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Chegando na casa da praia, Alicia desceu as coisas e arrumou tudo, colocando no armário. A sensação de estar lá dessa vez era diferente, era uma casa cheia de fotografias e memórias, uma casa enorme para a familia que, segundo German, teriam 26 filhos, um para cada letra do alfabeto. Mas dessa vez, tinha Alicia, Victoria e uma angustia sem fim.
Assim que Vic acordou, ela foi brincar com o comissário enquanto Alicia fazia macarrão para jantar, na verdade para a filha jantar, já que ela não comeu. A única coisa que teve forças para fazer além de dar o que comer e dar banho na filha, foi deitar e chorar mais. Ao entrar no quarto, Vic percebeu e correu para se deitar com a mãe e abraça-la.

V: O que foi, mami? — diz se aconchegando com a inspetora — Eu me comportei mal?

A: Não, mi amor. — acaricia o cabelo da filha — Você é perfeita.

V: Então o que foi? — se preocupa — O papai que te fez chorar? — Alicia não responde.

A: A mamãe é horrível, fez uma coisa muito feia. — coloca as mãos no rosto e volta a chorar — Vai brincar com o Comissário.

V: Não! Vou ficar aqui. — aperta mais a mãe — E mami, você é a rainha da casa, mesmo que erre é para o melhor da gente. — tira as mãos da mãe do rosto da mesma e se aconchega, sem querer caindo no sono e fazendo Alicia se sentir privilegiada por ter uma filha tão inteligente e compreensiva.

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Depois de uma semana, Vic e Alicia continuavam na casa da praia, Victoria ia para a casa da avó normalmente e depois voltava embora com a mãe, via o pai quase todos os dias, mas não ficavam muito tempo juntos.
Durante um dia de trabalho, que vinha sendo mais difícil que o normal, Prieto chamou a inspetora para poder conversar.
A ruiva bate na porta e entra em seguida, se sentando em frente ao chefe e o olhando com uma cara de cansada.

P: Alicia, o que aconteceu? — a encara, mas tentando ser compreensível — Você anda distraída, e sem ofensas, olha para você, cheia de olheiras, mais para lá do que para cá.

A: Estou ótima.

P: Não está. — rebate — É algo com o German? Vi que não estou se cruzando.

A: Ele descobriu.

P: Como?

A: Não sei, parece que foi uns policiais. — suspira — Estou cansada, Prieto.

P: Acho melhor você se retirar do caso.

A: Nem fodendo!

P: É o melhor. Assim você cuida de você e da sua filha, se ela estiver com você. — a inspetora coloca a mão no rosto e suspira, segurando a vontade de chorar — Esse caso vai continuar tendo seus créditos e ninguém vai te descobrir ou tirar algo de você — Alicia assente — Vai para a casa e descansa, daqui uns dias eu te chamo para que possa voltar a trabalhar.

A: Tudo bem. Obrigada, coronel. — diz baixo e sai da sala do coronel, andando um pouco e se sentando rápido numa cadeira que tinha ali perto, se sentiu um pouco tonta e parecia que iria cair a qualquer momento.

S: Tudo bem? — diz Suarez.

A: Sim... — suspira — Preciso ir buscar a minha filha.

S: Eu levo você até onde ela está, e se estiver melhor, você dirige até sua casa.

A: Gracias. — se levanta devagar e eles vão até o carro da ruiva, Suarez dirige para a casa da sogra da inspetora, ou ex sogra, ela não sabia explicar.

S: Aqui?

A: Sim. — desce do carro — Estou melhor, muito obrigada por me acompanhar.

S: Se precisar me chama. — a ruiva sorri — Me desculpe, mas... e o German?

A: Não quero falar sobre isso, Suarez.

S: Tudo bem, mas espero que você melhore.

A: Vou ficar. — se aproxima do portão e Suarez pega um táxi de volta para a delegacia.

Victoria corre para os braços da mãe e Alicia agradece a Merdeces por cuidar da pequena, mais uma vez.
Chegando em casa, elas fizeram uma tarde inteira de cinema, maratonando os desenhos da Disney. De noite, cozinharam uma pizza de calabresa juntas e Alicia não comeu, como sempre. Era raro sentir fome, havia emagrecido, o rosto estava mais fino e as olheiras mais profundas.
Enquanto assistiam a un desenho que passava na tv, Vic viu que Alicia estava dormindo e tentou acordar a mãe, não conseguindo de jeito nenhum, então pegou o telefone que estava por perto e fez uma chamada de video com German, coisa que havia aprendido faz pouco tempo.

- LIGAÇÃO ON -

V: Papi? — diz olhando para a mãe ainda, mas logo desvia o olhar para a tela quando German fala com ela.

G: Oi, minha princesinha! — sorri — Tudo bem?

V: Não. — fala com uma voz baixa.

G: O que foi, meu amor?

V: A mami não quer acordar, eu chamo e ela não responde.

G: Quanto tempo faz?

V: Não sei.

G: Sabe a ultima coisa que ela comeu? As vezes a comida fez mal.

V: Mami não come comida, só banana ou maçã as vezes.

G: Dios mio! Isso não pode filha. Por que não tenta dar algo para ela comer?

V: Ja fiz, dei até aquela coisa redonda que ela gosta de comer, dunts, mas ela não quis.

G: Donuts. — responde rápido — Vê se a mamãe está quente. — Victoria põe a mão na mulher e a sente fria, então nega com a cabeça.

V: Papi, estou com medo. — diz com voz embargada — Eu não quero que a mami morra. — começa a chorar.

G: Mi amor, aguarda um tempinho e eu já vou, ta? Deixa as pernas dela para cima, se conseguir. Vou desligar.

- LIGAÇÃO OFF -

German estava quase saindo do trabalho, então resolve ir socorrer a filha, na verdade a mulher, ex mulher, enfim, o mais rápido possível.
Aproveitou que seu amigo José, um piloto da policia, estava por perto e o levou até Valencia de jatinho da policia de Madri, o que acelerou totalmente a chegada dele.
Uma hora depois, finalmente pousou na cidade e pediu um Uber até a casa que sabia que Alicia estaria, batendo na porta e vendo que quem o atendeu foi Alicia, um pouco zonza.

G: Oi. — diz a observando, percebeu a perca de peso, o quão pálida estava e como isso ressaltava o olhar cansado da inspetora.

A: Ela está no quarto. — se vira e se senta no sofá, tentando achar uma posição confortável para descansar.

G: Eu vim para ver você.

LA OTRA MITADOnde histórias criam vida. Descubra agora