Capítulo 37 - PERDEDORES

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O coração de Joaquim ainda estava acelerado enquanto Samuel o levava escadas a baixo, prometendo que conseguiria tirar aquelas algemas dele quando chegassem a Kravtlândia.

Eles passaram pela cadeira onde ele estava amarrado minutos antes e continuaram para a saída, encontrando um verdadeiro cenário de guerra, com homens caídos ao chão e sangue escorrendo para todos os lados.

— Revistamos os carros — Santos, o segurança baixinho que sempre acompanhava Nikolai, se aproximou deles. — Acho que isso é seu, Joaquim!

— Obrigado, eu escondi ele lá — Joaquim disse, pegando o aparelho e desbloqueando, já pensando em ligar para as tias.

— Você sabia que o rastrearíamos? — perguntou Samuel.

Ele estava guiando Joaquim para um dos carros.

— Eu desejei que rastreassem — ele respondeu. — Mas também fiquei com medo dos outros caras o acharem e quebrarem. Eu ainda tô pagando esse negócio!

Os seguranças caíram na risada.

Os três seguiram com o carro, indo embora na frente. Joaquim gostaria de voltar com Felipe, mas entendia que eles tinham trabalho para fazer ali.

*

Como prometido, Samuel conseguiu arrancar as algemas de Joaquim, o que fez ele pensar que jamais desvalorizaria o ato de abrir os braços em direções opostas — um ato muito importante para seres humanos que gostam de abraçar.

Logo depois o levaram a cozinha para tomar uma água e comer um lanche, o que ele aceitou de bom grado. Ele sempre achara que se passasse por uma situação de vida ou morte perderia completamente o apetite, mas, sendo bem sincero, ele nunca sentira tanta fome como naquele momento.

Ele aproveitou para ligar para as tias e os amigos, contou que estava bem e que eles teriam que virar a noite para que comentasse sobre tudo o que havia vivido naquele dia — pelo menos ele teria uma história legal para dividir com a galera.

— Joaquim — Samuel entrou na cozinha, enquanto ele comia o terceiro misto. — Felipe e Aleksei chegaram, eles querem conversar com você!

Ele largou o misto de lado de seguiu Samuel.

Eles entraram em um escritório moderno, com escrivaninha de madeira escura e um iMac branco desligado. Aleksei estava sentado junto a mesa, logo atrás dele tinha uma grande estante abarrotada de livros antigos.

Será que os Kravtsov gostam de ler clássicos do romantismo?

— Ei — ele disse, entrando na sala e só então vendo que Felipe estava escorado na parede a sua esquerda, perto do irmão.

— Sente-se, por favor — Aleksei pediu e ao olhar para Felipe, Joaquim o viu balançando a cabeça.

Ele se acomodou, cruzando os braços como se aquela cadeira pudesse prendê-lo exatamente como aquele assento de ferro no prédio abandonado.

— Como você está? — Aleksei o perguntou.

— Eu tô bem, é... — ele deu um pausa e coçou a cabeça. — Será que posso falar de uma vez tudo o que eu sei? Eu preciso muito conversar a sós com seu irmão!

Aleksei soltou um risinho e pediu que ele continuasse.

Joaquim não poupou detalhes, contando desde o momento em que fora capturado, sobre como deixara o telefone no carro e também o quanto ficara surpreso ao encontrar Grigori e Sara. Ele contou sobre o que ela falara, sobre seu plano para acabar com os Kravtsov e tomar o tal poder metafórico deles — isso ele decidiu acrescentar por conta própria.

— Eu jamais imaginei — Aleksei comentou.

— Nenhum de nós imaginou — Felipe se aproximou do irmão, colocando a mão sobre seu ombro.

— Ah, ela explicou isso também — Joaquim continuou. — Ela disse que o sobrenome que vocês conhecem é falso, o sobrenome real dela é outro.

— E qual é? — Felipe perguntou.

— Não deu tempo de descobrir e sinceramente eu não me importei muito!

Aleksei o agradeceu por conseguir descobrir tantas coisas para eles e disse que, apesar de terem sofrido um baque naquele momento, era bom finalmente saberem com certeza com quem estavam lidando.

*

Felipe e Joaquim saíram juntos do escritório. Apressadamente, Felipe segurou na mão do padeiro e o puxou por um corredor, saindo na lateral da casa onde ficava a piscina e um jardim amplo, com um grande quiosque coberto por telhas alaranjadas antigas.

Eles seguiram até o centro do quiosque e se sentaram frente a frente nas cadeiras que ficavam junto a uma grande mesa de madeira.

— Tá tudo bem, mesmo? — Felipe perguntou, segurando nas mãos dele. — Pode falar a verdade!

Joaquim o encarou por um segundo e então puxou as mãos, começando a bater em Felipe.

— Seu viadinho de merda! — ele falou, com raiva. — Você tava pensando em ir embora? Eu vou acabar com você!

Felipe soltou uma risada e então se inclinou, o puxando para um abraço. Só assim ele parou de apanhar.

— Me perdoa — ele pediu, se afastando e encarando Joaquim com aquele olhar de cachorro pidão. — Eu fiquei com tanto medo de que você se ferisse por minha culpa, que eu só aceitei ir embora e me afastar de você.

— Foda-se — Joaquim afirmou. — Eu que devo escolher se quero correr riscos ou não!

Felipe abriu um sorrisinho tímido e voltou a segurar nas mãos dele.

— Eu perdi a aposta, você ganhou!

— Ah, não — negou Joaquim. — Eu perdi também, seu gigante idiota. Somos dois perdedores!

Felipe ficou tão contente, que a única coisa que pensou em fazer foi se inclinar e o puxar para um beijo longo e demorado.

Quando se afastaram, Joaquim sorriu e disse:

— Eu até perdi, mas vou ficar com aquele dinheiro pra mim!

Felipe soltou uma risada alta e apenas balançou a cabeça, concordando, antes de puxá-lo para outro beijo longo e demorado.

KravtQuim - Máfia e Pão (Irmãos Kravtsov)Onde histórias criam vida. Descubra agora