II

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Oito. Havia oito membros da tripulação de Hongjoong que viveriam para ver outro dia. Era quase insuficiente para navegar efetivamente o navio, especialmente com o casco danificado, mas o Kim sabia que conseguiriam chegar a um porto de alguma forma. Eles eram fortes. Iriam sobreviver a isso.

O homem observava solenemente enquanto a tripulação inimiga retirava caixa após caixa de seda do porão. Ele se sentia impotente enquanto os via esvaziar o navio de tudo o que fosse valioso, até mesmo encontraram algumas coisas de seus aposentos pessoais, incluindo uma presa de elefante decorativa que ele havia recebido em uma viagem às Dunas de Ral e a bainha incrustada de joias que ele havia ganhado em uma aposta contra Jehan, o Conquistador, no ano anterior.
Uma vez que Seonghwa se cansou de observar sua tripulação trabalhar, ele pegou o braço de Hongjoong e o puxou em direção à prancha que ligava os dois navios. – Vamos – ele disse, empurrando o capitão mercante para a prancha à sua frente.

Hongjoong caminhou com cuidado até o navio pirata, e uma vez que suas botas tocaram o convés, Seonghwa agarrou seu braço novamente e começou a conduzi-lo para a parte de trás do navio. Eles subiram as escadas até o tombadilho, e após atravessá-lo, o loiro foi empurrado através de uma porta que levava ao castelo de popa. Hongjoong ouviu Seonghwa bater a porta atrás deles e, após olhar ao redor, deduziu que agora estavam nos aposentos do capitão. Havia uma grande cama com dossel de quatro colunas e um cobre-leito carmesim preso de um lado da sala. No meio do quarto, havia uma grande mesa intricadamente esculpida com várias cadeiras estofadas de aparência cara ao redor dela. Contra a parede oposta à cama, havia uma grande escrivaninha de mogno com o que parecia ser um diário de bordo aberto sobre ela. A parede dos fundos era quase toda composta por janelas que davam para a noite escura.

– Sente-se – Seonghwa comandou, gesticulando em direção a uma das cadeiras acolchoadas à mesa.

Hongjoong afundou-se na cadeira, olhando para o capitão pirata com expectativa. O homem olhou o menor de cima a baixo com seus frios e calculistas olhos escuros – Você está armado agora? – ele perguntou.

Hongjoong tinha uma pistola no cinto, mas não conseguiu usá-la durante o caos. Ele havia sacrificado as últimas balas para seus tripulantes, especificamente para aqueles que não teriam chance alguma apenas com suas habilidades de esgrima desajeitadas.
Kim retirou a pistola e a colocou cuidadosamente sobre a mesa antes de olhar para o pirata com expectativa.

– Mais alguma coisa?

– Não – Hongjoong respondeu.

– Se você estiver mentindo, arrancarei suas unhas uma a uma.

– Não estou.

Seonghwa assentiu, pegando a pistola e examinando-a brevemente antes de colocá-la em seu próprio cinto. – Bom –  ele disse, aproximando-se. Ele se inclinou sobre Hongjoong, apoiando-se na parte de trás da cadeira. – Agora vamos esclarecer algumas coisas. Você pertence a mim agora. Você é um prisioneiro, não um capitão, então não pense nem por um segundo que tem algum poder aqui. Você não me desobedecerá. Você não me desrespeitará. Você não mentirá para mim. Se o fizer, não hesitarei em puni-lo da maneira que eu achar melhor.

Dada sua ameaça anterior, Hongjoong temia que sua própria imaginação fosse suficientemente colorida para antecipar o que as punições do homem poderiam envolver. De qualquer forma, ele não estava ansioso para descobrir.

– Entendeu? – Seonghwa perguntou.

– Sim, Capitão – Hongjoong respondeu, evitando o contato visual.

– Excelente –  ele endireitou-se. – Agora, você vai ficar aqui enquanto eu supervisiono a transferência da carga para o meu navio. Se você não estiver aqui quando eu voltar, é melhor começar a rezar aos seus deuses para que eu lhe mostre misericórdia.

– Sim, Capitão –  ele disse novamente, observando o homem se virar em direção à porta. Então um pensamento cruzou sua mente. – Espere.

– O quê? – Seonghwa parecia irritado enquanto se virava para encará-lo.

– Como sei que você não vai massacrar minha tripulação agora que estão fora do meu campo de visão?

Seonghwa deu um sorriso que não fez nada para aliviar suas preocupações. – Acho que você terá que confiar em mim.

Hongjoong se levantou da cadeira, caminhando até o capitão pirata sem medo – Se você os machucar..

– Você tem minha palavra de que eles não serão feridos.

– A palavra de um pirata não significa nada para mim. Você não tem honra.

Seonghwa inclinou a cabeça ligeiramente, um sorriso divertido cruzando seu rosto enquanto olhava nos olhos do loiro. – Minha palavra é a única coisa em que você pode confiar agora, Kim. Sugiro que comece a fazer isso.

O menor franziu a testa, encarando o homem enquanto ele abria a porta e saía sem dizer outra palavra. Seus olhos fixaram-se na maçaneta da porta, contemplando brevemente uma fuga antes que as ameaças do pirata se repetissem em sua cabeça.

Além disso, para onde ele iria?
Para seu túmulo, muito provavelmente.

Sem saber o que fazer a seguir, mas sabendo que não podia ser isso, Hongjoong suspirou profundamente em colapsou e se sentou de volta na cadeira estofada. Ele observou as chamas na lâmpada de óleo sobre a mesa tremeluzir suavemente enquanto se esforçava para ouvir o que estava acontecendo lá fora. Infelizmente, não conseguia distinguir muitos sons, exceto pelos ocasionais gritos de ordens ininteligíveis pelo navio.

Ele debateu procurar por qualquer arma que o pirata pudesse ter escondido na sala, mas rapidamente chegou à conclusão de que Seonghwa o derrotaria mesmo que conseguisse pegá-lo de surpresa e todo o incidente provavelmente terminaria com algumas unhas faltando. Tremendo, decidiu ir contra isso, optando em fechar os olhos e tentar descansar alguns momentos antes que o capitão pirata retornasse. Ele precisaria de toda sua força para lidar com o homem.

O suave balanço do navio gradualmente embalou Hongjoong para o sono, embora seus sonhos fossem assombrados pelos rostos de seus tripulantes caídos e do vil capitão pirata.

Pirate's Heart, Siren's soul - SeongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora