Vários dias depois, Seonghwa entrou no quarto carregando a costumeira refeição de bolacha dura e mingau. Hongjoong estava encostado no poste da cama, seus olhos fixos na chama tremeluzente da lamparina a óleo sobre a mesa. O capitão pirata o observava com curiosidade enquanto colocava a refeição no local onde o rapaz geralmente comia – Você deve comer – disse ao perceber que seu cativo não tinha intenções de jantar.
Hongjoong não respondeu, manteve o olhar teimosamente fixo na chama. – Eu disse que você deve comer – Seonghwa tentou novamente, aproximando-se do homem. Sua frustração só aumentou quando o loiro mais uma vez não respondeu. – Não me ignore!
– Não estou com fome – finalmente falou.
– Como é?
– Não estou com fome... – repetiu, desviando seus olhos cor de mel para os castanhos escuros que não estavam muito distantes – ...de mingau.
– Então me diga. Do que você está com fome? – Hongjoong hesitou, incerto se seu plano realmente funcionaria ou não. Pensando que valia a pena tentar de qualquer maneira, decidiu arriscar.
– De você – ele suspirou. O rosto de Seonghwa se tornou cético por um momento, mas o menor não lhe deu tempo para refletir sobre isso, pois fechou a distância entre eles e pressionou seus lábios juntos. O loiro sentiu-se enjoado por suas ações, mas o Park parecia mais do que disposto a aceitar suas afeições, independentemente da intenção por trás delas. Ele retribuiu o beijo, aprofundando-o até que pequenas ondas eletrizantes desceram pelas pernas de Hongjoong, fazendo-as ficarem gelatinosas e dobrarem nos joelhos.
O moreno aproveitou a oportunidade para manobrar o menor para a cama, usando seu peso para prender o homem mais baixo no lugar. Tudo que Hongjoong podia sentir naquele momento era um calor intenso se espalhando por todo o corpo. Isso fez com que as camadas de tecido que ele vestia se sentissem apertadas e desconfortáveis, que também embaçou sua mente como uma bebida. Tanto que ele quase cedeu à sensação. No entanto, através da névoa que o capitão pirata parecia conjurar em sua cabeça, lembrou-se de seu propósito ao iniciar o contato. O único lugar onde Seonghwa mantinha armas que o maior podia acessar era consigo. Jogar seu jogo doentio era a única maneira que o menor conseguia pensar para chegar tão perto.
As mãos de Kim percorreram o torso tonificado de Seonghwa, disfarçando sua busca por armas como um ato de paixão. Ele tentou ao máximo não ser puxado de volta pelo feitiço do pirata. Era difícil, e ele culpou isso pelo fato de que fazia muito tempo desde que ele havia se deitado com uma mulher.
Seonghwa afastou-se dos lábios de Hongjoong, dando ao capitão mercante um momento para recuperar o fôlego enquanto ele descia pela curva de seu pescoço com uma fome voraz; um pequeno ruído escapou dos lábios de Kim e ele se repreendeu por seu momento de fraqueza. Ele precisava manter o foco.Assim que Hongjoong tocou o cabo de um punhal no quadril do pirata, Seonghwa afastou-se ligeiramente e o congelou com seu olhar. O coração de Kim parou, pensando que havia sido pego, mas Park apenas olhou para ele com uma expressão suave no rosto, uma que o capitão mercante ainda não tinha visto. Por um momento, Hongjoong quase acreditou que ele não era um monstro. Quase.
Quando o pirata inclinou-se para retomar seus lábios, Hongjoong fechou os dedos ao redor do punhal, arrancou-o do cinto do pirata e rapidamente cravou-o na coxa do homem. Era o único lugar que podia alcançar com o pirata pairando sobre ele. Um rosnado enfurecido escapou do pirata ao sentir a dor, mas o loiro não ficou para enfrentar as consequências. Ele empurrou Seonghwa para longe e rapidamente correu para a porta. Apesar do ferimento, o capitão pirata estava no seu encalço, e isso aterrorizava o Kim.Se um punhal na coxa não o parasse, nada além de matá-lo o faria.
Uma vez no convés, Hongjoong correu para a amurada mais próxima e usou o cordame para se erguer sobre ela. Estava totalmente pronto para se lançar na água gelada abaixo. O mantra de que preferia morrer repetia-se incessantemente em sua mente, mas alguma força invisível mantinha seus pés no lugar e até o levou a se virar para encarar o pirata enquanto ele mancava na sua direção.
– E o que você planeja fazer agora? – Seonghwa perguntou, uma mistura de raiva e curiosidade em seu tom enquanto parava a uma curta distância. Ele deu ao homem um pouco de espaço para não lhe dar mais motivos para pular.
– Eu prefiro me afogar do que ficar aqui com você.
– É mesmo? – inclinou a cabeça para o lado. – Bem, é uma pena que você não possa tomar essa decisão.
– Apenas veja – disse Hongjoong desafiadoramente enquanto soltava o cordame e começava a se inclinar para trás.
Ele esperava que o pirata o ameaçasse ou talvez até tentasse agarrá-lo antes que pudesse cair. O que ele não esperava era uma voz impossivelmente encantadora acariciar seus sentidos como um fogo quente em uma noite fria de inverno. Era uma melodia baixa e assombrosa em uma língua que ele não entendia, mas ele compreendia que era a coisa mais bonita que já ouvira. Seus dedos encontraram o caminho de volta ao cordame enquanto seus olhos procuravam preguiçosamente a fonte. Não conseguia se lembrar do que estava tentando fazer, mas achava que poderia esperar um pouco mais. O som era simplesmente etéreo demais para ignorar. A névoa voltou à cabeça de Hongjoong, entorpecendo suas intenções anteriores. Em algum lugar de seu cérebro confuso, ele registrou que o som hipnotizante vinha de Seonghwa. Os olhos negros inundaram sua visão até que tudo que ele conseguia pensar era no belo homem diante dele.
Ele queria se aproximar, mas seus pés estavam colados no lugar. Hongjoong sentia-se embriagado enquanto Seonghwa estendia a mão e lentamente se aproximava do local onde ele estava na amurada. No entanto, quando o pirata colocou pressão em sua perna ferida, a música foi brevemente substituída por um grunhido de dor. O momento proporcionou clareza suficiente para Hongjoong lembrar que estava tentando cair, e antes que pudesse perder o pensamento, ele se empurrou para fora da borda do navio.
– Não! – gritou Seonghwa enquanto corria para a amurada e observava Hongjoong atingir a água.
Xingando baixinho quando o mercante não deu sinais de reaparecer, o Park descartou seu pesado casaco e mergulhou atrás dele. Ele não se importava com as consequências, e tudo o que importava naquele momento era ter o homem de volta em seus braços.
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Pirate's Heart, Siren's soul - Seongjoong
FantastikOnde Kim Hongjoong e sua tripulação foram atacados pelo navio Stardew, um presságio de morte e perda conhecido por todos os marinheiros. Em troca de deixar o resto de seus homens vivos, o Kim faz um acordo com o capitão Park Seonghwa, um dos piratas...