Para Olivier, minha mãe morreu em um trágico acidente de carro e meu pai só é um idiota completo que não sabe ficar na dele. Mas, mesmo assim, Olivier tinha pavor dele.
Quando ela se virou e me viu na sala, seu rosto ficou branco, e deduzi que o porquê ela já sabia. Olivier não tinha mais cinco anos, ela sempre foi inteligente demais.

- Stelinha? O que está fazendo aqui?

Sorri com sua reação.

- Não posso mais vir ver a tia? - brinquei.

Tia Nat encarava nós duas com pesar. Olivier jogou a bolsa no chão e lentamente caminhou até mim, encarando todo meu corpo, a procura do porquê de eu estar lá.

- Você só vem aqui quando é intimada pela mamãe ou, quando a mamãe descobriu algo sobre seu pai. - ela parou, e nos encarou. - O que está acontecendo?

Quando Natasha ia falar eu levantei a mão e toquei meu peito.

- Eu falo. - Sorri. - Tudo bem, Tia.

Apontei minha mão em direção a Olivier e a chamei.

-Vem, vamos para o nosso esconderijo. O que você acha? - perguntei com a mão estendida em sua direção. -

A baixinha de cabelos negros apertou minha mão e me puxou em direção ao seu quarto. Quando ela abriu a porta senti um calor no meio peito. Tudo aquilo me lembrava nossa infância, mesmo sem minha mãe, eu vivi muito bem com a Natasha e a Oli. As duas foram e são minha família. Cada pedacinho daquela casa tinha tanto uma parte delas, quanto minha. Tudo aquilo aflorava sentimentos bons de lembranças ruins.

- O que está acontecendo? - Oli perguntou mais uma vez. -

A puxei para a cama e apertei suas mãos.

- Sabe, Oli. Eu e sua mãe nem sempre fomos honestas. - acariciei sua bochecha com meu dedo indicador. - Minha mãe não morreu em um acidente de carro. Meu pai matou ela.

Oli paralisou assim que ouviu o que eu tinha dito. Seus olhos arregalados e sua boca em um perfeito O.

- Meu Deus! Stela, e-eu sinto muito...

Balancei a cabeça sorrindo.

- Meu pai é um problema. Ele fez muitas coisas ruins, sabe? Ele é um mafioso, acho que posso dizer assim. Eu tentei por anos conseguir provas contra ele. Mas, tudo era inconclusivo ou insuficiente. E agora, ele descobriu que estou viva.

Oli tremia.

- Ele conseguiu fotos minhas e no site dele, onde ele faz leilões de mulheres. Eu estou lá. Sendo vendida.

Oli soltou minhas mãos e se levantou da cama, com as mãos trêmulas ela passou pelo rosto e cabelos.

- Nós temos que fazer algo! V-você tem que derrubar o site e-e eu falo com Trevor. E-ele tem um tio super rico em New York, e-ele pode ajudar a gente a se livrar desse monstro. - Olivier me bombardeou de ideias em um segundo. -

Balancei a cabeça.

- Sim, posso derrubar o site, e vou. Mas, não posso envolver você e seu namorado. - com calma respondi. -

- O que? - ela gritou. - Você está louca? Está com merda na cabeça? O que você vai fazer? Vai enfrentar ele sozinha?!

Me levantei e apertei seus braços.

- Não, não vou. Mas não vou enfrentar ele com você. Sem chances. - falei balançando a cabeça em negação. -

- Por quê?! Eu não sou uma criança, Stela! Eu posso ajudar! - esbravejou tentando se soltar do meu aperto. -

A puxei para mim e segurei sua bochecha.

- Eu sei que está crescida, sei que pode ajudar, Olivier. Deus, eu sei que você pode. Mas eu preciso de você aqui. Cuidando da tia.

Seus olhos se arregalaram mais uma vez.

- O-o que? Precisa de mim.. aqui? Stela, para onde você vai?

Suspirei pesadamente e a encarei. Sua feição horrorizada quebrava meu coração, assim como fazia minha garganta se fechar.

- Vou para New York. Vou atrás do meu pai.

A Mercê De VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora