prólogo.

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𝐍𝐎 𝐃𝐈𝐀 𝟗 de agosto, a casa dos Black foi inundada por um choro quase celestial. Hydra Lenne Black havia nascido, a quarta filha de Druella e Cygnus Black. Uma garotinha adorável, segundo todos. Herdou os mesmos olhos cinzentos de seu pai e os cabelos lisos e negros da mãe, com pequenas sardas que se espalhavam por seu rosto. Era uma criança sorridente, sua presença uma rara luz em meio à escuridão que rondava a mansão Black.

Dentre as irmãs, Andrômeda sentiu um vínculo especial com a pequena desde cedo. Enquanto Bellatrix se dedicava aos "afazeres" sombrios e Narcissa se isolava em seu próprio mundo, Andrômeda cuidava de Hydra com carinho e dedicação. A irmã mais velha tornou-se uma figura maternal, protegendo Hydra das sombras que pareciam se alastrar pela casa.

No mesmo ano em que Hydra nascera, Walburga, a irmã de Cygnus, deu à luz ao primeiro menino da terceira linhagem dos Black, Sirius. A notícia do nascimento de um herdeiro masculino trouxe à tona ressentimentos antigos. Druella, que deu à luz a uma menina meses antes, nunca sentira tanta raiva da cunhada ou de si mesma. Hydra foi a quarta tentativa da matriarca Black de ter um menino, claramente não sendo bem-sucedida. Ela e seu marido, Cygnus, brigavam constantemente por esse e outros milhares de motivos.

As discussões entre Cygnus e Druella eram constantes. Quase todos os dias, a mansão era palco de brigas ferozes sobre a herança dos Black, uma fortuna que lhes escapara devido à ausência de um herdeiro masculino.

— Você falhou, Druella! – Cygnus exclamou, o rosto contorcido de raiva. – Perdemos nossa chance por causa da sua insistência em tentar mais uma vez. Agora, tudo vai para Walburga, Orion e o filho deles.

— Não me culpe, Cygnus! – Druella retrucou, a voz afiada como uma lâmina. – Não fiz filha alguma sozinha. E agora estamos presos com mais uma menina inútil!

— Hydra não é inútil! – Cygnus respondeu ferozmente, erguendo a voz ainda mais. – Ela é nossa filha!

Druella bufou, desprezo evidente em seu olhar. – Pode ser sua filha, mas eu não a desejei.

Enquanto os gritos ecoavam pela casa, Andrômeda fazia o máximo para distrair Hydra. Pegava um livro de contos de fadas e começava a ler em voz alta, tentando abafar os sons da discussão que vinham do andar de baixo.

— Veja, Hydie – Andrômeda disse suavemente, apontando para uma ilustração encantadora no livro. – A princesa corajosa está enfrentando o dragão. Ela é forte e destemida, assim como você.

Hydra olhava para a imagem, os olhos grandes e curiosos, mas a sombra da briga continuava a pairar sobre ela. Andrômeda podia ver a preocupação na expressão da irmã mais nova e desejava poder protegê-la de toda a dor e conflito que permeavam a vida da família Black.

Naquela mesma noite, quando os gritos cessaram, Druella e Cygnus chegaram a um acordo. Hydra estava prometida ao herdeiro dos Black, Sirius. Com apenas seis anos, a garota tinha o destino inteiramente traçado por ganância e ambição. Andrômeda jamais poderia imaginar o turbilhão que aquilo causaria dentro da família tão nobre.

A situação, porém, parecia perfeitamente conveniente para todos os envolvidos. Sirius sempre fora avesso às regras impostas, algo notado por Walburga e Orion. Em contrapartida, Hydra era uma criança exemplar. Para Walburga, a influência de Hydra traria juízo a Sirius. Já Druella via na promessa um caminho para riquezas e status que jamais imaginara para sua filha.

Entretanto, nenhum deles poderia prever as consequências sombrias que essa promessa traria para a garota. Enquanto os Black vislumbravam um futuro de alianças políticas e riqueza, os laços familiares se esticavam perigosamente. A pequena Hydra, ainda inocente em seus risos infantis, estava prestes a ser envolvida em um jogo de poder e tradição que poderia moldar o curso de sua vida de maneiras imprevisíveis e dolorosas.



Quando Hydra cresceu, Andrômeda foi gradualmente afastada da família Black, sendo apagada da tapeçaria ancestral. A irmã mais nova era jovem demais para entender exatamente o porquê, mas sabia que aquele absurdo ficaria marcado para sempre em sua memória.

Era raro ver Andrômeda, quase nunca acontecia. Hydra sabia que ela tinha se casado com um rapaz, mostrado apenas em algumas fotos para ela.

— É o nosso segredinho, Hydie... Mamãe e papai não podem saber, okay? disse a irmã para Hydra enquanto se arrumavam para uma festa.

Mais tarde, Bellatrix descobriu sobre o romance da irmã com um nascido-trouxa e contou para os pais das meninas. Druella e Cygnus ficaram desapontados como nunca antes, mesmo quando tiveram a quarta filha.

Hydra tinha poucas memórias sobre o que aconteceu com Andrômeda depois disso, exceto pela despedida sorrateira no meio da noite.

— Se cuide, Hydra. Um dia, você entenderá tudo. Até lá, me mande uma coruja sempre que sentir saudades, sim? beijou a testa da pequena e desapareceu na escuridão da noite.

A única companhia que restou para Hydra foi Sirius, seu primo. Ele sempre foi mais extrovertido e descontraído do que ela, o que facilitava a amizade deles. Sirius a fazia rir, e ela era a única companhia que ele queria na mansão Black. Eles se complementavam, eram como irmãos.

As coisas mudaram quando descobriram sobre o acordo de casamento arranjado pela família. Sirius brigou com Walburga a noite toda, expressando sua indignação com a ideia de incesto para manter a pureza do sangue. Era repugnante, pensava ele.

Hydra passou a noite chorando sozinha em seu quarto. Narcissa tentou explicar, mas tudo soava ainda pior. Ela amava Sirius, mas nunca se casaria com ele.

Duas crianças de oito anos receberam a pior notícia de suas vidas, algo que parecia ser um destino inescapável.

A relação deles não ficou estranha por muito tempo. Sirius voltou a conversar com sua prima normalmente, e eles prometeram nunca mais tocar no assunto até que pudessem fazer algo para mudar isso. Cresceram juntos, compartilhando gostos, aspirações, ódios, desejos e pensamentos.

Ambos odiavam a família Black. Ambos odiavam o destino que lhes foi imposto e estavam determinados a mudar isso. Quando finalmente chegou a hora de irem juntos para Hogwarts, no primeiro ano, foi um sinal de que as coisas poderiam melhorar.

𝐔𝐍𝐁𝐎𝐔𝐍𝐃 ❜ 𝗿𝗲𝗺𝘂𝘀 𝗹𝘂𝗽𝗶𝗻Onde histórias criam vida. Descubra agora