XII

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Camila tirou alguns dias para lamber suas feridas. Antes, ela havia se perguntado interminavelmente. Será que a maneira como quase flertavam uma com a outra era inocente ou intencional por parte de Lauren? O que estava acontecendo com aquele olhar: Camila imaginava seus olhos nela ou Lauren realmente olhava para o seu corpo? Mas depois da cena na sala da banda, ficou além de claro para ela. Camila se contorceu contra sua guitarra e cantou seu coração e Lauren apenas... aprovou levemente?

Se Lauren notou aCamila envergonhada e contida que emergiu depois da sala da banda, ela não mostrou muito. Seus sorrisos ainda eram calorosos, o contato visual ainda era prolongado, mas Camila parou de dar significado a isso. Sua nova amiga era uma pessoa calorosa e intensa. E ela não podia culpá-la por isso. Ela até se sentiu aliviada; talvez agora ela pudesse deixar essa paixão de lado da maneira que queria.

Nos dias seguintes, Lauren chegou para ficar com Tucker e Camila tinha o café pronto a esperando. Elas tomavam juntas e conversavam facilmente. Parecia agradável, doméstico e acolhedor. Depois, Camila ia para o estúdio, para trabalhar no que ela e Noah agora chamavam de a música do desejo, despejando toda sua angústia e desejo frustrado ali.
A música ainda se recusava a tomar forma, mas Camila não podia deixá-la ir. Havia algo ali, um vislumbre das profundezas de sua alma onde ela se perguntava se essa música poderia, de fato, ser a sua maior, a música que seria seu legado, se ela pudesse apenas manifestá-la. Isso assombrava seus sonhos, mas nem ela nem Noah conseguiam trazê-la à tona, não importava o quanto trabalhassem nisso.

Na quinta-feira, ela estava inquieta.

- Acho que vou dar uma volta - disse ela a Noah no meio da tarde. Ele a olhou com dúvida; o tempo tinha sido consistentemente miserável o dia todo.

- Quer companhia? - ele perguntou corajosamente.

- Oh, não, obrigada. Só preciso esvaziar a cabeça sozinha - disse ela apressadamente, liberando-o da obrigação.

Ela se enrolou em seu grande casaco azul-marinho de plumas e calçou suas botas, antes de seguir em direção ao lago. Seu rosto e mãos sentiram o impacto do vento gelado e ela enfiou os dedos profundamente nos bolsos para se proteger e abaixou a cabeça para evitar que os olhos lacrimejassem.

O lago estava cinza claro. As árvores agora estavam completamente despidas de suas folhas, aumentando o frio esparso da brisa. Para sua surpresa, ela viu Lauren ao longe, descendo o caminho do lago em sua direção. Lauren empurrava o carrinho à frente dela com a capa de chuva abaixada para proteger Tucker, mas a boca de Camila caiu quando percebeu que Lauren ainda estava apenas com sua jaqueta de couro.

- O que você está fazendo? - ela gritou assim que estavam ao alcance da voz uma da outra. Lauren estava pálida e visivelmente tremendo.

- Ele está bem - Lauren protestou, se aproximando. - Ele está com umas doze camadas e debaixo da capa de chuva. Provavelmente estou assando ele.

- Eu estou falando de você - Camila estendeu a mão e puxou a manga inadequada da jaqueta de couro - Por que você ainda não tem um casaco decente? Você deve estar hipotérmica! - Ela pegou o carrinho de Lauren e os apressou de volta para a casa, ignorando as reclamações constantes de Lauren de que estava bem.

- Você não está bem - Camila apontou assim que entraram na casa e ela mandou Lauren em direção à lareira. Lauren ainda tremia, mas parecia estar descongelando lentamente, a cor voltando às suas bochechas. - Isso é ridículo; nós vamos às compras.

Lauren parecia rebelde, mas Camila levantou a mão.

- Não posso perder minha babá para uma doença - ela anunciou firmemente, e um pequeno resmungo escapou da teimosa californiana - Agora, vou te comprar um maldito casaco e não há nada que você possa fazer a respeito.

Falls for CabelloOnde histórias criam vida. Descubra agora