XVI

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Era estranho como o mundo parecia mudar tanto à noite. Mesmo as cores mais vibrantes eram repintadas em centenas de tons de azul. As sombras se aprofundavam e escureciam, a luz diminuía até um brilho tênue e o céu, antes sólido, revelava milhões de sardas bioluminescentes. O Kim encontrava consolo na quietude que isso trazia para sua mente. Era uma paz que ele nunca encontrava durante o dia. O mundo monocromático entre o crepúsculo e o amanhecer falava com os sentimentos sombrios dentro dele e acalmava sua agonia até uma dor gerenciável.

Se tivesse que descrever, ele diria que durante o dia ele era capaz apenas de inspirar. Ao cair da noite, ele estava tão tenso de todo o seu tormento e luto interno que sentia como se estivesse sufocando. Afogando-se. Que se ele respirasse um pouco mais, ele explodiria. Mas com a noite vinha a expiração. O alívio. Ele podia simplesmente olhar para as estrelas e esquecer que tudo o mais existia. A vista atual de Hongjoong das estrelas era limitada por uma moldura retangular. Não era a de uma janela, nem de uma porta. Não. Esta moldura era esculpida de argila e areia e terra escura e profunda.

Paredes irregulares se estendiam acima dele de todos os lados e uma camada imóvel de rocha pressionava desconfortavelmente contra sua coluna. Em suas mãos, ele segurava o cabo de madeira de uma pá, que repousava sobre seu corpo como um buquê de flores silvestres. O suor brilhava contra sua pele, mas enquanto ele permanecia imóvel, sua respiração se acalmando e seus músculos cantando, sua pele começava a esfriar. Hongjoong fechou os olhos, os sons suaves da maré não muito longe quase o embalando para dormir. Ele estava tão cansado. Não apenas fisicamente, mas mentalmente também. Ele vinha lutando por tanto tempo. Lutando para ser forte. Para ser estável. Para estar bem quando o mundo parecia determinado a fazer dele qualquer coisa menos isso. Ele só queria dormir. Apenas por um tempo. Porque talvez então ele acordasse para um mundo que fizesse sentido. Um mundo que ele entendesse. Um mundo onde ele não estivesse sozinho. Então talvez ele pudesse sentir algo novamente. Algo mais.

– Kim! – Hongjoong abriu os olhos para ver o rosto sombreado de uma mulher infelizmente familiar espiando para ele. – Quando eu te disse para cavar uma cova, não quis dizer a sua própria – ela disse com um tom ligeiramente provocativo.

Com um grunhido, o loiro sentou-se e murmurou. – Eu estava apenas fazendo uma pausa.

– Não há tempo para pausas. É quase meia-noite. Venha me ajudar com isso – ela fez um gesto com a cabeça em direção à praia, algumas gotas de água do oceano voando de seus cachos curtos e pretos.

Com outro grunhido, Hongjoong enfiou sua pá no chão e a usou como alavanca para se erguer. Ele então jogou a ferramenta para fora da cova e a seguiu com um salto esforçado e uma escalada assistida. Yoona deu um tapinha em seu ombro enquanto ele se levantava mais uma vez, ofegante enquanto limpava sua roupa.

– O que diabos é isso? – Hongjoong respirou enquanto apertava os olhos em direção à costa. Uma massa escura e ominosa se destacava contra as ondas espumosas e deixava uma sensação de afundamento no estômago do homem.

– Tive que improvisar – Yoona deu de ombros, levantando suas saias e correndo em direção à sua captura de uma maneira nada delicada. Hongjoong a seguiu, mas parou de repente quando um fedor hediondo o atingiu como uma parede.

– Deuses! – Ele cobriu o nariz. – Por favor, me diga que isso não é o que eu penso que é.

– Você me disse que eu não podia matar ninguém – Yoona disse, aparentemente indiferente ao fedor – então teremos que nos contentar com isso.

– a quanto tempo ele está morto?

– Não sei – ela disse, franzindo o nariz – mas eu o encontrei em um naufrágio ao norte daqui.

Pirate's Heart, Siren's soul - SeongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora