Mattia Romano era o mais novo de 3 filhos, o que significava que ele crescera tendo a sua voz silenciada.
Decisões sobre seus aniversários? Sua mãe quem tomava.
Visitas a parques? Seus irmãos quem escolhiam.
Responsabilidade nos negócios da família? Seu pai nunca lhe dera.
Por anos, ele foi rebaixado e renegado, e esse era o tipo de coisa que magoava. Por sorte, ele tinha um psicólogo muito bom que o atendia uma vez por semana. Agora que os Romano haviam estabelecido residência fixa em Belo Horizonte, o rapaz tinha certeza de que estava pronto para tomar um pouco dos negócios dos Romano.
Naquele dia, uma segunda-feira, todos os integrantes da família estavam no escritório do patriarca da família, para a reunião mensal de negócios.
Seu pai falou sobre os negócios ilícitos — a venda de contrabandos, a exportação que representava a maior receita da família —, seus irmãos repassaram suas obrigações e a mãe dele ficou em silêncio, como sempre, fazendo compras em seu telefone.
E então, ele sentiu que era a sua oportunidade.
— Papà — ele disse, chamando a atenção do homem sentado do outro lado da mesa de madeira escura, uma peça antiga que haviam trazido da Itália. — Tenho um pedido a fazer!
Andrea Romano era um homem fechado, nunca fora do tipo que distribui carinhos e palavras amigáveis aos filhos, mas com o passar dos anos havia dado mais e mais responsabilidades aos dois filhos mais velhos, ao ver que faziam bem os trabalhos que eram confiados a eles. Então, talvez — Mattia torcia — ele pudesse pensar no caçula com tanto respeito quanto pensava nos outros.
— O que você quer, Mattia? — perguntou, a voz naquele limiar entre a exasperação e a calma.
— Quero ser responsável pelo projeto da Vila Romano — disse de uma vez, sem titubear. — Sei que sou jovem, comparado aos meus irmãos, mas venho observado o trabalho que eles vêm fazendo e... — ele sorriu para o irmão e a irmã, pensando que se bajulasse eles teria um pouco de apoio — Eu acho que estou pronto para liderar esse trabalho!
Um silêncio profundo caiu sobre a sala, Mattia se sentiu observado.
— Dê ao garoto o que ele quer, Andrea — a mãe disse de repente, sua voz estridente cortando o silêncio. — Você sempre confia muito mais na Bela e no Sávio!
A constatação cortou o coração de Mattia, mas no fim de tudo era um apoio, não era?
— Mattia — começou a falar o pai. — Você entende o quão importante é esse empreendimento para nossa família, não entende?
Ele balançou a cabeça, concordando esfuziantemente.
— Irei confiá-lo a você, mas lembre-se que um pequeno erro que cometer, será um golpe duro a nossa família.
— Não cometerei nenhum erro, eu juro!
No fim da reunião, os pais saíram para tomar café e os irmãos se aproximaram dele.
— Já tava na hora de você se impor, garoto! — Sávio disse, apertando sua mão.
— Ainda bem que você pediu esse projeto — Bela afirmou, passando a mão sobre o rosto. — Não aguento mais mexer com isso!
E, então, se sentindo animado com todo aquele apoio, ele decidiu sair para colocar a mão na massa.
*
Uma das batedeiras da padaria havia quebrado e Joaquim havia passado toda a manhã daquele dia fora, levando o aparelho para o conserto e ficando esperando que ficasse pronto.
Depois do almoço — e de ter comido duas coxinhas na rua — ele chegou ao shopping e assim que entrou na padaria, viu Mattia sentado em uma das mesas, tomando um suco e comendo um pastel.
— Ei Joaquim — o rapaz o cumprimentou. — Estava esperando por você!
— Só um momento!
Ele correu até a cozinha para deixar a batedeira e colocar o avental. Depois voltou para o salão, se sentando na cadeira de frente para Mattia.
— E aí, qual a boa? — perguntou simpaticamente.
Ele estava um poço de cansaço naquele dia, preferia mil vez passar o dia amassando pães e roscas do que sair pra resolver problemas.
— Então, tenho uma proposta para você — Mattia falou, animado. Joaquim o encarou, curioso. — Minha família vai abrir um espaço, é um negócio com uma proposta bem nova, e pensei em te convidar, talvez te convencer em investir, abrir uma filial da padaria.
Joaquim se remexeu na cadeira. Eles recebiam todo tipo de propostas desde que haviam começado com a padaria no KravtShopping, mas uma filial era algo bem incomum.
— Olha, eu preciso conversar com minhas tias — ele respondeu —, mas estaria mentindo se dissesse que não estou interessado. Me conte mais!
Mattia soltou um risinho animado.
*
Felipe estava saindo do shopping para encontrar o irmão para um brunch, mas decidiu passar na padaria antes porque fora lá de manhã e Joaquim não estava. Agora que eles estavam juntos — juntos de verdade, do tipo compromisso sério para Felipe — ele gostava de preencher todo o tempo possível vendo aquela cara barbuda e gostosa do padeiro.
Alguns de nós estaremos entendendo ele.
Felipe estava no corredor do shopping, a meio caminho da padaria, quando ele parou de repente, ao ver Joaquim, o seu padeiro particular, sentado junto com Mattia, os dois conversando animados como se fossem amigos de longa data.
Tudo bem, ele não iria negar, era estranho ver Joaquim conversando tão animado assim com outro homem. E, olhando pelo lado de que Mattia também vinha de uma família mafiosa, Felipe não podia negar que, talvez, estivessem os dois no mesmo patamar para o padeiro.
Eita, ele realmente estava com ciúmes, não é?!
— Chefinho — a voz de Samuel surgiu de repente, o trazendo para fora de seus devaneios. — Tá tudo bem?
Felipe balançou a cabeça e levantou a mão, indicando a padaria.
— Tava indo encher o saco do padeiro, mas parece que ele está ocupado!
— Ah — Samuel disse, e se apressou para segui-lo, em direção a saída. — Será que posso conversar uma coisa com você?
A pergunta despertou uma risada em Felipe.
— Desde quando você pede permissão?
Ele olhou para Samuel e o viu balançando a cabeça.
— Sabe, é... — ele fez uma pausa, eles entraram no elevador e Felipe apertou o botão para o estacionamento no subsolo. — Eu tava pensando... Sei que os parceiros estão pulando para fora do barco dos Kravtsov, mas talvez fosse melhor evitar os Romano, mesmo que eles pareçam bem generosos.
A porta do elevador se abriu, mas Felipe não se mexeu, apenas encarou o amigo.
— Você nunca foi do tipo que liga para os negócios. Por que isso de repente?
Samuel riu, saindo do elevador e Felipe o seguiu.
— O seu pai entrou na cabeça do meu pai com aquele papo de não confiar em italianos...
Felipe riu, o interrompendo.
— E o seu pai entrou na sua cabeça, não é? Não se preocupa, Sam, eu também não confio em italianos e meu irmão é igual a mim.
Será mesmo? Tempos de desespero derrubam as maiores das barreiras. Pelo menos é o que dizem!
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KravtQuim - Máfia e Pão (Irmãos Kravtsov)
RomanceNão faz muito tempo que os Kravtsov se estabeleceram em Minas Gerais, mas o pouco tempo foi suficiente para que se tornassem a família mais importante de Belo Horizonte. Entre contrabandos e a gestão da multinacional KravInc, os irmãos Aleksei e Fel...