Revelação - Cap 13 parte 2.

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Em dias comuns, enquanto realizamos tarefas domésticas ou ocupamo-nos com atividades triviais do dia a dia, às vezes somos tomados por lembranças de momentos vergonhosos que preferiríamos esquecer. Esses instantes podem passar como um sopro rápido de vento frio em uma manhã que aos poucos se aquece. É uma experiência natural, mas quando se trata de um trauma, a lembrança persiste, perseguindo-nos incansavelmente. A culpa nos assombra, reacendendo as mesmas emoções daquele dia, alimentando pesadelos recorrentes.

Eram esses pesadelos que assombravam Shoto. O clima chuvoso despertava lembranças dolorosas do funeral de seu irmão Touya, envolto em uma atmosfera pesada e cinzenta que a atormentava. Podia sentir novamente a pressão em torno de seu pescoço, a respiração ofegante e o calor abrasador da floresta do Monte Sekoto consumindo tudo ao redor. Os gritos desesperados de seu irmão ecoavam incessantemente em seus ouvidos, implorando por socorro àquele que deveria cuidá-lo. Essas memórias a atacavam sempre que tentava encontrar o refúgio no sono, misturando-se em sua mente de maneira perturbadora. Além disso, os traumas físicos não curados, os machucados escondidos em seu corpo e os puxões em seu cabelo, todos ainda frescos em sua mente, acrescentavam uma camada adicional de sofrimento à sua angústia.

As lembranças se mesclavam em sua mente, causando uma agonia insuportável. Mesmo ao tentar evocar a lembrança daquela que mais amava, com suas mãos carinhosas e abraços reconfortantes que foram cruelmente tirados dela cedo demais, a angústia persistia. Era como se sua mente estivesse à beira da explosão, enquanto seu corpo queimava com uma intensidade avassaladora.

Até que um toque em sua cabeça a sobressaltou, fazendo-a despertar abruptamente. Ao olhar para cima, deparou-se com a mão do loiro de olhos rubi a acariciar suas madeixas duplas com delicadeza. A sensação era estranha para ela, embora agradecesse pelo refúgio que a Família Bakugou lhe oferecera em seu momento de fraqueza e para sua segurança, nunca havia conseguido se aproximar do filho do casal, com quem não mantinha nenhuma afinidade desde os tempos de escola.

O Bakugou Katsuki que conheceu era um tremendo idiota, com complexo de superioridade altíssimo, egocêntrico e arrogante, que se achava melhor que os outros. Resumindo: um babaca completo. Mas o estopim para sua aversão a ele foi quando o ouviu mandar Midoriya se matar, numa crueldade que a chocou profundamente. Como poderia expressar isso a alguém que nunca havia feito nada a ele? Sua primeira reação foi desejar esmagar aquele babaca até parti-lo em pedaços, mas o sardento a deteve, mesmo que ele próprio estivesse claramente abalado com a situação. Desde então, desenvolveu um senso de proteção em relação a Midoriya, determinada a mantê-lo longe da influência tóxica daquele que considerava o maior idiota que já cruzara seu caminho.

Mas agora, estranhamente, após um mês e meio convivendo com eles, Bakugou nunca havia falado com ela, não se aproximava nem iniciava conversas. Ela compreendia esse comportamento; afinal, ter uma estranha na própria casa não era exatamente confortável.

Contudo, naquela noite chuvosa e repleta de trovoadas, sentindo-se desconfortável em dormir sozinha no quarto de hóspedes, acabou por fazer a infeliz escolha de se recolher no quarto do loiro. Surpreendentemente, ele não recusou ou a mandou sair. Com o *futon ao lado da cama, deitou-se em silêncio, desejando que a noite passasse rapidamente. Mas, os constantes pesadelos que a assombravam acabaram por despertar o loiro, que sem hesitar colocou a mão em sua cabeça, compreendendo a situação atual. O toque, vindo de alguém por quem ela não tinha nenhum apreço, despertou uma sensação estranha em seu peito.

Seus olhos expressavam uma estranha mistura de compaixão e preocupação pela garota. Não era necessário proferir palavras para que ele transmitisse o que estava pensando; era como se seu toque dissesse: "Não se preocupe, você está segura agora".

O que seria de mim sem você - Dekutodo Todoroki femOnde histórias criam vida. Descubra agora