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BOTE SALVA-VIDAS

Passei o resto da semana evitando ir ao refeitório ― ou ia lá o mínimo possível. Sempre pedia ao Hobi para ver se ele não estava lá, para poder me sentar em paz e comer tranquilo.

Quando não ia ao refeitório, comprava minha comida na lojinha da frente. Passei a ir lá tantas vezes que me tornei amigo do dono, o senhor Lee. Ele já sabia exatamente o que eu queria. Era sempre suco natural de laranja ― que tinha um sabor um pouco azedo, e eu gostava ― e bolo de qualquer sabor, mas principalmente de chocolate. Sempre que ouvia o sininho tocando e me via passando pela porta, ele levantava para ir pegar meus pedidos.

Não queria ver o tatuado de novo, porque sim, eu sou um traumatizado de merda. Sei o que é me apaixonar e me machucar depois. Não que eu esteja apaixonado por ele ― não pense isso, nem acredito em amor à primeira vista. A questão é que, o que eu senti quando o vi me assustou, e sim, meu coração é um fracote, qualquer coisinha ele já quer gamar. E eu tenho medo. Eu sabia que se continuasse vendo ele, logo, logo estaria boiolando por ele. Então evitá-lo era meu bote salva-vidas.

Nossos dormitórios eram em blocos diferentes, então eu me aventurava pelos corredores do meu, perdia boa parte do meu tempo lendo livro no banquinho do jardim ou ouvindo música, sabendo que por ali não correria o risco de vê-lo.

Porém, nossos horários de aula eram quase todos parecidos, e nossas salas eram praticamente coladas uma na outra. Enquanto a minha sala era no final do corredor, a dele era do lado, dobrando à direita. Então, sempre que o sinal tocava anunciando o final da aula, eu ficava sentado esperando ele passar, pois as salas eram todas com paredes de vidro. Quem estava fora não via quem estava dentro, mas o contrário sim. Então esperava para ver ele passar para poder sair.

― Isso já tá começando a ficar ridículo, Jimin. ― Hobi reclamava comigo por agir assim. ― Uma hora ou outra vocês vão acabar se esbarrando, então...

― Enquanto esse dia não chega, vou continuar me escondendo. ― O interrompi, chateado.

O Hobi passou a semana inteira tentando me levar até ele. Dizia que ele era um bom garoto e tal. É isso mesmo, meu amigo é um traíra, e agora é amigo do tatuado, e segundo ele, cinquenta por cento das conversas deles é sobre mim.

― Eu sinceramente não vejo problema se você se apaixonar por ele. Eu sei que o último foi um babaca, mas isso não quer dizer que todos os outros serão. Se permita viver, Jimin, ou vai querer ser solteiro pro resto da vida?

Não respondi ele. Não era a primeira vez que conversávamos sobre isso, e da última vez, me senti como se estivesse num psicólogo. Ele me deu vários sermões e dizia que a melhor coisa era estar apaixonado. Ele só dizia isso porque tinha um namorado perfeito.

Mas parece que o destino está contra mim, porque depois de dias evitando vê-lo, acabei esbarrando nele ― e por consequência derrubando meus livros no chão ―, ele estava parado parecendo uma estátua na minha frente.

― Oh, pequeno, foi mal. Não te vi se aproximar. Quer ajuda?

Ele falava num tom calmo que me irritava.

― Não, não preciso da sua ajuda, e por favor... ― Me levantei depois de juntar tudo e falei tentando encará-lo de forma séria. ― Para de me chamar de pequeno.

Ele sorriu, sem mostrar os dentes. Canalha.

― Ué, por que não? Você é pequeno, né... ― Ele continuou falando atrás de mim, coisas que não ouvi porque não dei a mínima, porque sim, o folgado estava me seguindo. ― Vem cá, eu fiz alguma coisa que te irritou?

Ele me puxou pelo pulso ao perguntar. Me senti girando em sua direção, e caramba, ele estava tão perto que consegui sentir o cheiro amadeirado do seu perfume. Puxei meu braço, me desvencilhando dele, e continuei a andar. Como o local das aulas e dos dormitórios eram em lugares separados, precisávamos sempre atravessar o campus, então aproveitei que tinha bastante gente ali e me misturei, andando o mais rápido possível.

Pensando eu, "o iludido", que tinha me safado dele, segui meu caminho até meu dormitório. Quando estava com a chave posta na fechadura, ouvi uma voz atrás de mim que me fez, outra vez, derrubar meus livros no chão. Feito um fantasma, ele tinha me seguido.

― Então esse é seu dormitório? Fica num lugar melhor que o meu. Acho que vou pedir pra me trocarem de dormitório. O que você acha? ― Ele falava enquanto juntava meus livros do chão. ― Precisa ter mais cuidado com suas coisas.

Falou sorrindo pra mim. Senti que meu coração quis parar, e eu não o julgo porque, porra, que sorriso lindo aquele idiota tem. Por um segundo, eu esqueci que ele tinha me seguido e fiquei admirando ele, que continuava sorrindo pra mim. Ele parecia um coelhinho sorrindo.

― Está tudo bem aqui?

Taehyung, o outro garoto que dividia o dormitório comigo, apareceu, me tirando do devaneio.

― Está sim, meu amigo aqui... ― Falei pegando meus livros que ainda estavam em suas mãos. ― Já está indo embora, não é?

Falei debochado. Ele sorriu de novo pra mim e falou enquanto se afastava, andando de costas.

― A gente se vê, pequeno.

E sumiu no corredor, me deixando chateado por ter, outra vez, me chamado de pequeno, e ao mesmo tempo flutuando ao lembrar do sorriso lindo e do cheiro do perfume.

― Você não vai entrar?

Meu companheiro de dormitório perguntou.

E eu o segui porta adentro, sentindo que minha vida não ia melhorar com relação ao tatuado, ainda mais agora que ele sabe onde fica meu dormitório.

Digam-me oq estão achando até aqui.
Bjinhos e até mais

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𝑭𝒊𝒐 𝒗𝒆𝒓𝒎𝒆𝒍𝒉𝒐 𝒅𝒐 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒊𝒏𝒐 - 𝒋𝒊𝒌𝒐𝒐𝒌  [⚡]Onde histórias criam vida. Descubra agora