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Harry só conseguiu comer no dia seguinte e quando viu Amice mais uma vez, tentou conversar com ela, mas apenas recebeu um pedido para que não se metesse em mais nada. Ele queria respeitar o pedido dela, mas o próprio senso de justiça gritava em seu interior. Seus braços não sangraram mais e a dor agora era suportável. Hozack disse que a febre poderia permanecer por um tempo e ela provavelmente iria oscilar em idas e vindas mais intensas, ou não. Os pontos de sua cabeça foram tirados e ele ficou feliz de se olhar no espelho e não ver um grande estrago, já que era mais em sua testa que definitivamente em seu couro cabeludo.

Sua aparência não se tornaria algo pior por falta de cabelo numa pequena região.

As noites e dias pareciam se misturar. Ele pensou que estava naquele quarto há três dias no máximo, mas da última vez que perguntou a Amice, já haviam se passado oito. Ele só sabia que era noite quando as tochas estavam sendo acesas e o palácio se tornava um calabouço silencioso, vez ou outra passos de soldados passando por sua porta e cochichos e risadas dos homens.

Naquele momento, ele sabia, estava tarde da noite. Dormir o dia inteiro lhe roubava uma rotina decente, mas o lembrava de como eram os dias no bordel. Trabalhar até às cinco da manhã e dormir durante o período que o sol estava fora, virara algo comum. Harry se enrolou no lençol e desceu da cama, a pedra fria em seus pés foi um incômodo, mas ele apenas ignorou. Harry puxou a porta devagar numa tentativa curiosa e se surpreendeu quando a mesma se abriu.

Ele arregalou os olhos e esperou pelo primeiro impacto de homens com espadas o mandando dar meia volta, porém nada aconteceu e o silêncio prevaleceu. Harry se perguntou se por todo esse tempo a porta esteve destrancada ou se havia sido um descuido. Zayn não parecia alguém distraído de suas obrigações, de qualquer maneira. Styles se encolheu mais no conforto do lençol ao redor do corpo e encostou a porta atrás de si, saindo pelo corredor sem olhar para trás.

Harry virou na primeira entrada e saiu em um salão não tão grande como os que já viu, ele continuou andando devagar, o medo de ser visto e julgado como alguém bisbilhotando não lhe agradava. Estava parcialmente livre de uma execução e como se livrou dela parecia um milagre, ele com toda certeza não queria testar as chances que tinha.

Ao lado direito havia uma escadaria extensa e circulada a medida que subia, mas ele não foi por esse caminho, apenas continuou por outro corredor até achar a porta de saída. Harry iria dar um passo à frente, mas a silhueta de alguém passando porta afora o fez hesitar um passo para trás da parede, porém correu rápido o suficiente para segurar a porta à tempo de não fechar. A cena de um homem enroscado em um lençol que arrastava no chão, correndo pelo palácio, certamente era ridícula, mas o frio não lhe dava escolha. Ele quase xinga alto demais ao pisar do lado de fora e sentir o chão gélido do pátio.

Quando se deu por si, Harry já estava seguindo a pessoa que andava tão apressada quanto ele mesmo, reduzindo os passos quando grupos de soldados estavam passando e se escondendo atrás de paredes de pedra e madeira. Havia um cavalo em um tronco ao longe e certamente fora proposital, pois a pessoa ia em direção a ele. Harry pensou que fosse um prisioneiro escapando, pensou na própria brecha para uma fuga, mas não poderia sair dali sem sua irmã.

Por um descuido da própria mente, perdido em possibilidades perdidas, ele perdeu a pessoa de vista. O cavalo ainda estava lá, mas quem ele seguia não. Harry prendeu a respiração como se fosse ele quem estivesse fugindo e quando apertou o lençol no punho, cogitando apenas voltar e esquecer de sua curiosidade sem tamanho, sentiu o aperto de uma mão firme em seu ombro e então outra em seu braço. Em questão de meio segundo, uma perna passou uma rasteira nas suas e ele estava no chão de costas encarando as estrelas. Harry puxou o ar para os pulmões com dificuldade e tossiu fortemente, porém alguém cobriu sua boca.

The Last Great King {lwt+hes}Onde histórias criam vida. Descubra agora