IX

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Seonghwa ficou acordado até tarde da noite. Ele olhava para o céu estrelado e ouvia o crepitar da fogueira, mas tudo em que conseguia pensar era no homem encolhido na areia do outro lado das chamas.
O Park não tinha palavras para descrever como foi ser beijado por Hongjoong. Claro, seus lábios já haviam se tocado antes, mas não como daquela vez. Foi apenas um pressionar de lábios contra lábios, mas para Seonghwa foi tudo. Naquele breve momento, ele se sentiu completo novamente.

E ele não foi esfaqueado, o que era um bônus.

Os lábios do pirata formigavam com a lembrança dos lábios do mercador. Apesar da vista brilhante de estrelas infinitas acima dele, tudo o que ele conseguia ver era Hongjoong. Seu coração negro doía pelo que não podia ter, e ele amaldiçoava silenciosamente os deuses por tê-lo emparelhado com um homem que merecia muito mais.
O moreno virou a cabeça para olhar para o outro homem. O mais novo estava de frente para as chamas enquanto dormia, então o pirata conseguia discernir facilmente cada uma das impecáveis características do mercador à luz do fogo. Se Park tivesse que descrevê-las, usaria as palavras "suaves" e "fortes". Cada aspecto de seu rosto era distintamente masculino, mas faltavam as arestas ásperas e a severidade que apareciam no seu próprio rosto. Hongjoong parecia mais caloroso, mais amigável e mais gentil apenas pela maneira como parecia. Não conseguia distinguir claramente a suave salpicadura de sardas nas bochechas do mercador na iluminação fraca, mas sua memória não deixaria que ele as esquecesse tão facilmente. Ele conseguia ver o rubor das bochechas e do nariz do homem devido a uma combinação de álcool e tempo excessivo ao sol, embora achasse isso bastante cativante.

Quanto mais Seonghwa deixava seus olhos pousarem no mercador, mais seus pensamentos se aventuravam em território perigoso. Ele se forçou a olhar de volta para as estrelas enquanto memórias de beijos apaixonados e o homem debaixo dele ressurgiam. Apesar do prelúdio para seu último ferimento não ter sido seu melhor momento, ele encontrava sua mente voltando a essas cenas frequentemente. A ferida curada em sua coxa latejava como se estivesse lembrando da faca, mas isso foi logo esquecido enquanto sua mente desenrolava cenas do que poderia ter acontecido se seu companheiro não tivesse sido tão ansioso para matá-lo.

Não era um pensamento saudável, mas ele não podia evitá-lo. Ele era tão vulnerável ao maldito vínculo de alma quanto Hongjoong, se não mais. Ele suspeitava que esse vínculo era o culpado pelo momento de fraqueza do loiro na noite anterior, pois não conseguia conceber outra explicação plausível para o selinho.

Seonghwa virou de lado, longe tanto do mercador quanto das chamas, e tentou se livrar desses pensamentos. Eles não estavam fazendo bem a nenhum dos dois.
Às vezes, o pirata sentia como se Hongjoong fosse aquele que tinha cantado e que ele era o perdido num encanto. Era ridículo, ele sabia, mas nada mais explicava a ânsia dolorosa dentro dele. Tudo o que ele queria era estar mais perto de Hongjoong, e se negar constantemente isso doía muito mais do que qualquer ferida de faca poderia.

Mas ele estava fazendo isso por Hongjoong, e isso era o que tornava mais suportável. Suspirando profundamente, ele fechou os olhos e desejou que o sono o levasse embora da realidade.

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— Então, o que você fez? — o loiro perguntou enquanto mastigava seu café da manhã.

Seonghwa olhou cansado para cima, sem ter certeza do que o mercador estava perguntando. Embora não tivesse dormido bem, os hematomas de seu encontro da noite anterior já haviam desaparecido de seu rosto. Eles foram substituídos pelas olheiras escuras sob seus olhos.

Quando não respondeu imediatamente, Kim apontou para a mão enegrecida do pirata, que agora tinha tentáculos rastejando até quase seu cotovelo.

— É uma longa história — respirou, examinando seu braço afetado preguiçosamente.

Pirate's Heart, Siren's soul - SeongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora