Capítulo 15 - Perdão

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No dia seguinte, Emiko acorda com a luz do sol invadindo o seu quarto pelas frestas da persiana, sua dor de cabeça não estava tão forte, seu estômago não doía mais e não se sentia enjoada, ela se espreguiça ainda deitada na cama, ao olhar para o lado, percebe que Nishikiyama não estava mais ali, ela agarra o travesseiro que ele havia repousado na noite anterior, cheirando a fronha e sentindo o perfume dele, afundou ainda mais seu rosto naquela fragrância, seu corpo se arrepiava inteiro, sentiu muita falta daquilo por anos, por mais que houvesse prometido não esperar por ele e ligar o foda-se, ela ainda esperava que ele viesse ajoelhado para ela, vestindo aquela roupa típica que os Patriarcas usavam: um kimono com um hakata e um haori por cima.

Ela levanta da cama, troca de roupa e caminha pelo corredor para chegar na escada, mas acaba encontrando a porta do quarto de hóspedes aberta. Emiko adentra com a esperança de encontrá-lo ali, mas tudo que ela encontra é um livro de capa dura verde em cima da cama dele, ao se aproximar, ela percebe o título "Receitas da Família Tsukimori", isso a espanta, afinal, ela não lembrava do nome ser aquele, embora havia guardado seu exame dentro de um livro com a mesma aparência, se perguntava: Será que guardou o exame dentro do livro de receitas da família sem perceber? Esse teria sido o único bem que ficou com ela como herança, como pôde ignorar?

Ao folhear as páginas, ela percebe as receitas feitas por Nishikiyama até aquele momento, todas eram marcadas com um clipe de papel indicando quais ele já havia preparado, o que fez uma lágrima singela cair pelo seu rosto, ele havia tido todo o cuidado em preparar a receita da mesma forma que estava escrito para que ela lembrasse da família, era um cuidado que ela nunca havia recebido de ninguém.

Emiko seca as lágrimas, desce as escadas com o livro na mão, olha para os lados e não encontra Nishikiyama, ele só podia estar na rua, ou quem sabe no centro comercial? Não interessava! Ela iria atrás dele e o abraçaria com a maior força que tivesse, o beijaria com a maior vontade do mundo, foda-se quem estava na volta, foda-se para quem estava vendo e julgando, ela faria aquilo e ele sabia que ela era capaz disso.

Ao sair de casa, ela olha para o lado, vendo Nishikiyama perto do muro do Morning Glory conversando com o dono do Orfanato, seu cabelo cheio de gel jogado para trás, vestia uma camisa social branca e uma calça preta, a mesma roupa que ele usou naquela noite que terminou o noivado, mas ela não ligava, apenas correu até ele e o abraçou pela cintura, sendo pego de surpresa, Nishikiyama vê braços se enrolando em seu abdômen segurando alguma coisa e ao olhar para trás, encontra Emiko, com o rosto afundado em suas costas.

— Você está bem? — ele pergunta se virando para ela — Aconteceu alguma coisa?

— Você estava usando esse livro para fazer as receitas, não é? — Emiko pergunta levantando o objeto com um enorme sorriso no rosto — Eram as receitas da minha família, por isso que a omelete era a mesma que a minha mãe fazia, certo?

Nishikiyama arregala os olhos, ele não sabia se havia feito certo ou não, tinha medo de falar a verdade, mas tinha medo de mentir. Porque mentir? Já estava claro que ela havia achado o livro, porque mentiria?

— Sim, eu achei que podia ajudá-la a se sentir melhor quando estava chateada comigo... — disse Nishikiyama — Inclusive, eu fiz sanduíche de ovo ontem, era uma das receitas e parecia ser uma...

Emiko rapidamente segura o rosto de Nishikiyama com as mãos, beijando os lábios dele, isso o assusta de início, mas depois relaxa, fechando seus olhos enquanto curtia o movimento da língua dela explorando cada canto de sua boca, ele segura a cintura da moça com as mãos e quando o ar se fez necessário, eles se afastaram, interrompendo o beijo.

— Que bom que vocês se acertaram... — eles ouvem o senhor Ryokan falar.

Emiko pede desculpas um pouco envergonhada, Nishikiyama sorri, eles se despedem do senhor e voltam para casa, ao adentrarem, se sentam no sofá da sala de estar para conversar, ele queria entender tudo o que havia acontecido e o que significava aquele beijo, eles voltariam a ser um casal como antes?

— Antes de falarmos sobre qualquer coisa, eu preciso saber... — disse Nishikiyama animado — Preciso que me fale o que significa tudo isso.

— Você teve todo o cuidado de fazer as receitas do livro da minha família para mim, essa foi a única coisa que herdei deles antes de ser abandonada e lembro do gosto de cada uma das comidas presentes aqui... — disse Emiko sorrindo — Sei que você nunca teve o hábito de cozinhar, você cuidou de mim ontem também, estar ao seu lado foi incrível, sinto falta disso, de estar em seus braços, sentir seu cheiro...

— Isso significa que estamos em bons termos? — Nishikiyama pergunta sorrindo enquanto segura as mãos dela.

Emiko assente com a cabeça, Nishikiyama não sabia como reagir, parecia ter entrado em um transe, estava congelado no lugar, até aquela manhã, estava tentando pensar em alguma forma de voltar a reconquistá-la, havia comentado com Ryokan sobre o pensamento de Emiko em adotar Yumeko e que ele precisava fazer algo rápido para conquistá-la e sem pensar, ele a conquistou de outras formas.

A moça sela os lábios dele esperando obter alguma resposta, Nishikiyama sai de seus devaneios e quando volta sua atenção para ela, Emiko está mordendo o próprio lábio inferior com um sorriso malicioso em seu rosto, ela olha para os lábios dele e em seguida, para os olhos dele, como se o estivesse convidando para algo. O coração dele batia tão forte que parecia sair pela boca, não sabia o que dizer, o que fazer, era como se em todos aqueles anos longe dela, tivesse desaprendido tudo, não sabia quais botões apertar, quais lugares tocar, como começar alguma coisa, era tudo tão automático antigamente e agora parecia tão manual.

— Para quem estava desesperado para fazer as pazes... — disse Emiko colocando a mão esquerda no peito dele — Está demorando demais para me foder como antes.

Nishikiyama arregala os olhos, ele queria que ela estivesse em cima dele, queria muito, mas o perdão havia surgido tão repentinamente, que ele não sabia o que falar, ele não sabia fazer nada, não havia programado ou pensado nessa parte, ele queria sair na praia e gritar loucamente para tirar aquele sentimento de ansiedade misturado com angústia.

— Você está bem? — Emiko pergunta preocupada — Aconteceu alguma coisa?

— É que...até hoje pela manhã, eu estava em pânico para conseguir o seu perdão e agora descubro que estou perdoado... — disse Nishikiyama — Não me entenda mal, não estou reclamando, é só que...estou precisando processar tudo.

— Acho que você está precisando quebrar o gelo... — disse Emiko sorrindo — Vamos beber algo, acho que pode ajudar.

— Você não deveria beber nada de álcool, se recuperou de um porre de vinho recentemente... — disse Nishikiyama a acompanhando com o olhar enquanto ela ia até a cozinha — Se vamos beber, que seja algo sem álcool e não reclame de eu estar sendo estraga prazeres...

Emiko solta uma curta risada, ao chegar na cozinha, ela pega duas latas de refrigerante, entrega uma para Nishikiyama, de verdade, não havia nenhuma bebida alcoólica na casa, a que tinha era a garrafa de vinho que havia sido o motivo de sua ressaca, tudo o que tinham era aquele refrigerante, mas dane-se, a ideia não era ficar bêbada e muito menos embebedá-lo, era quebrar o gelo.

— Sobre o que você e o senhor do orfanato estavam conversando? — Emiko pergunta.

— O nome dele é Ryokan e estava me contando que conhece o Kazama de muitos anos... — disse Nishikiyama abrindo a lata — Fiz algumas perguntas sobre a Yumeko.

— Você a conheceu? — Emiko pergunta com brilho em seu olhar, o que fez o rapaz perceber que aquela menina havia se tornado o mais novo assunto favorito dela.

— Por sorte, eles estavam indo para a escola quando fui conversar com o Ryokan, ela é muito parecida com você em algumas atitudes... — disse Nishikiyama — Mas a história dela é um pouco parecida com a minha, isso me assusta um pouco.

— Você...comentou com Ryokan sobre a nossa conversa de ontem a noite? — Emiko pergunta um pouco temerosa.

— Ele falou que antes de adotarmos, precisamos ter certeza se ficaremos juntos, também quer que passamos alguns dias com ela no Orfanato e até em nossa casa para garantir que ela vai se adaptar... — disse Nishikiyama — Se tudo estiver certo, finalmente poderemos lidar com as burocracias, tirei algumas dúvidas, nunca adotei e nunca fui adotado, então não sei como funciona.

Emiko baixa a cabeça, de fato, eles precisavam daquela certeza, ela sabia que precisava mostrar a Nishikiyama que ela não estava brincando ao perdoá-lo e que queria viver ao lado dele para o resto da vida dela, assim como queria que ele a garantisse que não a abandonasse novamente, assim poderiam adotar Yumeko e viverem felizes.

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