Capítulo 14

568 79 4
                                    

Pov: Mon

Dois dias depois, Jim me chama a sua sala em caráter de urgência e eu sinto como se o café da manhã composto por suco de laranja e barrinha de cereal estivesse fazendo o caminho inverso.

Nunca é bom quando sua editora te chama e deixa claro que é um assunto sério. Vasculho minha memória a procura de algo que possa ter feito de errado, mas até mesmo a coluna sobre o jantar com Sam em que usei o cartão da revista já está nas mãos dela e ganhou muitos elogias, então o que poderia ser?

Meus colegas me olham com pena conforme eu ando em direção a sala dela, hoje com as persianas fechadas, o que geralmente indica mau-humor.

Bato suavemente na porta com os nós dos dedos e entro trêmula. Sento em frente à mesa dela e começo a pensar em formas de pagar o aluguel. Recorro ao seguro desemprego?

- A chamei porque temos um problema. – Jim diz em um tom sério, me deixando com o estômago ainda mais embrulhado.

- O que seria? Eu fiz algo de errado?

- Não, – ela balança a cabeça e sorri de um jeito contido. – Seu trabalho está ótimo e prova que eu estava certa ao escolhê-la. A questão é com a Luxury.

- Ela não está gostando da forma de eu falar dos produtos?

- Penélope adora seu jeito de promover os produtos dela. A questão é que uma cliente, Analu não sei das quantas, fez um texto nas redes sociais expondo que teve problemas com os lubrificantes da sex shop e isso tem alcançado muita repercussão, principalmente porque a moça é advogada e quase perdeu o namorado.

- Nossa.

- A sex shop se desculpou com ela e enviou produtos caros e uma carta de desculpas. Analu apagou a postagem, feita na hora da raiva por ter tido um encontro ruim, mas a repercussão continua e Penélope pensou que você poderia escrever algo extra falando dos lubrificantes e de como o sexo oral com eles pode ser mais prazeroso para ambos. –  Sinto minhas bochechas arderem porque nunca recebi um oral e apenas me arrisquei, indo muito mal com meu ex e até gostando de fazer em Sam.

- Acha que consegue testar e escrever para amanhã? Ela pagou anúncios extras conosco para que isso ocorra. Confia muito no que você escreve. Está virando uma espécie de guru do sexo, Mon.

Jim ri e eu forço um sorriso, sentindo um nó no estômago.

- E então, consegue? – Insiste já me estendendo a famosa sacolinha.

- Vou falar com a S... Minha parceira.

- Pode ter o resto do dia de folga. – Ela me dá uma piscadinha e ressalta a confiança que tem em mim e eu sorrio de uma forma forçada. Uma guru do sexo virgem? Era só o que faltava.

Estou me sentindo um pouco neurótica desde que Jim me intitulou de guru do sexo. O pensamento de que facilmente podem descobrir que eu sou uma fraude fica rondando a minha cabeça o tempo todo enquanto volto para casa de ônibus e não ajuda em nada que as duas senhoras de antes pareçam muito interessadas em ver a quantos anda minha vida sexual.

A mesma coisa cordinha. Garanto ao puxar a quando entro em casa, Sam ainda não está, então aproveito para tomar um longo banho e tentar me acalmar, mas é meio difícil trabalhar na internet e ter que conviver diariamente com a cultura do cancelamento.

Certeza que Jim não hesitaria em me deixar desempregada se isso prejudicasse a revista. Seguro uma xícara de chá de cidreira entre as mãos no momento em que ouço o portão ser aberto e então largo tudo e pego a sacola da sex shop, descendo as escadas correndo e descalça.

𝑨 𝒗𝒊𝒓𝒈𝒊𝒏 𝒆𝒏 𝒕𝒓𝒐𝒖𝒃𝒍𝒆Onde histórias criam vida. Descubra agora