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Harry não entendeu, ainda que fosse bem óbvio. Ele precisou se afastar ainda mais e pensar um pouco enquanto encarava o outro como se ele fosse um louco. William ainda mantinha uma carranca irritada e impaciente ao mesmo tempo que parecia hesitante quanto ao próprio pedido. Styles pensou que quanto mais sabia sobre aquele reino, menos as coisas faziam sentido.

- Eu não entendo. - Harry disse.

- Você se perdeu em que parte? - William perguntou com as sobrancelhas franzidas.

- Eu nem mesmo compreendi qualquer parte desta conversa.

William suspirou.

- Eu preciso que você finja ser meu companheiro. Recebi uma carta de Cartys sobre o noivado do príncipe e minha irmã. - Ele disse. - Estão velejando há três dias e estarão aqui em três semanas.

- Sua... o quê?! - Harry não conteve o tom alto quando ele veio.

- Charlotte, minha irmã. Você a conheceu. A chamo de Lottie. - Ele explicou como se fosse algo simples de digerir. - Sendo assim...

- O senhor está me dizendo que a menina de ontem era sua irmã? - Ele apertou o colchão e o latejar de seus pulsos fora mais familiar que nunca.

- Ela é. - Ele deu de ombros. - O que há de tão difícil de entender?

- Eu pensei que fosse sua... esposa. - Harry pigarreou e voltou a ficar de pé.

- Você escuta as fofocas com atenção, suponho. - Ele olhou ao redor mais uma vez, como se procurasse as palavras em qualquer canto do quarto. - O antigo príncipe, agora rei, precisa de uma rainha e um sucessor e eu preciso de terras e ouro.

- Não é possível que o senhor esteja vendendo a própria irmã. - Harry o fitou com o horror explícito.

- Eu não estou fazendo isso. - Ele devolveu a mesma expressão. - Estou evitando uma guerra e, nesse ínterim, evitando que meu povo morra de fome.

- De que maneira uma princesa poderá evitar tudo isso com apenas um casamento?

- A guerra em que meu pai morreu lutando foi contra o Norte. Ele teve Cartys como aliado com a condição de um casório entre os reinos e, assim, um futuro próspero para ambos. Nós perdemos, é claro. - William coçou a nuca parecendo desconcertado. - O Norte ficou com terras, exércitos e poder. Minha mãe, então, escondeu minha irmã por anos na esperança de não haver qualquer chance de um casório fracassado.

- Ela fez bem, não? - Harry indagou quando notou a tensão nele.

- Bem? - Ele arregalou os olhos parecendo ofendido. - Aquela desgraçada estava mantendo contato com os inimigos por anos. Ela não quis o casório entre nosso reino e Cartys, ela queria uma união com o Norte. Por anos eles mataram, estupraram, escravizaram, caçaram e roubaram terras com força bruta e militar. Guerras e mais guerras apenas para que houvesse derramamento de sangue. Nossas províncias, nossos aliados e até mesmo o meu próprio povo se voltaram contra mim por causa dela!
Ela daria minha irmã, eu e todo o resto de mão beijada para os inimigos e tudo isso seria deles hoje. Ela planejava reinar juntamente com Trevor e trazer toda a desgraça daquele reino para cá a troco de fama, poder e status.

- A última guerra foi há 10 anos. - Harry se ouviu dizendo. O chão abaixo de seus pés pareceu desaparecer. - Quantos anos sua irmã tinha?

- Nove anos. - Ele respirou profundamente. - Ela seria dada para o príncipe do Norte, filho de Trevor.

- Você tinha 25 anos quando tudo isso aconteceu. Por que não lutou na guerra? Não é assim que funciona?

- Eu me recusei. - Ele balançou a cabeça. - Era pra eu ter morrido lá e eu sabia disso. O casório entre Cartys e nosso reino iria acontecer logo após a guerra, entre eu e a quarta filha do rei Thomas.

The Last Great King {lwt+hes}Onde histórias criam vida. Descubra agora