Joaquim acordou naquele dia e decidiu que estaria de bom humor — apesar de todas as circunstâncias estarem contra o seu próprio desejo. Talvez se ele passasse o dia todo enfurnado dentro da cozinha, evitando corredores e banheiros da empresa, ele nem chegasse a ver sinal do ditador pessoal dos Kravtsov.
Ou talvez Felipe fosse do tipo de empresário que quase não ia trabalhar, sempre se pode confiar nos ricos para jogar obrigações sobre as costas dos outros, não é?!
Quando chegou a KravInc a primeira pessoa que Joaquim viu foi Aluísio, e ver seus amigos sempre o deixava muito animado, então ele pensou que conseguiria cumprir com sua decisão.
— Obrigado por vir nos ajudar, Sissi! — Joaquim disse, depois que as tias o cumprimentaram, os dois seguiram conversando animados em direção a cozinha.
— De boa, véi — Aluísio respondeu, passando o braço no do amigo. — Sinceramente já tô cansado de ficar parado sem fazer nada, o capitalismo me venceu mesmo!
Eles continuaram pelo corredor, rindo juntos.
Dentro do contrato que Joaquim assinara para a empresa estava determinado que ele ofereceria comidas e bebidas, e como no evento haveria um coquetel, isso significava que ele precisava de um barman. Para a sorte de Joaquim, Aluísio havia tido uma crise de identidade pouco depois de se formar no ensino médio e fez um tanto de curso pra descobrir sua real vocação, o curso de barman estava nessa lista.
Imagina só o que mais ele estudou.
— O capitalismo te venceu e me deu uma vitória — Joaquim diz rindo. — Só preciso que a gente faça uma lista de ingredientes para as bebidas e depois a gente vai pro minibar do salão de festas, ver o espaço que você vai trabalhar!
As tias de Joaquim haviam separado o dia para fazer coisas que se podia guardar na geladeira, como geleias de frutas e outros doces. Os funcionários da cozinha pareciam estar amando fazer algo diferente do costumeiro almoço para os funcionários, e ficavam atentos a Sabrina e Ângela, como se fosse um curso de culinária.
Joaquim montou rapidamente a lista de compras com Aluísio porque estava animado para passar o dia com o amigo falando de bebidas — e quem sabe provando algumas, por questões trabalhistas, claro.
Eles correram até o salão de festas e ficaram encantados: era um espaço amplo no segundo andar, o chão coberto por carpete azul-escuro, as janelas grandes que iam do chão ao teto iluminando as paredes e as mesas e cadeiras que estavam sendo arrumadas por alguns funcionários uniformizados com camisas que tinham a logo da empresa.
Joaquim puxou Aluísio para o fundo, onde havia um longo balcão de madeira em frente a uma parede decorada com aqueles quadros bregas que imitam anúncios antigos.
— Uou — Aluísio exclamou quando passaram pela portinha lateral do balcão. — Tem todo tipo de bebida aqui!
Eles se abaixaram em frente a uma pequena cômoda posta ao lado de uma pia e abriram, encontrando garrafas e mais garrafas e os utensílios para preparar os drinks.
— Vamos ajeitar isso! — Joaquim pegou a caixa com os utensílios e as levou até a pia, começando a lavá-las.
Enquanto Aluísio retirava as bebidas, um dos funcionários se aproximou, os cumprimentando, e disse:
— Chegaram essas caixas hoje, devem ser bebidas. E também abastecemos o congelador!
Ele apontou para o outro canto do balcão, em que eles não haviam olhado, onde tinham quatro caixas grandes e uma pequena.
— Valeu! — Aluísio agradeceu, antes do cara voltar para a organização das mesas.
Joaquim ficou assistindo o amigo abrir as caixas e encontrar garrafas de vodca, gin, vinho tinto, branco e rosé, whisky e licor. Estava tudo certo, só que na última caixa, a menor, o que encontraram foi um monte de garrafinhas de molho de pimenta.
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KravtQuim - Máfia e Pão (Irmãos Kravtsov)
RomanceNão faz muito tempo que os Kravtsov se estabeleceram em Minas Gerais, mas o pouco tempo foi suficiente para que se tornassem a família mais importante de Belo Horizonte. Entre contrabandos e a gestão da multinacional KravInc, os irmãos Aleksei e Fel...