Capítulo 41

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Melinda,

Hoje é a posse de Henrique, e faz dois dias que não o vejo. Tenho evitado qualquer contato com ele, saindo mais cedo para o trabalho e, ao retornar, me trancando no quarto.

Agora são 19 horas, e estou pronta para o evento. Escolhi um vestido preto com renda nas mangas, decote arrematado com amarração nas costas, revelando minha tatuagem, com a intenção de provocar Henrique.

Deixei meus cabelos soltos e realcei os cachos com babyliss, dando-lhes um volume natural e elegante. No rosto, destaquei meus olhos com uma sombra esfumada e delineador, realçando meu olhar penetrante. Nos lábios, um batom vermelho profundo, para dar um toque de ousadia.

Enquanto me olho no espelho, faço uma última verificação. O vestido molda meu corpo de maneira elegante, a tatuagem nas costas é um toque pessoal e provocativo, e minha maquiagem está impecável.

Dou o toque final com duas borrifadas do meu perfume, pego minha clutch e desço para me encontrar  com Henrique. Estou pronta para fazer o papel da esposa apaixonada.

Ainda na escada, reparo em Henrique de costas para mim e de frente para a vidraça, vestido em um elegante smoking preto, falando ao celular.

Observando-o detalhadamente, ele é uma verdadeira obra de arte, como se seu corpo tivesse sido esculpido para humilhar os mortais de tão perfeito. Sua presença é tão intensa que enche a cobertura com uma aura quase palpável.

Noto seu corpo enrijecer ao perceber minha imagem através das paredes de vidro. Ele vira-se e fixa o olhar em mim, e meu corpo responde com um choque que me deixa momentaneamente desconcertada.

Para disfarçar o impacto que sinto, movo-me com indiferença sob seu escrutínio. Ele desliga o celular, coloca-o no bolso, e vem em minha direção.

"Está perfeita, querida esposa," diz com ironia. Não o elogio, apesar de ele estar perigosamente lindo. "Estou pronta, podemos ir," digo, tentando manter a compostura e mostrar que estou no controle.

Henrique exibe seu sorriso arrogante de sempre, um gesto que mistura desafio e diversão. Ele me oferece o braço, e eu aceito, permitindo que me guie até o elevador. Entro primeiro, e ele segue a um passo atrás, a tensão no ar quase palpável.

Percebo que o humor de Henrique, hoje está visivelmente mais leve; a iminência de seu objetivo se concretizar parece suavizar sua postura habitual. Ele está mais agradável, quase cordial, como se o sucesso que se aproxima estivesse dissipando temporariamente a rigidez que costuma carregá-lo.

O peso da responsabilidade e das pressões externas parece ter se aliviado, deixando espaço para uma versão dele que raramente se manifesta—uma faceta mais descontraída e, de certa forma, mais acessível.

Essa mudança não passa despercebida por mim. A cada passo que damos em direção ao espaço reservado, sinto que estou ao lado de alguém que, por um breve momento, está permitindo-se saborear a satisfação de suas conquistas. Essa leveza momentânea é quase contagiante, embora eu saiba que é apenas um reflexo do sucesso iminente, e não uma mudança genuína em sua natureza.

Quando as portas do elevador se fecham, sinto seu olhar fixo não em mim, mas no reflexo no espelho atrás de mim. Sua expressão revela uma curiosidade que parece ir além do superficial, algo que me coloca em alerta. Eu o encaro de volta, suspeitando que sua atenção esteja presa à minha tatuagem, algo que ele ainda não havia mencionado antes.

— Qual o significado da tatuagem? — Henrique pergunta, direto ao ponto. Antes que eu possa responder, ele continua: — Você não me parece o tipo de mulher que faz uma tatuagem.

A franqueza de sua observação me pega de surpresa, mas mantenho a compostura.

— É um assunto pessoal que prefiro não compartilhar com você — respondo, tentando manter o tom firme. — E quanto a essa questão de ser o tipo de mulher que faz tatuagem, não entendi o preconceito.

Henrique ergue uma sobrancelha, um misto de interesse e diversão dançando em seus olhos.

— Não é preconceito, é uma constatação. Você passa a impressão de ser... inocente, talvez. Não estou criticando você por marcar seu corpo. Na verdade, até gosto de mulheres tatuadas, é sexy. Mas a sua... parece ter uma história.

As palavras dele reverberam na minha mente, cada frase uma provocação cuidadosamente velada. Abro a boca para respondê-lo, talvez para colocar um fim nesse interrogatório disfarçado, mas o elevador para na garagem, interrompendo a conversa.

O motorista e os seguranças nos aguardam, prontos para nos escoltar, e eu me calo, sentindo uma mistura de alívio e inquietação.

Enquanto seguimos em direção ao carro, ainda sinto o peso do olhar de Henrique sobre mim, como se ele tentasse decifrar um enigma oculto. Sua curiosidade me incomoda, mas também me faz questionar suas intenções. O que ele realmente quer saber? Qual será seu interesse em minha vida pessoal?

Entramos no carro, e Henrique se acomoda ao meu lado, sua expressão agora neutralizada, mas os pensamentos certamente ainda fervilhando.

Fizemos o trajeto até o local da posse em silêncio, com Henrique completamente absorto em seu celular, trocando mensagens com alguém, certamente sobre a sua posse. O ambiente dentro do carro parecia carregado de uma tensão muda, cada um de nós imerso em pensamentos próprios.

Ao nos aproximarmos do destino, o motorista anunciou que havíamos chegado, e imediatamente saiu para abrir a porta para Henrique.

Ele desceu primeiro, ajustando rapidamente o paletó, antes de dar a volta e abrir a porta para mim. Quando saio do carro, Henrique segura minha mão com firmeza, um gesto que parece tanto possessivo quanto protetor.

Sem dizer uma palavra, ele me conduz em direção à entrada de um luxuoso prédio, onde a cerimônia de posse acontecerá. O espaço reservado exala sofisticação e exclusividade, reforçando o poder e a influência das pessoas que circulam por ali.

A presença de Henrique ao meu lado, enquanto atravessamos o hall, não passa despercebida; os olhares se voltam para nós, curiosos e avaliadores. Apesar do silêncio que ainda paira entre nós, a mão dele na minha parece ter um significado implícito, uma declaração silenciosa de controle e domínio sobre a situação. E, talvez, sobre mim também.

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