Em um mundo agora dominado pelo medo e desespero, Bryel tinha a sorte de ter sido escolhido para estar em uma zona de quarentena. Enquanto ele ficava sobre custódia dos militares, outros sobreviventes mundo afora davam seu jeito de lutar por sua vida, contra as hordas de zumbis que aumentavam a cada dia que passava.
Em alguns lugares, resquícios da sociedade ainda existiam, com as pessoas se ajudando a se manterem, separando alguns para o combate e outros para liderar, criando assim as sub-sociedades. Em outros, a malícia e a podridão haviam tomado o coração dos indivíduos mais fortes, formando milícias e grupos de saqueadores, que com suas armas ameaçavam os pobres coitados presos em suas casas, abusavam de mulheres e roubavam tudo o que era útil para eles. Esse tipo geralmente acabava morrendo rapidamente para militares, que constantemente saiam com seus tanques APC resgatar sobreviventes perdidos. Fora esses dois extremos de sobreviventes, existia um terceiro, que buscava sobreviver por si só, morando em bunkers, sótãos, em cabanas nas montanhas, barracas no meio do mato ou qualquer lugar longe dos grandes centros urbanos, podendo em alguns casos se dividirem em grupos de três a cinco indivíduos. Qualquer campo ou acampamento com mais de cinco membros, já se configurava como algo similar ao primeiro exemplo de sobreviventes, como uma sub-sociedade campista. Ainda havia uma outra pequena parcela que se arriscava sobreviver em comboios de veículos ou por si só montados em motos, trailers e vans de camping.
Sobrevivendo a mais uma noite, após dormir com a sensação de culpa por ter envolvido Dalton em algo perigoso, Bryel acordou pela manhã, coou um café com os mantimentos que tinha e se preparou para mais um dia de serviços, seguindo para a porta logo após jogar as louças em um canto qualquer da pia do antigo morador do local. Se agasalhando antes de sair com uma blusa que havia deixado na porta para usar sempre que precisava, Bryel desceu do apartamento. Ao chegar na saída, o rapaz logo viu que o tempo havia fechado, e dado ao frio exuberante daquele dia, a nevasca atrasada de dezembro estava estava prestes a chegar, algo comum de acontecer naquela época do ano em Capitol South.
- "Hoje está frio. Me pergunto se zumbis sobrevivem à neve!" - Pensou Bryel.
Enquanto caminhava, Dalton estava sentado em um banco na calçada, pensando no nada. Vendo que seu amigo se aproximava, ele levantou-se e seguiu em direção a Bryel, que se assustou ao ver Dalton se aproximar dele.
- Como vai Bryel? Tá assustado? Parece que está devendo para alguém! - Comentou Dalton, cumprimentando Bryel.
- Bom dia. Bom, acho que não devo mais para ninguém! Todos os bancos, acho que estão fora de funcionamento por um bom tempo! - Riu Bryel.
- Bryel, eu preciso perguntar algo para você cara. Ontem, você parecia que estava fazendo qualquer coisa para esconder sua dor ou culpa, não sei. Tipo assim, pegar aqueles trabalhos com a desculpa de comer bem antes das comidas começarem a expirar ou parecer estar gostando de eliminar zumbis, como em um tipo de vingança pessoal! - Comentou Dalton, tentando encontrar palavras para ajudar seu amigo.
- Claro que n... Tá, quem eu quero enganar! - Disse Bryel, abaixando a cabeça ao ver a imagem de Dominie em sua mente. - Você está certo. Estou usando tudo isso como desculpa para meu ego pensar que consigo seguir em frente. Na verdade, estou tão assustado e deprimido como qualquer outro! Um dia tínhamos uma sociedade podre e horrível, mas tínhamos uma sociedade! Agora todo mundo que conheço provavelmente virou aquelas coisas, morreram ou estão por aí perdidos mentalmente. - Entristeceu-se Bryel, com lágrimas tomando seus olhos. - A sensação de não poder ter feito nada para salvar minha esposa, a incerteza do futuro, o medo de ser mordido e virar um zumbi, são... São tantas coisas somadas! Eu estou desesperado Dalton, e se o mundo ficar assim para sempre? E se não houver esperança? Por isso que quero tentar fazer algo pela zona de quarentena, tentar seguir em frente! Mas essa dor no peito, a sensação de nunca mais ver Dominie... Por que Deus, por que? - Caiu Bryel em choro e ansiedade, com a sensação de seus sentimentos corroendo ele por dentro, ao mesmo tempo em que seu peso nos ombros começava a se aliviar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Carnaged Almas Contaminadas
Science FictionNo fatídico dia de 24 de dezembro de 2029 Bryel Personi viu seu mundo ruir enquanto celebrava o natal com sua esposa Dominie. Ao ouvir um pronunciamento de que um enorme grupo protestante em defesa dos animais havia invadido todos os laboratórios da...