III

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– Coma – ordenou Seonghwa, batendo com força uma refeição de bolacha dura e mingau na mesa em frente a onde Hongjoong dormia, assustando e acordando-o. Demorou alguns momentos para o de cabelos claros perceber que os eventos da noite anterior não tinham sido um sonho. Agora que o sol havia nascido e ele podia ver seu sequestrador mais do que apenas à luz do fogo, e era difícil negar a verdade. Ele era um prisioneiro agora e ainda não sabia exatamente o que isso significava.

– Você envenenou isso? – ele perguntou, cansado, esfregando a rigidez no pescoço por ter dormido em uma cadeira.

– Veneno é uma arma de mulher – respondeu o mais alto simplesmente, sentando-se à sua escrivaninha e se preparando para adicionar uma entrada ao diário de bordo do capitão. Ele, sem dúvida, estava catalogando a carga que havia roubado do navio de Hongjoong para saber quanto tinha para vender quando chegassem ao próximo porto.

O Kim ainda estava sonolento, então a resposta desinteressada do pirata foi boa o suficiente para que ele começasse a comer. Sem mais reclamações, ele mastigou a bolacha dura e levou a tigela aos lábios para sorver a substância semelhante a mingau. Ele não tinha certeza de quando receberia sua próxima refeição, então não desperdiçou nada, apesar do sabor insípido. Quando a última gota desapareceu, Hongjoong colocou a tigela de volta na mesa e olhou para o capitão pirata com curiosidade.

Seu cabelo era preto como as profundezas mais escuras da água abaixo deles. Ia até os ombros e era mantido fora do rosto por uma fita azul meia-noite na nuca, sua pele era levemente beijada pelo sol, mas poderia ser considerada clara quando comparada à maioria dos homens que passavam seus dias trabalhando a bordo de navios. Ele vestia um casaco de couro durável, mas desgastado, que havia desbotado de sua cor original. Parecia um cinza arenoso, embora retivesse tons do marrom profundo original em suas dobras. Suas botas com salto eram de um couro mais escuro e sua camisa, enfiada em calças pretas, ostentava um tom pomposo de azul-cinza. Ao lado dele, na escrivaninha, havia um chapéu tricórnio preto.
Terminando o diário, o capitão pirata virou-se para encarar seu prisioneiro. Seus dedos, adornados com todos os tipos de anéis e joias, estavam apoiados como um templo contra seus lábios enquanto parecia contemplar algo.

– Por que estou aqui? – Hongjoong perguntou quando o silêncio se tornou insuportável. Ele já tinha uma ideia, mas queria saber seu destino com certeza.

– Eu ainda não decidi – respondeu o pirata, deixando cair as mãos no colo enquanto continuava a estudar o homem.

– Eu não acredito nisso – o loiro disse, seus olhos estreitando-se em forma de acusação. – Você não parece ser um homem que faz algo sem pensar.

– Você está certo – suspirou ele, levantando-se. Hongjoong estava agradecido pela mesa que os separava enquanto o pirata colocava as palmas das mãos firmemente sobre sua superfície e fixava-o com seu olhar intenso. – Eu estava tentando poupar seus sentimentos, mas se você insiste em ser tão curioso, posso muito bem lhe contar.

O Kim olhou para o homem, o nervosismo florescendo em seu estômago enquanto o pirata pulava sobre a mesa e se abaixava na frente de onde ele estava sentado em um movimento suave. – Você está aqui para me agradar, Kim Hongjoong – ele disse, aproximando-se. Em pânico, o mais baixo se afastou da cadeira, abaixou-se sob os braços do homem e colocou o máximo de distância segura entre eles.

– O que você quer dizer com isso? – Hongjoong perguntou, sua preocupação evidente na voz. Ele sabia a resposta, mas precisava ouvi-la em voz alta. Apenas pela pequena chance de que não fosse o que temia.

Seonghwa moveu-se rapidamente, prendendo Hongjoong contra a parede para que ele não pudesse criar mais distância entre eles. Ele se inclinou e sussurrou no ouvido do Kim. – Vou tê-lo na minha cama antes que a quinzena termine.

O rosto de Hongjoong empalideceu. Não era segredo que homens que passavam meses ou até anos no mar muitas vezes levavam outros homens para a cama para satisfazer suas necessidades. Havia uma flagrante falta de mulheres no oceano aberto, então fazia sentido. Hongjoong estava esperando, rezando até mesmo para que não fosse essa a razão pela qual o Park havia feito um acordo por ele. Infelizmente, suas preces não foram atendidas, e ele pensava que estava preparado para fazer qualquer coisa para salvar sua tripulação, mas isso... ele não podia fazer isso.

– Não. Eu me recuso. Não vou me deitar com... com...

– Um homem? – Seonghwa sugeriu, observando sua reação com curiosidade leve – Você está com medo, Sr. Kim?

– N-não. – Sua voz falhou – Eu... eu apenas...

A boca do pirata se curvou em um sorriso divertido enquanto observava o homem lutar com as palavras, e seus olhos percorreram avidamente as características de Hongjoong, demorando-se em seus lábios. Ah, como ele queria um gosto de seus lábios. – Não se preocupe, querido – ele se afastou um pouco, mas o loiro ainda podia sentir sua respiração quente acariciar sua pele enquanto falava. – Posso ser um pirata, mas pessoalmente acho muito mais atraente quando ambas as partes estão dispostas. Vou tê-lo implorando por mim antes disso.

– Duvido disso – Hongjoong finalmente proferiu.

Seonghwa riu, traçando levemente seus dedos sob o queixo do homem. – Vamos ver, não vamos?

E então ele saiu da sala. O rapaz soltou um suspiro que não havia percebido que estava segurando e arrastou as mãos ansiosamente pelo rosto. Então, freneticamente, começou a procurar uma arma na sala. Não havia como ele ficar ocioso e deixar aquele homem fazer o que quisesse com ele. Ele preferia morrer. De preferência, tendo matado o vil pirata primeiro. Ele abriu cada gaveta da escrivaninha, vasculhando o conteúdo antes de passar para a próxima. Frustrantemente, tudo o que encontrou foi papel, frascos de tinta e uma variedade de penas. Ele tentou abrir a maior gaveta apenas para descobrir que estava trancada. Não havia chave à vista. Hongjoong se moveu para a cama, levantou os travesseiros e procurou sob o colchão, mas novamente não encontrou nada. Vendo um baú aos pés da cama, foi até ele apenas para descobrir que também estava trancado.

Ele se amaldiçoou por sua sorte. Não havia nada na sala que ele pudesse usar como uma arma adequada. O capitão pirata devia manter todas as suas armas ou consigo ou trancadas a chave. Desanimado, o Kim voltou para a cadeira acolchoada onde havia passado a noite e afundou-se nela. Não havia muito o que ele pudesse fazer agora, exceto pensar em um plano e esperar por uma oportunidade.

Pirate's Heart, Siren's soul - SeongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora