POV Rose

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– Rose, o papai quer falar com você. Ele está te esperando no escritório. – disse Jacob.

Eu suspirei profundamente. Não teria como adiar mais. Eu confesso que fiz muito mal e tudo mais, mas eu não queria passar por aquilo. Meu pai ia me lotar de perguntas e ia me fazer assumir o quanto eu fui imatura e egoísta. Saco! Eu detestava parecer uma menininha malcriada que apenas precisava de umas palmadas! E ele sempre gostava de deixar isso bem claro; nós somos as crianças e ele é o pai. Se ele pelo menos já partisse para a surra, tudo bem. Mas ele sempre ficava conversando até que descobrisse nossos mais profundos sentimentos, só para nos dizer o quanto estávamos errados e depois nos fazer passar por aquela situação constrangedora. Será que eu já não tinha tido castigo suficiente? Tudo aquilo foi uma verdadeira tormenta! Até agora eu não conseguia encarar a Sophie direito. Eu sentia uma enorme tensão entre a gente. Eu tinha pedido perdão e tudo, mas eu não conseguia encará-la. Quando eu a vi toda machucada daquele jeito, eu chorei a noite inteira. Eu não estava olhando apenas para minha irmã completamente ferida, eu também estava vendo o quão horrível era o reflexo da minha alma. Fui eu quem causou aquilo tudo. Eu fui capaz de entregá-la para aquela tortura e sofrimento. Eu fui tão cruel, tão canalha e, mesmo assim, ela dizia que a culpa não tinha sido minha e que eu não precisava me martirizar daquela forma. Toda a nobreza de espírito dela me incomodava. Eu preferia mil vezes que ela me olhasse com ódio e rancor, como Jacob fez. Mas não! Ela sorria para mim, tentava se aproximar, tentava conversar e ser minha amiga. Eu me constrangia muito perto dela. Afinal, eu era obrigada a assumir que ela era muito mais bonita que eu. Não aparentemente, mas ela tinha um brilho natural. Um brilho que eu não possuía. E quando eu percebi isso, logo entendi porque eu a detestava tanto no começo. Não era só por ciúmes, eu também estava com inveja. Inveja porque eu sabia que ela tinha algo que eu não possuía. Ela estava um passo a minha frente e isso me incomodava, me irritava! Era doloroso ter que assumir isso. Era aquilo que estava me fazendo tão feia e meu orgulho não me permitia dizer isso a ninguém.

Subi as escadas a passos humanos. Eu não queria falar nada! Eu não queria que ele soubesse de um lado tão podre assim. Eu já o tinha magoado e decepcionado muito. Eu ainda não estava acreditando que ele fosse me perdoar. Mesmo me dando uma surra e tudo, eu não conseguia acreditar. O que eu fiz foi algo realmente imperdoável, inaceitável. Eu fui contra tudo que ele me ensinara nesses tantos anos vivendo juntos. Ele era a compaixão encarnada, ele tinha aquele amor incomparável, ele era gentil, prestativo, educado, altruísta. E ele sempre nos ensinou todas aquelas virtudes. Mas as minhas atitudes demonstravam que eu nunca dei ouvidos a nenhum de seus ensinamentos. Ok! Não era verdade! Eu sempre o admirei muito e sempre procurei ser parecida com ele. Mas nunca tive êxito. Ele era como a Sophie, possuía um brilho natural. Saco! Eu estava cercada de pessoas assim! Quanto mais eu os via, mais eu me dava conta do quanto eu era miserável. Mas em um ponto Carlisle era diferente de Sophie e era por isso que eu o amei desde o primeiro momento que nossos olhos se encontraram. Ele era uma pessoa maravilhosa, perfeita e emanava todo aquele brilho, mas sua alma era calorosa e nos cobria com um carinho tão grande que nos fazia acreditar que éramos um tesouro especial, inigualável. Ah! E isso apenas aumentava meu ego. Era como viver em um sonho. Ao lado dele eu realmente me sentia uma princesa, importante, especial. Eu esquecia a minha personalidade mesquinha, egocêntrica e arrogante. Eu esquecia o lado feio da minha pessoa e apenas me focava no que eu tinha de bom. Com Sophie não! Quando nos encontramos eu não senti esse calor. Era como olhar no espelho da alma. E então eu via a realidade. A dura e fria realidade. E todo o sonho que eu vivia ao lado de Carlisle, se quebrava. Pensar nisso não era agradável. Embora eu não detestasse mais a Sophie, ela continuava me mostrando a realidade. E desde que voltamos, eu não consegui mais sequer me olhar no espelho. Todo o meu orgulho, toda a beleza da qual eu me gabava, evaporou. Parte porque eu ainda me sentia culpada. Agora meu pai já estava sem nenhum ferimento, Sophie ainda tinha algumas partes do corpo enfaixadas, mas a semana foi um inferno. Todos me tratavam normal, exceto Jacob, mas ele também estava em uma situação delicada. E o fato de ninguém me culpar fazia com que eu mesma me culpasse, o que era bem pior. Quando me jogavam na cara era bem mais fácil de lidar do que quando eu mesma percebia. De qualquer forma eu sabia que merecia passar por aquilo. Mas saber não significava que eu estava gostando, afinal, não sou nenhuma masoquista. E aquela tormenta se estendeu até o dia de hoje.

Lágrimas de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora