Eles estavam no escritório principal do shopping. Quatro homens, todos de pé, encarando os pedaços de plástico encima da mesa.
Felipe e Aleksei se encararam, o olhar deixando claro que a confusão a respeito da situação era compartilhada pelos dois irmãos.
— Que porra é essa? — foi Felipe que perguntou, claro.
Aleksei havia crescido mais próximo ao pai, tendo aulas sobre administração, cultura e arte — porque um bom líder está aberto ao mundo e não somente ao dinheiro —, já Felipe crescera próximo aos guardas, aprendendo a atirar e juntando uma coleção de xingamentos e palavrões que, sim, muito o orgulhava, obrigado por perguntar!
— Destroços de uma bomba de fumaça — Santos respondeu, olhando de um irmão para o outro.
Se Samuel era o apaixonado pela violência e pela dor, Santos era o aficionado por tecnologia. Muito do sistema de segurança dos Kravtsov era resultado dos estudos e das crianças dele.
— Parece que foi um ataque pra chamar atenção — Samuel comentou, cruzando os braços.
Os dois eram os mais confiáveis entre os guardas, por isso trabalhavam tão próximo aos Kravtsov. Mas, de qualquer forma, Felipe e Aleksei consideravam todos os seus guardas como Kravtsov também, mesmo que não tivessem o nome na certidão de nascimento. Ser da máfia era mais que um negócio, ser um segurança era mais do que um emprego: eles eram uma família, e assim como toda a família, cada um deles tinha um papel a cumprir.
— Tiros e perseguições antes, mãos cortadas e bombas de fumaça agora? — Aleksei questionou, puxando a cadeira de couro atrás da mesa e se sentando. — O que eles estão tentando fazer?
— Talvez passar uma mensagem — sugeriu Santos. — Estão vindo devagar, porém muito mais brutal e a vista de mais pessoas.
— Estão tentando manchar o nosso nome — Felipe afirmou, e percebeu que havia dito algo parecido naquele dia, porém em um contexto mais divertido. — As pessoas saíram correndo depois que essa merda explodiu.
— Hora do controle de danos — Aleksei pegou o telefone do bolso e começou a digitar furiosamente. — Felipe diga aos repórteres que vamos abrir uma loja de importados naquele espaço e que algum aparelho entrou em curto circuito. Santos e Samuel, olhem as câmeras de segurança e tudo mais o que for possível para tentar identificar quando essa coisa foi colocada aqui no shopping e se tem mais alguma por aí!
Um a um eles saíram da sala, deixando, enfim, o Sr. Kravtsov sozinho.
*
Samuel disse a Santos para ir sozinho a sala de vigilância buscar pelas filmagens de segurança e desceu pelo corredor do shopping, pensando em ir até a loja onde ocorrera a explosão.
Diferente de meia-hora antes, o KravtShopping estava começando a ficar vazio, apenas alguns poucos corajosos — e curiosos — haviam continuado após o que havia ocorrido. Samuel passou em frente a um canteiro com um jardim elevado e assim que as plantas saíram de sua visão, ele avistou Aluísio parado em frente a padaria de Joaquim.
Instantaneamente ele saiu do modo segurança e entrou no modo Homem Safado.
— Ei, doutor! — ele já estava sorrindo quando Aluísio se virou, o encarando com animação no olhar.
— Oi, Samuel — ele enfiou as mãos nos bolsos frontais da calça. — Como que tá o braço?
Dois dias antes ele havia dado alta para Samuel ao perceber que ele já estava praticamente de volta ao normal e só precisaria continuar com alguns exercícios em casa para ficar 100%.
— Tá ótimo, graças a você — ele parou em frente a Aluísio e cruzou os braços em frente ao corpo.
— O que tá se passando por essa cabecinha cheia de pensamentos? — Aluísio questionou, cerrando os olhos.
— Então — Samuel coçou a cabeça, fingindo timidez. — Agora que não sou mais seu paciente, posso te convidar pra sair?
Ele ficou ainda mais animado ao ver que Aluísio mordiscou o lábio inferior, tentando não sorrir.
— Me dá seu telefone — ele ordenou e Samuel o obedeceu, rapidamente tirando o aparelho bolso interno do paletó preto.
Aluísio digitou rapidamente e depois devolveu o celular.
— Meu número pessoal — ele explicou. — Me manda uma mensagem pra gente combinar algo!
— Pode deixar que eu vou — Samuel respondeu sorrindo e fez uma reverência antes de continuar seu caminho.
*
Já estava de noite quando Joaquim caminhou em direção a saída do shopping após fechar a padaria. Aparentemente aquela seria a rotina deles por muito tempo até que pudessem contratar um ajudante: as tias iriam embora na frente e ele teria que se virar pegando a lotação ou chamando um carro de aplicativo.
Por sorte, Aluísio havia aparecido após o fim de seu expediente naquele dia e daria uma carona para ele.
— Saindo? — a voz de Felipe apareceu antes dele e Joaquim parou a poucos metros da saída, se virando para encará-lo. — Quer uma carona?
— O Aluísio foi pegar o carro — Joaquim explicou. — Que dia o estacionamento fica pronto? É mais chique sair de lá do que precisar descer a rua e pegar o carro.
Felipe soltou um risinho e passou a língua sobre o lábio superior antes de responder.
— Estamos agilizando isso — explicou. — Passo pra te buscar as oito, beleza?!
— Ah, sobre isso — Joaquim falou, se lembrando de uma coisa.
Depois daquela confusão da explosão, ele havia corrido até o sex-shop no último andar do KravtShopping e feito uma compra um tanto quanto divertida.
Joaquim rapidamente tirou uma sacola preta de sua mochila e entregou para Felipe.
— O que é...? — Felipe enfiou a mão na sacola, pensando em tirar o conteúdo, mas parou no meio do caminho, claramente entendendo o que era.
Ele levantou a cabeça, o rosto todo corado, vermelho como pimentão. Joaquim não se segurou e começou a rir.
— É pra você estar usando isso quando me buscar hoje!
— Eu não... — Felipe começou a dizer, mas Joaquim logo o interrompeu.
— Não vai me dizer que você é do tipo que não cumpre apostas!
Felipe respirou fundo, mordendo o lábio inferior. Parecia que ele nunca mais perderia a cor do rosto. Joaquim achou isso fofo.
— Se é do seu desejo — respondeu por fim.
— É sim, e muito! Te espero mais tarde!
E então Joaquim saiu saltitando, todo animadinho e se sentindo ansioso para o encontro deles.
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KravtQuim - Máfia e Pão (Irmãos Kravtsov)
RomanceNão faz muito tempo que os Kravtsov se estabeleceram em Minas Gerais, mas o pouco tempo foi suficiente para que se tornassem a família mais importante de Belo Horizonte. Entre contrabandos e a gestão da multinacional KravInc, os irmãos Aleksei e Fel...