CAPÍTULO 36
Os dias passavam rápido, passei uma boa parte deles apenas deitada, encarando o teto branco de gesso. Nas semanas seguintes os dias não foram tão monótonos, passei uma boa parte deles movimentando a perna, vendo se teria muitos problemas quando enfim voltasse a andar. E nas próximas semanas, eu já estava indo e voltando por todo o hospital e era hilária as reações de Benjamin todas as vezes que me achava perambulando por aí.
...
- Stela! - a voz grossa e imponente me fez estremecer e rir com vergonha.
Benjamin era o adulto e eu, a criança sem noção. E a todo momento ele não me deixava esquecer disso, e isso até poderia me deixar irritada, se não fosse tão gigante o prazer de vê-lo tentando manter a calma.
- Se você quer manter a pele da sua linda bundinha branca e intacta, é bom dar meia volta e ir para o quarto, Stela!
Acho que não preciso dizer que era algo adorável de ver. Eu havia descoberto que amava tirá-lo do sério. Era ótimo vê-lo se segurando.
- Bem.. acho que vou continuar por aqui então.
Os olhos azuis ficaram escuros e eu sorri, me deliciando.
- Stela..
- Tá, eu já entendi! - me dei por vencida e caminhei devagar até o meu quarto.
Pelo caminho eu reconhecia alguns pacientes e enfermeiras, eu era boa em fazer amizades. Acho que igual a minha mãe.
- De novo perambulando, Estrela? - Anne gargalha.
Anne era uma das enfermeiras que me ajudavam quando podia. A bela negra de olhos pretos era a simpatia em pessoa. Dei de ombros, envergonhada e sorri.
- Bem, o que posso fazer? Não aguentava mais ficar naquele quarto..
A negra baixinha revira os olhos com um sorriso no rosto e sai indo em direção a ala pediátrica. Quando a segui com os olhos eu dei de cara com o Benjamin atrás de mim, me seguindo como uma sombra escura e malévola. Seu rosto inexpressivo me encarava por cima, sua aura era totalmente assassina.
- Continue.
Foi a única coisa que ele disse. Antes de fazer o que ele mandou, eu observo sua posse, Benjamin parecia um segurança. As mãos em frente ao corpo, uma posse clássica de seguranças. Suspirei e continuei andando. Nas semanas que passei aqui, eu não tive coragem de confronta-lo sobre a ideia de ele ser um mafioso. Deus.. eu não conseguia nem pensar na possibilidade. Mas, observando suas atitudes, tudo aquilo estavam tão escancarado, que me acho burra por não ter percebido.
Assim que entrei no quarto, as mãos fortes de Benjamin enlaçaram minha cintura e me puseram na cama. E infelizmente meu corpo já estava se acostumando com isso, até posso dizer que gostava disso. Com cuidado ele levantou minhas pernas e puxou os lençóis, me cobrindo até a barriga. Enquanto ele fazia isso, meus olhos captavam cada gesto do seu corpo. Suas mãos grandes e firmes arrumando o lençol, seus olhos compenetrados em observar todo o meu corpo, procurando algum indício de desconforto e sua boca carnuda, que ele sem perceber mordia o lábio inferior, totalmente inerte.
Eu queria odia-lo por ter escondido isso de mim, eu realmente queria, mas.. como eu poderia? Como eu posso odiar algo que meu coração ama? Minha mente tenta me fazer entender que isso era o certo a se fazer, mas, todo o meu corpo diz o contrário.
- Benjamin?
Minha voz estremeceu e isso o fez ficar assustado. "Como eu posso odiar esse homem? Como?"
- Você tem algo para dizer pra mim? - podia sentir minha garganta doer, junto com todo o meu peito.
Eu queria ele longe de mim, mas, ao mesmo tempo odiava a ideia de ficar longe dele.
- Eu deveria ter?
Sua resposta me faz retorcer meu rosto e balançar a cabeça com a decepção visível.
- Para de mentir pra mim..
Agora vejo seu rosto finalmente demonstrar algo. Medo. Ele estava com medo.
