Capítulo 8 - FAÍSCAS

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Naquele dia Joaquim acordou extremamente cedo, assim como manda o código de conduta dos padeiros. Quando chegou ao prédio da KravInc com as tias, ele jurou que seriam os primeiros, mas já estava uma correria de funcionários, se apressando para terminar de organizar tudo o que era possível.

Eles correram para terminar de assar o que deveria ser assado, rechear o que deveria ser recheado e cortar o que deveria ser cortado. Logo eles estavam no salão de festas, colocando as tortas, bolos, pães, biscoitos e todo tipo de comida (muito gostosa) encima de uma longa mesa decorada.

— E aí, o que eu posso fazer? — Aluísio apareceu no início do horário comercial, enquanto Joaquim colocava algumas travessas em um carrinho de ferro para levar ao salão.

— O que você tá fazendo aqui? O coquetel é só no último dia do congresso!

Joaquim saiu empurrando o carrinho e o amigo o seguiu.

— Eu tava em casa sem fazer nada e sabia que você estaria surtando precisando de ajuda.

Fazia sentido ele ser um dos melhores amigos de Joaquim.

Eles entraram juntos no salão e Joaquim logo avistou Felipe perto da mesa de comidas, avaliando tudo como se fosse um jurado de programa culinário.

O carrinho parou junto a grande mesa, mas infelizmente (para Joaquim) as rodinhas não passaram por cima de um dos pés do empresário.

Felipe encarou Joaquim por um momento, a expressão séria e o olhar fechado que poderia cortar uma maçã, mas o padeiro não tinha tempo para se preocupar com cara feia naquele dia.

— Está do seu agrado? — ele questionou, enquanto ia colocando os pratos sobre a mesa, com a ajuda de Aluísio.

— Visualmente está ótimo — Felipe disse de forma ríspida. — O que me preocupa é o gosto que nossos convidados irão sentir.

— Não se preocupe, os temperos especiais são apenas para pessoas especiais.

Felipe soltou uma risadinha irônica.

— Pessoas especiais estão pensando em agradecimentos especiais!

— Contando que pessoas especiais sigam o pagamento especial acordado em contrato!

Aluísio soltou um pigarro, enquanto segurava um envelope que estava sobre a mesinha de ferro.

— Alguma pessoa especial pode me explicar o que fazer com isso aqui?

Joaquim pegou o envelope e o abriu, tirando dele as plaquinhas com o nome das receitas dispostas sobre a mesa e, em uma fonte menor, os ingredientes em cada uma delas.

— Deixa que eu coloco isso!

— Sr. Kravtsov — alguém chamou ao fundo. — Pode vir aqui, por favor?

— Vê se faz isso certo — Felipe encarou Joaquim uma última vez. — Se eu ver alguém saindo correndo para vomitar no banheiro, esse contrato vai ter um fim bastante especial para mim!

E então saiu andando, sem que Joaquim tivesse chance de dizer qualquer coisa.

— Eu vou dar a ele um copo de ácido muriático pra beber! — ele falou para Aluísio, e andou até a outra ponta da mesa, apressado para colocar as plaquinhas.

*

Aluísio ficou parado, vendo o amigo se afastar para um lado enquanto o Sr. Kravtsov seguia para outro, ainda se sentindo chocado por vê-los discutindo.

— Você trabalha na cozinha?

Ele se assustou ao ver o cara se aproximando de repente, carregando uma caixa ao lado do corpo apenas com o braço direito porque o esquerdo estava em uma tipoia.

KravtQuim - Máfia e Pão (Irmãos Kravtsov)Onde histórias criam vida. Descubra agora