Capítulo 35

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Subo as escadas atordoada, o coração disparado e a mente em turbilhão, sem entender bem o que acabou de acontecer entre Henrique e eu. Ele me surpreendeu com um beijo ao qual não consegui resistir. Nunca senti em um beijo o que senti quando sua boca encontrou a minha. Era como se uma corrente elétrica percorresse todo o meu corpo, incendiando cada célula.

Mesmo antes de me beijar, eu já havia me rendido a ele apenas com a proximidade do seu corpo. O cheiro inebriante do seu perfume, uma mistura de madeira e especiarias, envolveu meus sentidos. Seus olhos, irados, exigentes e ao mesmo tempo vulneráveis, pareciam me despir, revelando cada segredo meu.

Toda a carga emocional que aquele homem carrega, as cicatrizes invisíveis de seu passado, me fizeram sucumbir ao apelo dos seus lábios. A maneira como me prendeu contra a parede, firme, possessivo, dono de tudo ao nosso redor, me deixou perplexa e sem fôlego. O toque de suas mãos era ao mesmo tempo suave e dominante, como se ele tivesse o poder de me destruir e me curar.

Quando finalmente nos separamos, minha respiração estava entrecortada, meus lábios ainda formigavam com a memória do seu beijo, e meu coração clamava por mais. Continuo subindo as escadas, cada passo ecoando a confusão dentro de mim. Tento processar o que isso significa, o que Henrique significa para mim. Algo profundo e inevitável foi despertado, algo que preciso fugir para não me ferir.

Entro no quarto e tranco a porta com um estalo firme, como se isso pudesse me proteger do desejo avassalador que Henrique desperta em mim. Esse homem odioso roubou minha liberdade e agora quer arrancar meu amor-próprio. A frustração e a confusão me dominam, e sinto uma necessidade urgente de escapar.

Caminho até o closet, onde pego uma mala e começo a enchê-la com roupas, os movimentos rápidos e determinados. Preciso fugir, preciso de um tempo na fazenda para me reconectar com quem eu era antes de Henrique entrar na minha vida. Cada peça de roupa que coloco na mala é um passo em direção à minha liberdade, um grito silencioso de resistência contra o domínio que ele tenta exercer sobre mim.

Henrique não ama ninguém. Ele se diverte com as pessoas, especialmente com as mulheres, que para ele servem apenas como objetos de prazer. Não quero ser mais uma que passa pela cama dele, reduzida a um mero capricho temporário. Quero recuperar minha sanidade, e para isso preciso me afastar.

Fecho a mala com um zíper firme e determinado. Tiro a roupa e vou para o chuveiro, esperando que a água quente lave não só a sujeira do dia, mas também a culpa e a vergonha que sinto. Fecho os olhos e lágrimas escorrem pelo meu rosto, misturando-se com a água. Sinto-me humilhada por ter me entregado a Henrique daquela forma.

Se aquele homem já se achava o centro do universo, imagina depois do que aconteceu. O pensamento me revolta e me fortalece ao mesmo tempo. Não posso permitir que ele continue a me controlar. Amanhã cedo, pego o primeiro voo para Dakota. Preciso desse tempo para me reencontrar, para lembrar quem eu sou sem a sombra de Henrique sobre mim.

Envolta pelo vapor do banho, faço uma promessa a mim mesma: voltarei mais forte, mais determinada, e não permitirei que isso aconteça novamente.

Henrique...

Após Melinda sair, passo a mão pelos cabelos, tentando aliviar a tensão que se acumula na minha mente. Encosto a testa na parede fria, respirando fundo, enquanto tento entender o que está acontecendo comigo.

Fui um cretino, isso jamais deveria ter acontecido. Quebrei a cláusula do contrato que dizia que não tocaria nela. Mas qual é o feitiço que Melinda tem que me tira do eixo? Nem mesmo Samantha me fazia perder a razão como essa mulher.

Sinto uma mistura de frustração e arrependimento. Preciso procurá-la para pedir desculpas e esclarecer essa situação. Não devia ter acontecido. Não posso envolver Melinda ainda mais na minha vida. Ela já é minha esposa de contrato, e isso já é o suficiente.

Mas, por mais que tente me convencer, não consigo ignorar o desejo avassalador que sinto por ela. A maneira como seu olhar me desafia e, ao mesmo tempo, me atrai, me desarma completamente. Esse sentimento está me consumindo e, pela primeira vez, sinto que estou perdendo o controle.

A simples lembrança do toque de seus lábios me atormenta. Fecho os olhos, tentando afastar essas imagens, mas elas voltam com força total. Melinda mexe comigo de uma forma que nenhuma outra mulher jamais conseguiu.

Respiro fundo e decido que preciso falar com ela. Preciso esclarecer que o que aconteceu foi um erro, um lapso momentâneo de julgamento. Mas, no fundo, uma voz sussurra que talvez seja mais do que isso, que talvez eu esteja começando a sentir algo que não consigo controlar. E isso me assusta.

Bato na porta do quarto de Melinda. Ela demora para abrir e eu insisto, batendo mais forte. Abra, por favor, precisamos conversar. Após alguns segundos que parecem uma eternidade, ela abre a porta. Está vestida com um roupão de banho, o cabelo ainda úmido, e os olhos levemente vermelhos. Eu estava no banho, ela diz com voz cansada. Me aguarde lá embaixo. Vou me vestir e já desço.

Desço e espero, a mente fervilhando de pensamentos. Vi que seus olhos estavam vermelhos; será que chorou? Fico sentado no sofá, com um copo de uísque nas mãos, observando as luzes da cidade através da janela. Cada gole parece queima a garganta, mas não o suficiente para apagar a angústia que sinto. O silêncio da sala é quase ensurdecedor.

Finalmente, ouço os passos de Melinda descendo as escadas. Ela está vestida com um pijama que cobre todo o corpo, calça e blusa de manga comprida, o tecido solto escondendo suas formas. Ela parece vulnerável e distante, e eu me sinto ainda mais culpado.

Ela se aproxima devagar, parando a uma distância segura. Eu a observo por tempo demais, antes que ela quebre o silêncio chamando meu nome. Henrique. Sua voz é suave, mas firme, trazendo-me de volta à realidade.

Desculpe por incomodá-la, começo, a voz um pouco trêmula. Mas preciso esclarecer o mal-entendido que aconteceu entre nós. Quero me desculpar e dizer que não voltará a acontecer. Eu ultrapassei o limite estabelecido por nós no contrato e isso é inadmissível. Me desculpe.

Melinda me encara por um momento, seus olhos cheios de dúvidas.

Henrique, ela responde lentamente, escolhendo as palavras com cuidado, eu também errei. Não deveria ter correspondido. Também não quero ser interpretada mal. Não precisamos nos envolver dessa maneira, nossa situação já é constrangedora o suficiente. Espero que não me entenda mal pelo que aconteceu. O que mais quero é que esse contrato acabe.

Ela faz uma pausa, respirando fundo.

Precisamos encontrar uma maneira de conviver de forma que isso não nos destrua, conclui, olhando-me com uma mistura de determinação e resignação.

Você tem razão, digo, encerrando a conversa.

Melinda me deseja boa noite e volta para o quarto. Fico olhando para a escada por um momento, sentindo o peso da situação.

Tenho que focar em meu objetivo principal, a Hartman.

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