- Stela.. princesa..
Levanto meu dedo e ele se cala no mesmo segundo. Já podia vê-lo em um belo borrão, causado pelas lágrimas que atrapalhavam minha visão.
- Eu sei que você não me deve explicações, eu sei! Mas, não passou pela sua cabeça em me dizer com o que mais você trabalhava, Benjamin? - sinto as lágrimas se derramarem e minhas emoções tomarem conta da minha razão. - Não passou pela sua cabeça que, sei lá, Benjamin, você não me deveria pelo menos um pouquinho de consideração?!
Minha voz já tomava conta de todo o quarto, se sobressaindo a qualquer som no lugar totalmente branco. Benjamin não pareceu insultado ou irritado, ele parecia envergonhado.
- Você sabia que meu pai era um mafioso, então, não quis me contar que tinha o mesmo trabalho que ele?! Há, você deve ter deduzido que eu te repudiaria, não é? Você não podia perder a sua "princesinha" não é? - entre as lágrimas um sorriso doloroso tomou meus lábios.
Ele não me respondia, ele não correspondia aos meus insultos ou gritos. De cabeça baixa Benjamin aceitava cada uma das minhas histerias, sem um pingo de raiva. E isso me irritava mais ainda, eu queria brigar, queria que ele também gritasse, queria que ele me deste um motivo para odia-lo.
- Será que algo foi importante pra você? Ou eu só fui algo interessante no momento, que não valia a pena fazer você contar seu segredo? - minha voz baixa e amargar fez meu peito doer.
E incrivelmente ele teve reação. Benjamin me encarou pela primeira vez, surpresa e dor em sua feição. Com força ele apertou o ferro de segurança da cama e eu o encarei. Minha sobrancelhas franzidas, me forçando a não chorar. Ele apoiou os cotovelos no ferro, ficando na mesma altura do meu rosto.
- Você não disse isso. Não pra mim. - ele realmente parecia não acreditar.
Virei meu rosto e coloquei toda a minha atenção no relógio na parede. Não queria encara-lo.
- Eu não disse nada pra você por medo e vergonha. Tinha medo da sua reação, se você quisesse fugir de mim, o que eu faria? Eu sabia que não ia deixar você ir. Não quando eu desejo tanto você, não quando você já virou uma parte de mim.
Ouço sua voz falhar e fecho meus olhos com força, engolindo com dificuldade.
- Eu não ia te deixar ir embora, eu sabia disso. E sabia que você me odiaria, como odeia agora. Sabia que você ia me comparar com seu pai. Eu não queria isso, eu tinha vergonha, medo. Eu tenho medo de você me deixar e me odiar, por quê eu não posso viver sem você. E não posso viver em um mundo onde você me odeia, Stela.
Quando seu soluço fugiu dos seus lábios eu não pude me conter e me virei de supetão, encarando seu rosto, vermelho e totalmente tomando por lágrimas, e assim que seus olhos se encontram com meus, ele abaixou a cabeça e escondeu o rosto entre os braços, continuando a chorar copiosamente. Não aguento e deixo as minhas lágrimas saírem, nossos soluços desconexos se fundindo pelo quarto.
- Porra, eu te amo e não queria que me deixasse!
Sinto meu peito errar a batida e meus olhos arregalarem.
- O-o que?
- Eu te amo com todo meu coração, eu não podia te deixar me odiar! Eu não podia! Não você!
Me ama? Benjamin me ama?
- Você me ama? - incrédula eu pergunto, tendo sua atenção voltada a mim.
Seu rosto doloroso e molhado me fazem sentir dor. Queria abraça-lo e beija-lo, o protegendo em meus braços.
- Sim, Stela. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo com todo meu ser. Eu te amo, princesa.
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A Mercê De Você
Roman d'amourQuando mais nova Stela teve sua vida arruinada pelo homem que dizia ser seu pai. Agora, fugindo contra seu passado ela se vê em um beco sem saída, precisando voltar a New York, onde o seu monstro está a espreita. - Você precisa mesmo ir? - disse Ol...