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QUANDO SE TRATA DE VOCÊ

Nossos pedidos chegaram antes de Jeon começar a falar. Agradecemos ao garçom e depois desviei minha atenção para ele.

Ele deu o primeiro gole no seu café e começou a falar:

― Eu estava pronto, Jimin, pronto para viajar com você. Estava com as passagens compradas, como você já sabia.

Ele pegou uma bolsa que eu nem havia percebido que estava com ele e tirou de lá dois papéis, me entregando. Só percebi o que era quando peguei nas mãos.

Eram nossas passagens. Estavam um pouco amassadas, mas ainda bem nítidas, com nossos nomes e a data de compra, quase cinco anos atrás.

Eu realmente paralisei ao ver.

Ele havia guardado as passagens?

― Minhas malas estavam feitas e nela tinha tudo o que precisava para a nossa viagem, incluindo isso...

Ele tirou uma caixinha média e colocou sobre a mesa com a mão em cima.

― Isso foi tão brega, Jimin, mas eu fiz. Por você eu fiz, porque quando se trata de você, nada mais importa. Eu queria fazer uma surpresa para você.

"Então, eu fui a uma joalheria uma semana antes e fiz uma encomenda. Eu lembro de você me dizer que preferia a noite porque podia ver as estrelas e a lua, então eu pedi para fazerem um pingente em formato de meia lua com a data do seu nascimento gravada nele. E bem... Eu sempre gostei mais do dia, então encomendei um pingente de sol para mim."

Ele abriu a caixa e tirou de lá os dois colares, me comprovando o que dizia.

― E para deixar tudo ainda mais brega, encomendei também essas pulseiras. A caixinha estava embrulhada para presente, mas eu acabei desfazendo o embrulho porque isso era uma das poucas coisas que de certa forma me ligava a você, e usava para ter você de algum jeito perto de mim.

Ele tirou as duas pulseiras da caixa, uma era branca e a outra preta. Acredito que representavam a noite e o dia.

Olhei para Jeon, que se encontrava corado. Depois ele me entregou um comprovante de compra dos colares e pulseiras, novamente datando de quase cinco anos atrás.

― Jeon...

Comecei a falar, mas ele me impediu.

― Me deixa continuar, depois você poderá falar o que quiser.

Concordei com um aceno.

― Eu estava saindo de casa naquele dia, estava saindo mais cedo do que o previsto porque estava ansioso. Estava tudo tão bem planejado, Jimin. Mas foi só trancar a porta, antes de chamar o táxi, que tudo foi por água abaixo. Meu pai apareceu, ele estava com seus seguranças e me forçou a entrar no carro, Jimin...

Ele engoliu em seco para depois continuar.

― Eu não consegui fazer nada, estava desprovido de ajuda. Você já viu os seguranças do meu pai. Então eles me levaram para longe, longe de você, dos meus amigos. Ele pegou meu celular e quebrou meu chip, entregou o celular para um dos seguranças, me proibindo de usar qualquer rede social, de entrar em contato com algum de vocês. Ele queria que eu assumisse seu lugar na empresa e, você sabe, não era o que eu queria, mas foi o que precisei fazer.

Ele pausou a fala, massageando as têmporas.

― Eu não tive um dia livre, Jimin. Eu vivia como um prisioneiro, saia de casa às seis horas acompanhado sempre dos seguranças, voltava para casa apenas às dez da noite. Não saia para nada, não podia. Minha vida era a empresa do meu pai. Ele estava doente e seus planos eram me fazer sua cópia para continuar seu trabalho quando ele partisse. Demorou mais do que eu imaginei. E eu posso parecer um monstro agora com o que vou dizer, mas sinceramente, Jimin, eu fiquei aliviado quando aconteceu. Obviamente que eu chorei, porque além de tudo era meu pai, mas também chorei de alívio. Eu estava livre, Jimin, livre finalmente.

Eu não tinha reparado, mas quando o olhei, ele estava chorando. Um choro que começou baixo, mas que se intensificou a cada segundo.

Eu me arrependi naquele momento de ter escolhido um lugar tão cheio, pois sabia o quanto ele se sentia fraco ao chorar na frente de alguém.

Então eu me levantei de onde estava e me agachei ao seu lado.

― Você quer sair daqui?

Ele negou.

― Jeon, aqui está cheio de gente. Sei que isso te incomoda.

Ele me olhou e eu senti meu coração se quebrar em mil pedaços. Seus olhos vermelhos pelo choro carregavam mágoa e dor, tão nitidamente, que me perguntei como não vi antes.

― Eu não ligo, quer dizer, ligo sim, mas isso não está me importando agora, Jimin. Eu precisava disso, de falar e de ser ouvido, ouvido por você, Jimin. Você não imagina a alegria que eu senti quando te reencontrei naquele dia, mas você fugiu de mim. Eu soube naquele momento que aquela ideia de que você estava me odiando era real.

"Então eu precisava falar com você, precisava que me ouvisse. Por isso fui até você. Não foi fácil descobrir onde você morava, mas as pessoas são muito manipuladas pelo dinheiro. Eu descobri onde você trabalhava e lá tinha um cara que trabalhava com você e ele me passou seu endereço. Então fui correndo até você. Como eu disse naquele dia, eu fui lá para conversarmos apenas, não foi proposital o ocorrido."

Ele sorriu soprado.

― A primeira coisa que fiz quando assumi a empresa do meu pai foi demitir aqueles seguranças. Quando eles foram embora, eu senti como se as algemas estivessem sido tiradas de mim. Comprei um celular novo. Naquele dia que você me viu, eu tinha acabado de comprar um e estava tentando organizá-lo e falar com você, com os meus amigos. E aí eu te vi. Depois dali, meus dias foram gastos apenas para te encontrar. Não falei com nenhum deles até hoje. Imagino que eles também devem estar me odiando.

Ele falou escondendo o rosto entre os braços que estavam sobre a mesa.

― Eles não te odeiam, Jeon, nem eu... Claro que ficamos magoados. Você sumiu por anos, mas sei que quando eles te ouvirem vão te entender.

Ele me olhou com os olhos brilhando.

― E você? Você me entende, Jimin?

― Agora eu entendo, mas ainda tenho uma dúvida.

― Qual?

Ele perguntou virando para mim.

― Você casou com a Lisa?


Eu sei que não, nossa história, de amor
eu sei, não acabou...

Eu amo o fato do Jeon poder falar o que
estava dentro dele

Ah eu estou feliz, me deixa..

𝑭𝒊𝒐 𝒗𝒆𝒓𝒎𝒆𝒍𝒉𝒐 𝒅𝒐 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒊𝒏𝒐 - 𝒋𝒊𝒌𝒐𝒐𝒌  [⚡]Onde histórias criam vida. Descubra agora