Capítulo 49 - OS ROMANO

34 7 13
                                    


Joaquim não conseguira dormir bem naquela noite e com toda certeza isso estava estampado em seu rosto — não dava pra ignorar as olheiras gigantescas e os olhos quase se fechando de tão inchados que estavam. Ele estava parado do lado de fora do Kravtshopping, embora parecesse um risco ser visto ali. Felizmente, Mattia não demorou a chegar e logo ele se apressou para entrar no carro.

— Por que não me esperou lá dentro? — o rapaz questionou, enquanto saía com o carro.

— A gente não abriu a padaria hoje — ele respondeu. — Minhas tias beberam demais ontem, sem condições de eu comandar sozinho aquela correria toda.

Mattia soltou um risinho e perguntou sobre a cara fechada dele, Joaquim soltou um suspiro desanimado enquanto explicava que não conseguira dormir direito. Ele tirou o tal dispositivo no bolso de sua jaqueta, o levantando em frente ao rosto.

— Tem certeza de que esse treco funciona?

— Com certeza — Mattia sorriu de orelha a orelha. — Acho que nós dois formamos uma boa dupla!

Joaquim apenas balançou a cabeça. Ele olhou pela janela do carro e não reconheceu as ruas que estavam seguindo.

— A gente não está indo para a Vila Romano? — indagou, não entendendo nada.

— Ah, não. Vamos a minha casa, quero que você conheça o meu pai.

Mas já? As coisas estavam bem mais sérias do que o padeiro imaginava.

*

A casa dos Romano tinha um conceito aberto que fez Joaquim se lembrar do centro logístico deles que estava em construção — talvez aquilo fosse um estilo típico italiano, porém ele não entendia nada de arquitetura.

Mattia parou o carro em um espaço gramado, debaixo de uma grande árvore e quando desceram eles caminharam em direção a um portão de grades brancas que se abria para um pátio com cara de antigo, mas muito bem cuidado.

Havia um grande canteiro central, cheio de rosas e outras plantas coloridas, e ao lado dele tinha uma pequena mesa de metal pintado de branco. Junto a mesa estava um homem mais velho sentado, tomando café e lendo um jornal.

— Papà! — Mattia chamou, animado, se apressando até o homem e Joaquim o seguiu. — Este é o Joaquim, o amigo de quem te falei.

Será que todos os italianos tinham o costume de tentar beijar os amigos na boca?

— Ah, olá, Joaquim! — O homem se levantou e ergueu a mão.

Joaquim o cumprimentou e não conseguiu deixar de pensar que ele tinha uma aura meio blasé.

— Bom dia, senhor Romano!

— Ele conseguiu completar a tarefa? — o Sr. Romano falou, olhando para o filho e o ignorando o cumprimento do padeiro.

Mattia olhou para Joaquim em expectativa. Rapidamente ele sacou o pen drive do bolso e entregou para o outro rapaz.

— Sávio! — o Sr. Romano gritou, voltando a se sentar. — Vamos conferir o que os Kravtsov escondem.

Uma gota fria de suor desceu pelas costas de Joaquim. E se de repente tudo tivesse dado errado? Ele não havia parado para pensar em como lidaria sozinho com toda aquela situação.

Um rapaz alto e bastante parecido com Mattia surgiu de um corredor no fundo do pátio, carregando um notebook debaixo do braço.

— Estou aqui, papà! — ele disse, andando calmamente em direção ao pai.

O rapaz puxou uma cadeira e se sentou. Logo em seguida abriu o computador e pediu o dispositivo para o irmão.

— Eu fiz uma entrada criptografada, então vai levar alguns minutos — Sávio avisou.

— Você quer tomar café enquanto isso, Joaquim? — Mattia ofereceu. — Nossa cozinheira é uma padeira de mão cheia.

Uai, ele tinha uma padeira em casa e batia ponto todo dia na Pão de Céu?

— Não, obrigado, estou sem fome!

Ele aceitaria muito um lugar para se sentar, mas ninguém da família parecia inclinado a lhe oferecer.

— Eu sabia que você não aguentaria eles por muito tempo! — a voz surgiu a direita de Joaquim, e ele precisou de um tempo para raciocinar, porque não imaginou que ouviria alguém conhecido naquele momento.

Ele se virou devagar e viu Sara, a mãe de Nikolai, se aproximando com um sorriso largo no rosto.

— Sara? — o nome saiu da boca dele em um choque.

— Ah, Joaquim, você já conhece a minha irmã, não é?! — Mattia comentou, parecendo animado. — Na verdade, o nome dela é Bela!

— É ótimo poder ser eu mesma, finalmente! — ela afirmou, parando atrás da cadeira do pai.

— Estou quase lá — Sávio avisou.

Joaquim mordeu o inferior da bochecha, nervoso.

Foi então que tudo aconteceu rapidamente: um monte de homens entrou no pátio, vindo dos fundos da propriedade, com armas em mãos.

— O que aconteceu? — o Sr. Romano se levantou apressado, encarando seus seguranças.

A Joaquim pareceu muito estranho que eles não tivessem um código de vestimenta como os seguranças dos Kravtsov. O padrão italiano seguia um conjunto de calças jeans em diferentes tons e camisa de botões estampadas que era totalmente diferente do padrão russo.

— O portão da entrada foi arrebentado — um dos homens gritou. — Estão invadindo a propriedade!

Joaquim de repente respirou fundo, como se estivessem a ponto de proibir que todo o oxigênio do planeta chegasse até ele.

— Que merda é essa? — Sávio Romano gritou de repente, começando a bater aleatoriamente sobre as teclas do computador. — Essa coisa apagou meu pc!

— Joaquim? — Mattia se virou, o encarando.

O padeiro levantou as mãos, dando a entender que com toda certeza não entendia nada do que estava rolando ali.

No minuto seguinte, os engravatados invadiram o pátio.

Parecia um mar em preto e branco, todos os ternos parecendo novinhos em folha. Felipe e Aleksei estavam a frente, guiando o imenso grupo de homens armados que os acompanhava.

Eles pararam a pouco mais de um metro de distância de Joaquim e os Romano, os encarando com expressões fechadas.

Um novo arrepio desceu pelas costas do padeiro, gelado como se lhe soprassem a pele. Estranhamente, naquele momento, ele sentiu que uma crise de riso ameaçava lhe subir pela garganta.

— O que está acontecendo aqui? — o Sr. Romano gritou, raivoso.

Joaquim deu um passo a frente e levantou a mão, imitando uma arma, apontando para Felipe.

— Você me rastreou?

— Eu te encontraria até no inferno — Felipe disse, o olhando com a cara fechada.

— Eu te disse que eu não era um mocinho! — Joaquim afirmou, o lábio repuxado de lado em um sorrisinho sapeca.

Então, Felipe sorriu de volta para ele.

KravtQuim - Máfia e Pão (Irmãos Kravtsov)Onde histórias criam vida. Descubra agora