Capítulo 38 - CONSELHO DE GUERRA

28 9 2
                                    


A empregada deixou a bandeja com as xicaras e o bule de chá e saiu do escritório logo em seguida, sem dizer uma palavra sequer.

Aleksei olhou por um momento a mais para a planilha que indicava a queda das "parcerias comerciais" da família e a fechou logo em seguida, se esticando sobre a mesa para se servir uma xicara de chá.

— Estamos ferrados? — Felipe perguntou, encarando o irmão.

Faziam duas semanas desde que haviam descoberto que Sara, ex-esposa de Aleksei e a mãe do único herdeiro da dinastia Kravtsov, era a grande mandante dos ataques a família, e as coisas pareciam piores a cada dia que passava.

Não demorou para que a notícia da traição se espalhasse entre os grupos ilícitos da cidade, e a ideia de uma família que era berço de tantas intrigas e traições não parecia ser bem vista por outros mafiosos. Naquele curto período eles haviam perdido negócios, parceiros e diversos privilégios.

— Não... ainda! — Aleksei respondeu. — O ataque daquele dia acabou nos deixando fragilizados, alguns de nossos dados foram roubados e apagados logo em seguida. Eu nem mesmo sei tudo o que perdemos!

— E não estamos ferrados ainda? — Samuel questionou, claramente falando por impulso, e Felipe soltou um risinho.

Felipe e Samuel estavam sentados nas cadeiras em frente a mesa de Aleksei e Santos estava em pé entre eles — ele era o único que não havia dito uma só palavra desde que a reunião se iniciara.

— Financeiramente estamos ótimos — Aleksei explicou. — Todos os nossos empreendimentos financeiros estão melhores do que nunca, a KravInc fez mais importações nos últimos seis meses do que o ano passado inteiro... O que me preocupa é nos tornarmos um alvo para os outros grupos.

— A gente precisa se fortificar, senhor — Santos disse, chamando a atenção dos quatro. — Mais do que nunca precisamos estar unidos!

— O que você sugere, Santos? — Aleksei perguntou, se sentindo realmente interessado no que ele tinha para dizer.

— A maioria dos guardas se sente perdido, eles não sabem em quem devem confiar, não sabem quais colegas podem acabar traindo eles nos momentos de necessidade — ele afirmou. — Precisamos, antes de tudo, afastar os cansados e as frutas podres.

— Legal, como vamos fazer essa colheita? — Felipe perguntou, parecendo animado.

*

Uma hora depois eles estavam no salão de treinos que ficava nos fundos da propriedade de Kravtlândia. Era um grande espaço dividido entre academia, tatame e um local para crossfit preparado pelo próprio Sr. Felipe Kravtsov — claro!

Aleksei parou na frente do salão, próximo a saída, e olhou para aquele monte de homens e mulheres engravatados, abarrotados e se espremendo curiosos para descobrirem o que seria dito naquela reunião.

Sendo sincero, ele também queria descobrir! Tinha uma ideia na cabeça do que queria expressar, a mensagem que queria enviar a eles, mas não tinha pensado ainda nas palavras certas para dizer.

— Boa tarde a todos — ele disse, por fim, o que fez burburinhos se acabarem. Ele tinha a atenção de todos. — Peço perdão pela demora para convocar uma reunião e conversamos sobre os últimos ocorridos. Nossa família foi tão atacada nos meses que passaram que foi preciso um tempo para nos organizarmos depois de tudo isso.

Ele deu uma olhadela para o irmão, parado na frente do grupo, a sua esquerda, com Samuel e Santos ao seu lado.

Desde que o pai morrera, anos antes, quando tinha pouco menos de 30 anos, Aleksei assumira a liderança da família e suas obrigações com mãos de ferro — ou de ouro, como gostaria de dizer Felipe —, sempre tomando a frente quando necessário, acolhendo as demandas, decidindo o que faria. Ao longo de sua vida ele fora treinado de perto pelo pai, preparado para assumir aquele papel e, desde que fora obrigado a se sentar naquela cadeira no escritório, ele fazia o que lhe devia. Porém, em todos os anos, aquele era um dos raros momentos em que se sentia nervoso.

KravtQuim - Máfia e Pão (Irmãos Kravtsov)Onde histórias criam vida. Descubra agora